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Gil Santos
Publicado em 12 de julho de 2024 às 14:34
A advogada Mariane Ferreira, 29 anos, e a estudante de serviço social Ana Alice Vinente, 31, se conheceram através de um aplicativo de relacionamento e a conexão entre as duas foi tão intensa que cerca de um mês depois elas decidiram morar juntas. Isso já fez seis anos. O operador de som Josenilson Góes, 57, estava trabalhando quando viu o cameraman Francisco Santana, 60, pela primeira. Naquele mesmo dia ele tomou coragem e puxou papo. Estão juntos há quatro anos. O que esses e mais 26 casais têm em comum é a luta contra o preconceito e a data do casamento. >
Nesta sexta-feira (12), o Ministério Público da Bahia (MP) realizou uma cerimônia que oficializou a união de 28 casais LGBTQIAPN+. O matrimônio foi registrado de forma civil e contou com uma benção ecumênica de um padre, uma mãe de santo, uma líder espirita e de uma pastora evangélica. O auditório do prédio, no Centro Administrativo da Bahia, ficou lotado e algumas pessoas precisaram assistir a cerimônia em pé. >
Antes do ‘sim’ noivos e noivas contaram que estavam ansiosos e que não dormiram direito de tanto nervoso, mas foi no momento do desfile até o altar que muitos não conseguiram segurar as lágrimas. Os choros contagiaram o público e provocou uma emoção coletiva. A entrada de Bernardo e Elivelton Santiago teve a participação de uma terceira pessoa. O pequeno Dayó tem apenas 22 dias e foi nos braços dos pais até o local da cerimônia. >
“Vi nas redes sociais a notícia de que teria esse casamento coletivo e resolvemos nos escrever. A gente queria tanto que nos escrevemos duas vezes. Fiquei muito feliz quando confirmaram. A nossa vida é um desafio, por ser um homem trans e preto e ele ser um homem gay temos desafios individuais, e agora com um filho que eu gerei enquanto homem trans o desafio é ainda maior”, afirmou Bernardo. >
O MP contou com a ajuda de parceiros para fazer a cerimônia. O espaço foi decorado com flores brancas, bolo de noivos, doces e salgados. Enquanto os convidados chegavam funcionários carregavam fardos de refrigerante para serem colocados no freezer. A promotora de Justiça e Direitos Humanos do MP, Márcia Teixeira, responsável pela ação, lembrou que o casamento homoafetivo é garantido por lei no Brasil desde 2011. >
“A partir do casamento civil temos acesso a direitos de família, para adoção, patrimonial, para ser dependente do companheiro ou da companheira no plano de saúde, o hereditário, enfim, uma série de direitos possíveis a partir desta certidão de casamento civil, como pessoas heterossexuais já fazem há muito tempo. Além disso, essa ação tem uma perspectiva simbólica nesse momento de tentativas de dissolver direitos da população LGBT e de oprimir manifestação de amor e afeto”, explicou a promotora. >
Essa foi a terceira edição do ‘Sim ao Amor’. O projeto foi lançado em 2016, mas não recebeu inscrições naquele ano. Em 2018, a segunda edição realizou o matrimônio de dez casais. Em 2024, o edital foi lançado em maio, 41 pares se inscreveram para a cerimônia e 28 reuniram a documentação e compareceram. A maioria dos casais que disse “sim” já mora junto e tem de 4 a 21 anos de relacionamento. >
O projeto já foi realizado também no interior, em cidades como Itabuna e Santo Amaro, e tem por objetivo vencer a burocracia para regularizar as uniões estáveis e oferecer garantias jurídicas aos casais homoafetivos. O DJ Juba Moreno e o autônomo David Michel foram uníssonos. “Precisamos celebrar toda forma de amor”, disseram. >
O ‘Sim ao Amor’ é realizado pelo MP através dos projetos institucionais MP+ Diverso e Viver com Cidadania, e conta com o apoio do Grupo Qualivida, da Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado da Bahia (Arpen-BA), da residência de idosos Abrigo do Salvador, da Comissão LGBTQIA+ do Poder Judiciário da Bahia (PJBA), da Ana Portuguesa Decoração, do Atakarejo e da Uber, entre outros. Em agosto, será aberto um edital para outro casamento coletivo. O evento será do Tribunal de Justiça da Bahia em parceria com o MP. >