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Em livro, filha de Nelson Rodrigues fala sobre juventude e busca de uma vida melhor

Sonia Rodrigues estará em Salvador no sábado (19) para participar do lançamento da Flica, na Caixa Cultural

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 16 de setembro de 2015 às 18:21

 - Atualizado há 2 anos

A escritora carioca Sonia Rodrigues, 59 anos, é autora de mais de 20 livros, entre romances e obras não ficcionais. Sua mais nova criação, Fronteiras (Nova Fronteira/R$ 40/ 336 págs.), conta a história de dois irmãos adolescentes, Letícia e Tomas, filhos de uma mulher que vai morar nos Estados Unidos, onde pretende juntar dinheiro para, mais tarde, levá-los para morar com ela.O romance ganha um tom de thriller, em que violência, sexo e drogas levam os personagens aos seus limites.

Doutora em literatura, a escritora já criou projetos dedicados aos jovens, como o Almanaque da Rede, plataforma digital que funciona como um jogo-laboratório de escrita criativa. Para essa mesma faixa, criou games educativos virtuais, que facilitam o aprendizado.

Sábado, Sonia estará em Salvador para participar, às 9h, na Caixa Cultural, da mesa literária Gente como Elas São, junto com o escritor baiano Victor Mascarenhas. O evento faz parte do lançamento da Flica - Festa Literária de Cachoeira, que acontecerá de 14 a 18 de outubro. Nessa conversa com o CORREIO, Sonia fala sobre seu novo livro, seus trabalhos com os jovens e o legado da obra do pai, o dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues (1912-1980).Sonia Rodrigues lança o romance Fronteiras e conversa com público baiano em evento, sábado, na Caixa (Foto: Sheyla Fotograffity/ Divulgação) Fronteiras fala sobre o abandono a que os jovens são submetidos. Você vê o jovem brasileiro hoje abandonado pela família e pelo Estado?Nós não temos uma política de apoio ao jovem, inclusive porque somos muito permissivos na aplicação das boas leis que existem. É ilegal explorar jovens e o que vemos são crianças pedindo esmolas e sendo alugadas por esmoleres. Ao mesmo tempo, vemos na classe média e alta certo abandono de regras de convivência, um clima de concessão aos filhos que não ajuda a criar bons cidadãos. Para piorar, nossa cultura costuma pregar a não interferência aberta na vida dos outros. Podemos falar mal dos vizinhos, mas dedurar para a polícia violência doméstica, não. Quem mais sofre com isso tudo são os jovens. Por que muitos brasileiros têm essa obsessão por viver o sonho americano, como a personagem de Fronteiras?Não sei se é obsessão pelos Estados Unidos ou desânimo com o Brasil. Lá, existe mais respeito à lei e o trabalho é melhor remunerado. Uma diarista lá ganha melhor e é mais respeitada do que uma professora aqui. Acho possível  que uma professora (conheço pelo menos uma) dê um tempo e resolva trabalhar como camareira nos EUA. Em Fronteiras, a mãe está subempregada no Brasil e fala inglês bem.

Fronteiras tem elementos de thriller. Que autores desse e de outros gêneros foram importantes para sua formação como leitora?Eu li muito Patricia Highsmith, Agatha Christie, Conan Doyle, Sthephen King, Ellery Queen, John Le Carré entre outros. Sou uma leitora apaixonada por Dickens  e pelos folhetinistas franceses, acho que isso significa que eu gosto de ler o texto com muita expectativa e tensão. Você escreveu numa coluna que tinha “medo” do Facebook, pela intolerância que seus usuários manifestavam. Mas você acha que as redes sociais são um fator que colaboram com a democracia ou podem prejudicá-la?Acho que o que contribui para a democracia é o respeito ao outro e isso que implica em mais respeito à lei, combate mais efetivo à desigualdade social, fim dessa mentalidade perniciosa que nós temos de esperar que o Estado resolva tudo. Numa sociedade desigual, individualista, preconceituosa e intolerante, as redes sociais vão repercutir isso. Agora, como tudo na tecnologia, depende de como os seres humanos manejam. Eu criei uma rede social de aprendizagem que foi chamada o “Facebook da escrita”. Pelo Almanaque da Rede, passaram 15 mil jovens que aprenderam a escrever (e a ler melhor). Na época da Teca Pontual (ex-gerente de projetos da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro), o Almanaque estava em 288 escolas. Foi só ela deixar a secretaria de educação no Rio que o programa foi suspenso. Isso prova, para mim, que as redes sociais funcionam, quando se faz bom uso dela. Mas prova também que num país como o nosso rede social depende de quem tem mais poder.Muito se diz que os jovens não leem ou, quando leem, leem mal. Suas experiências com esse público confirmam isso?Acho que os jovens no Brasil, especialmente os mais pobres, que são maioria, não são iniciados à leitura e à escrita para se expressarem sobre o que leram. Quando se trabalha direito com a leitura, eles leem.Há influência da obra de seu pai nos seus livros? Por que a obra de Nelson Rodrigues continua tão falada e encenada, mesmo depois de décadas de escrita?Não vejo influência dele em minhas obras. Admiro imensamente a obra de meu pai, conheço bem, mas somos escritores muito diferentes. Sempre que um autor  escreve sobre o que conhece e faz isso com profundidade, como Nelson Rodrigues fazia, suas histórias e seus personagens adquirem a capacidade de se comunicar com outras épocas e culturas. Isso se chama arte. Num texto seu, sobre a ausência de alguns convidados no lançamento de Fronteiras, você diz que escritores são carentes. Embora soe como brincadeira, tem um quê de verdade?Não sei se todos, mas eu, com certeza, sou carente desde pequena, caso contrário porque escreveria histórias para conquistar aplausos e flores? Porque dinheiro está fora de cogitação, as chances de viver só de literatura no Brasil são escassas. Então, tudo o que eu quero é divulgar meus livros para que conhecidos e desconhecidos os leiam, aplaudam ou critiquem, mas sejam tocados por eles.