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Gil Santos
Publicado em 25 de abril de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
A cada dez vagas oferecidas em faculdade particulares da Bahia, quase seis estão ociosas. O levantamento foi feito pelo site Quero Bolsa e divulgado anteontem, com base no Censo da Educação Superior, feito pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo os dados, a Bahia é o terceiro estado com maior número de vagas não preenchidas – são 56,8% de oportunidades perdidas - ou seja, só 43,2% são preenchidas.>
Em vagas ociosas, a Bahia fica atrás apenas do Rio de Janeiro (57,8%) e de São Paulo (57,3%). O percentual está acima até da média nacional, de 52,9%. O dado foi antecipado pela coluna Farol Econômico, do CORREIO. Para o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino Superior da Bahia (Semesb Abames), Carlos Joel Pereira, o motivo de tantas vagas em aberto é a burocracia que os candidatos enfrentam na inscrição do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e no Prouni.>
“Existem dois fatores que contribuem para essa ociosidade. Primeiro, o prazo para os candidatos apresentarem a documentação, que é muito curto. Segundo, falta disponibilizar os dados para as instituições de ensino trabalharem os potenciais candidatos aos cursos, apontando possibilidade de transferências de cursos ou horários, por exemplo”, afirma. >
EDUCA MAIS BRASIL OFERECE BOLSA DE ESTUDOS COM ATÉ 70% DE DESCONTO >
Proporção Na Bahia, são 108 faculdades privadas e 897.895 estudantes matriculados. De acordo com dados do Censo do Ensino Superior de 2016, as instituições privadas já respondiam por 75,3% do total de matriculados nos cursos de graduação de todo o país. Na Bahia, para cada estudante cursando a graduação presencial em uma instituição pública, há 2,2 em privadas.>
De um modo geral, o número de matrículas na rede particular de ensino superior caiu em 2016 com relação a 2015 – de 6.075.152 em 2015 para 6.058.623 em 2016. Segundo Carlos Joel Pereira, até 2014, o número de estudantes dessas instituições estava em crescimento no país - não era diferente na Bahia. Por isso, muitas faculdades fizeram reformas e ampliaram a capacidade de atendimento.>
Mas, depois das alterações do governo federal no programa, em 2015, houve redução na quantidade de candidatos – uma mudança que as faculdades não esperavam.>
Clique na imagem para ampliar Surpresa “Até o final de 2014, a demanda estava inflada por conta das muitas linhas de crédito que o governo oferecia. A partir de 2015, quando o processo do Fies foi revisto, as instituições começaram a sentir as mudanças”, explica o diretor de Inteligência de Mercado do Quero Bolsa, Pedro Balerine.>
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Desde então, instituições adotam medidas para tentar estancar os prejuízos. Uma delas é a redução no quadro de pessoal - a administração e docentes - e criando financiamento próprio para atrair novos alunos. Leiliane cursa o 9º semestre de Direito e está com dificuldades na matrícula (Foto: Marina Silva/CORREIO) A estudante de Direito Leiliane Melo, 35 anos, está no 9º semestre do curso. Ela tem 100% de financiamento e contou ao CORREIO que está enfrentando problemas para renovar a matrícula.>
“Tem muita gente que também tem enfrentado problemas. Caso eu perca o financiamento, terei que começar a pagar. Tem muita gente que não tem condições de arcar com a mensalidade. O meu contrato é de 100% e eu tenho que estar em cima para continuar, nem que seja por vias judiciais”, afirma.>
Mudanças A complementação da inscrição para os candidatos pré-selecionados da fila de espera do Fies encerra hoje. Este será o primeiro semestre após as mudanças anunciadas em dezembro de 2017. Na prática, mudaram as formas de financiamento.>
Agora, o programa tem três modalidades de incentivo e a escala de financiamentos varia conforme a renda familiar do candidato, chegando a 100% do curso (leia ao lado). >
Segundo o Ministério da Educação (MEC), estão previstas 310 mil novas vagas para 2018, sendo 100 mil a juro zero. O número oficial de estudantes que ingressaram no ensino superior através do Fies este ano será divulgado após a conclusão de todo o processo de inscrição.>
Em nota, o MEC informou que as gestões passadas deixaram o Fies com uma inadimplência de quase 50% e com um Fundo Garantidor que só cobriria 10% das despesas do programa.>
Ainda segundo o MEC, um diagnóstico do Ministério da Fazenda apontou que o ônus fiscal do programa em 2016 chegou a R$ 32 bilhões, valor 15 vezes superior ao custo apresentado em 2011. Por isso, o Fies mudou.>
“Se o programa se mantivesse como concebido e projetado, se tornaria insustentável, com o Tesouro Nacional e o governo federal sem condição de mantê-lo, o que provocaria o fim da política”, diz a nota. Parte das mudanças feitas em 2017 busca corrigir esses problemas, mas ainda não há números que comprovem se as alterações surtiram efeito ou não.>
