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Roberto Midlej
Publicado em 2 de janeiro de 2016 às 16:05
- Atualizado há 2 anos
Quando vivia em Santo Amaro, há aproximadamente 50 anos, o baiano Paulo Costta, nascido em Bandeira (distrito de Itapetinga), foi aluno da escritora Mabel Velloso, 81 anos, irmã de Caetano Veloso e Maria Bethânia. >
Depois de sair de Santo Amaro, aos 10 anos, Paulo morou em Salvador, no Rio de Janeiro, São Paulo e na Ilha de Itaparica, até chegar à cidade de Toulouse, na França. Àquela altura, já tinha quase cinco décadas sem contato com os Velloso.>
Enquanto assistia, pela internet, ao programa Provocações, de Antônio Abujamra, Paulo ouviu o apresentador recitar o poema Circo (Lonas Estragadas), de autoria de sua primeira professora.>
Encantado com o texto e as lembranças despertadas pelo poema, decidiu musicá-lo, despretensiosamente. Ele não sabia que estava criando o embrião do álbum Meu Recôncavo - Samba e Poesia (Sony Music), todo com poemas de Mabel Velloso musicados por ele.(Foto: SF/Divulgação)“Gravei a versão que eu havia feito de Circo (Lonas Estragadas) e mandei para ela por meio do meu irmão, que entregou a Mabel”, lembra o artista. Alguns meses depois, Paulo veio à Bahia para participar, como músico, de uma festa que integrava a programação do Ano da França no Brasil.>
Mabel aproveitou que Paulo estava em Salvador e o convidou para participar de outra festa: as comemorações de 102 anos e três meses de Dona Canô. “Nessa época, comemoravam todo mês o aniverário dela”, recorda.>
ParticipaçõesMuito satisfeita com a gravação de Circo, Mabel convidou Paulo para fazer um álbum completo, somente com versões musicadas de seus próprios poemas. “Encarei aquilo como um aplicado aluno, que se dedica integralmente a um dever de casa”, brinca Paulo.>
Inicialmente, tentaram financiamento por meio de editais e patrocínios. Diante das negativas, Paulo foi gravando como podia, de forma independente e com o apoio fundamental de Moreno Veloso, produtor do disco e sobrinho de Mabel.>
Juntos, o músico, o produtor e a escritora foram pensando em nomes para participar do disco e assim chegaram a Maria Bethânia, Jaques Morelenbaum e Caetano Veloso, entre outros, que acompanham Paulo nas gravações.>
O resultado é um álbum muito marcado pelos sambas de roda, característicos de Santo Amaro. Mas há espaço também para o samba tradicional, o ijexá, a bossa e o maxixe. “Vejo muita influência de compositores baianos como Roque Ferreira, Ederaldo Gentil e Batatinha. Mas, de uma forma geral, o disco reflete o universo musical da época em que eu morava em Santo Amaro, quando a Bossa-nova começava a estourar na época”, contextualiza Paulo.>