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Bebidas importadas e até banheiro exclusivo: veja os privilégios que líderes do BDM tinham na PLB

Um dos traficantes que vivia no conforto era Geleia, acusado de vários homicídios, inclusive de um policial

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 21 de julho de 2025 às 05:30

Líderes do BDM tinham mordomias dentro da PLB
Líderes do BDM tinham mordomias dentro da PLB Crédito: Reprodução

Com uma rotina distante da realidade da massa carcerária, as lideranças do Bonde do Maluco (BDM) transformaram o Módulo V da Penitenciária Lemos Brito (PLB), em Salvador, em um verdadeiro hotel dentro da prisão. Eles tinham direito a uísque, perfumes importados, camas individuais, móveis planejados, televisão e até banheiro privativo.

As mordomias foram descobertas pela Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) em 2023, mas só vieram a público agora, após a abertura de um inquérito da Polícia Civil ao qual o CORREIO teve acesso com exclusividade.

O ponto de partida da investigação foi uma revista minuciosa no prédio após a fuga de sete presos em outubro do mesmo ano. A reportagem teve acesso a um vídeo, incluído na investigação, gravado no dia da revista. As imagens iniciam com um dos policiais penais encontrando uma garrafa de uísque Chivas Royal Salute 21 anos azul. A bebida custa em média R$ 850.

Em seguida, é possível ver na imagem armários, quatro camas de madeira, colchões, travesseiros, cadeiras, espelhos, um frasco do perfume 1 Million, dois ventiladores e televisão. A gravação mostra também que o ambiente é arejado e boa parte do chão é coberto por azulejos. No espaço, ainda há um banheiro com vaso sanitário e chuveiro. Na cela, havia também pelo menos dois espelhos, que são proibidos por questão de segurança, pois, quando quebrados, podem virar uma arma.

A PLB é uma das unidades do Complexo Penitenciário da Mata Escura e destina-se ao recolhimento de presos condenados ao regime fechado. Projetada para abrigar 878 presos, tinha, até o dia 14 de junho deste ano, segundo o próprio site da Seap, 1.427 internos - um excedente de 549 pessoas.

Segundo o inquérito, após a vistoria, a direção da Seap restaurou os padrões legais impostos pela legislação dentro da cela. Questionado, o ex-titular da pasta José Antônio Maia relatou que não tinha conhecimento das regalias. De acordo com ele, nunca tinha sido comunicado pela Superintendência de Gestão Prisional (SGP), nem pela diretoria da unidade, responsável direto pela massa carcerária. Ele afirmou ainda que as vistorias eram constantes nas celas. A SGP é coordenada por Luciano Viana e o gestor da PLB, Fabrizio Gama.

Geleia

De acordo com a investigação, uma das lideranças beneficiadas com as regalias era o traficante Fábio Souza dos Santos, o Geleia, que estampa hoje a carta Oito de Ouros do Baralho do Crime. Ele gozou dos privilégios até o dia 21 de outubro de 2023, quando fugiu com outros seis integrantes da facção por um buraco no módulo, atravessando a mata e chegando à Avenida Gal Costa.

O curioso é que, até uma semana antes, Geleia cumpria pena no Conjunto Penal Masculino de Salvador (CPMS), unidade do complexo mais moderna e de segurança máxima. Mas foi transferido para a PLB, um prédio sucateado. Na ocasião, quando na condição de diretor do CPMS, Clésio Rômulo Atanásio Sobrinho assinou a ida da liderança do BDM para a PLB, “conforme determinação da Superintendência de Gestão Prisional – SGP”.

À época, a Seap informou que foram realizadas mais de 3 mil movimentações de internos em Salvador e no interior do estado, em cumprimento à Lei de Execução Penal. A pasta disse ainda que a transferência do traficante fazia parte de uma movimentação de inteligência e considerava como estratégica e normal dentro da administração penitenciária por conta de uma concentração de lideranças.

Geleia é apontado como um dos responsáveis pela morte do policial civil Luiz Alberto dos Santos, ocorrida em outubro de 2017, na localidade de Jardim das Margaridas, em Salvador. O agente teve seu carro cercado por criminosos e foi executado a tiros.

Líderes do BDM tinham mordomias dentro da PLB por Reprodução

Investigação

O inquérito que apura as regalias é conduzido pela delegada Larissa Laje do Departamento de Combate ao Crime Organizado (Draco). A intenção é descobrir como funcionava o esquema e quem são os envolvidos.

Desde o início da investigação, já foram ouvidos o superintendente de Gestão Prisional, Luciano Viana; o diretor da PLB, Fabrizio Gama; o ex-secretário da Seap, José Antônio Maia; e o ex-diretor do CPMS, Clésio Atanásio, atualmente na direção da Colônia Penal Lafaiete Coutinho. Também prestaram depoimento o ex-chefe de inteligência da Seap, Artur Coresy - hoje gestor do CPMS; o ex-corregedor da secretaria, major PM João Henrique; o ex-diretor de Vagas, Marcos de Oliveira Maurício; além de outros dois diretores da pasta.

Posicionamentos

O CORREIO procurou a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública (SPBA) para saber sobre o inquérito que apura a fuga e as regalias no Módulo V da unidade, mas também não houve retorno. Já o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) apenas informou que em breve se posicionará.

A reportagem procurou a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP) na semana passada, mas não teve resposta. Porém, após a publicação da matéria, a SEAP às 11h deste segunda-feira uma nota dizendo que "as denúncias mostradas nas imagens são de 2023, referentes à gestão passada, do ex-secretário José Antônio Maia". A secretaria disse ainda que "atual gestão, liderada pelo secretário José Castro, não há espaço para regalias, pois foram implementados procedimentos operacionais para coibir irregularidades em todas as unidades prisionais do estado, bem como o aumento no número de inspeções nos presídios, que hoje acontecem quase que semanalmente".