Fies tem três tipos de financiamento Quem pretende usar o Fies precisa ficar atento para saber se está dentro do perfil do programa. A partir do primeiro semestre de 2018, o governo federal implantou três modalidades de financiamento que alternam de acordo com a renda do candidato.>
A primeira delas, chamada de Fies 1, seleciona candidatos com renda per capita de até três salários mínimos mensais. Nesse tipo de financiamento, o pagamento será feito a juros zero. São 100 mil vagas, sustentadas pelo Fundo Garantidor composto de recursos da União e aportes das instituições de ensino.>
Já a segunda modalidade, chamada de Fies 2, é para estudantes que tenham renda familiar per capita entre três e cinco salários mínimos mensais. São 150 mil vagas destinadas a alunos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com recursos dos Fundos Constitucionais e de Desenvolvimento.>
A terceira modalidade, classificada de Fies 3, também é destinada a estudantes que tenham renda familiar per capita entre três e cinco salários mínimos mensais, mas é para alunos de todas as regiões do Brasil. O benefício é custeado com recursos do BNDES.>
Além disso, o estudante vai começar a pagar as prestações da dívida após o curso e de acordo com a sua realidade financeira, ou seja, a parcela do pagamento vai variar de acordo com o rendimento do estudante.>
Outra mudança é que, antes, a dívida variava ao longo do curso, seguindo os reajustes da mensalidade. Agora, o candidato vai saber o valor total da dívida ao assinar o contrato.>
Além do Fies, quem sonha com a universidade pode usar outros caminhos para ingressar no ensino superior. O Sisu é uma alternativa. O sistema informatizado do Ministério da Educação reúne vagas em instituições públicas de ensino superior e as oferece para candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).>
Já o Prouni concede bolsas de estudo integrais e parciais de 50% em instituições privadas de educação superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica. Para participar é preciso que o estudante seja brasileiro e não tenha diploma de nível superior.>
Para entrar em cada um dos programas, os candidatos precisam ficar atentos aos prazos de inscrições. A nota do Enem é o critério usado para selecionar os candidatos. O período de inscrição do Exame começará no dia 7 de maio.>
Cinco cursos reúnem 36,7% dos universitários do país Além dos números de ociosidade nas vagas, a Quero Bolsa levantou os preços médios dos cinco cursos do ensino superior com mais alunos matriculados em dez capitais brasileiras: Direito, Administração, Pedagogia, Engenharia Civil e Ciências Contábeis. Juntos, eles somam 2,95 milhões de estudantes em instituições públicas e privadas, representando 36,72% dos universitários brasileiros.>
Em Salvador, o valor médio cobrado pelas instituições de ensino para cada um dos cursos no primeiro semestre de 2018 é listado de acordo com o curso: Direito (R$ 1.281), Engenharia Civil (R$ 1.128), Administração (R$ 780), Ciências Contábeis (R$ 728) e Pedagogia (R$ 569). O cálculo leva em conta os valores integrais das mensalidades (sem desconto) em cursos presenciais de 25 instituições de ensino superior pesquisadas.>
Bolsas com até 70% de desconto Diferente de outros programas que auxiliam os estudantes a continuar os estudos em faculdades privadas, o Educa Mais Brasil não estabelece uma faixa de renda máxima para conseguir bolsas de até 70% de desconto para cursos técnicos, de idiomas, de graduação e pós-graduação. >
Os únicos critérios exigidos para ter o desconto na mensalidade é não ter iniciado o ensino superior ou estar afastado por pelo menos seis meses. O candidato pode prestar vestibular para instituição, aguardar o resultado e se inscrever no programa - sempre se certificando se há bolsas disponíveis para a instituição de ensino desejada. >
De acordo com a diretora do Educa Mais Brasil, Andreia Torres, na Bahia cerca de 70% das instituições privadas participam do programa. Por semestre são oferecidos 55 mil bolsas em todo o estado. "O programa não é tão burocrático como outros. A nossa intenção é fazer com que as pessoas possam ter acesso ao ensino pagando uma mensalidade mais acessível. Beneficiar, por exemplo, aquele que pode pagar 50%, 70%, mas que 100% se torna impossível", explica a diretora. >
Cursos com mais alunos matriculados em Salvador e preços de mensalidades>
Direito R$ 1.281>
Arquitetura e Urbanismo R$ 1.238>
Enfermagem R$ 1.200>
Psicologia R$ 1.186>
Engenharia de Produção R$ 1.146>
Engenharia Civil R$ 1.128>
Educação Física R$ 902>
Administração R$ 780>
Ciências Contábeis R$ 728>
Pedagogia R$ 569>