Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Yasmin Oliveira
Publicado em 27 de maio de 2024 às 17:37
O 'buracão' com mais de 30 metros de profundidade no distrito Menino Jesus, em Cadeias, continua deixando os moradores acordados à noite. Mesmo após parte das casas interditadas serem demolidas, eles estão receosos com as mudanças climáticas, pois os moradores temem que um novo deslizamento ocorra e resulte em mais uma casa descendo até o fundo da voçoroca.
Duas famílias continuam em suas residências mesmo com a interdição da Defesa Civil. De acordo com a prefeitura de Candeias, o caso foi repassado para a Procuradoria Jurídica para providências junto às esferas judiciais.
“Quando chove, ninguém dorme, a gente pensa que é alguma casa desabando. Como os moradores já saíram dali, agora só cai mesmo toda vez que dá uma chuvinha. De sábado para domingo caiu um bom pedaço, porque ali tinha parte da tubulação das casas e não dá mais para ver”, diz Jocimeire Boa Morte de Brito, 43, que mora em frente ao buracão.
Todos os dias, desde a condenação de 38 casas ao redor do buracão, Antônio Carlos dos Santos, que mora perto da voçoroca, mas não corre risco de perder sua casa, visita a região para conferir se os vizinhos nos arredores precisam de algo. Ele conta que o problema começou há cerca de 25 anos e que um morador já chegou a plantar árvores de bambu na encosta de sua casa para tentar conter o avanço da erosão.
Atualmente, um medo dos vizinhos é de que criminosos se aproveitem do espaço vazio para se abrigar nas casas que ainda não foram totalmente demolidas. A prefeitura de Candeias informou que os moradores que saíram da região de risco estão recebendo o auxílio do aluguel social e seus imóveis foram demolidos pela equipe de Serviços Públicos (Sesp). No entanto, o líder comunitário Italo Neto relata que faltam serem demolidas dez casas.
Uma destas moradoras visitadas diariamente é a dona de casa Dejanira do Nascimento, 51, que decidiu ficar em sua casa até que seja construída uma nova moradia para ela e seus sete filhos.
“É difícil você sair de uma casa de oito vãos para entrar em uma de dois quartos pequenos, sala, cozinha e banheiro. Lutei tanto para construir isso aqui, passei noites em claro, passei fome para poder colocar isso aqui e hoje tem que largar para trás. Quando eles forem derrubar que vai ser pior. Eu não queria isso, queria que ela ficasse de pé até garantir mesmo que vamos ter outra casa, porque eu não quero sair do que é meu mesmo para um aluguel”, conta.
Dejanira ainda relata que mora na casa desde 2017, após ter seu antigo imóvel condenado dois anos antes. Desde a interdição, ela tenta dormir tranquila enquanto espera o aluguel social ou a construção de uma nova casa para ela, sem sucesso. Segundo ela, a previsão dada pela prefeitura de Candeias é de seis meses a um ano de aluguel enquanto o condomínio Vida Nova é construído.
Atravessando a rua da casa de Dejanira, as casas ainda não foram condenadas. No entanto, a vizinha Jocimeire acredita que é apenas questão de tempo se a situação da voçoroca não for resolvida, pois a erosão está começando a corroer embaixo das casas.
“Se a gente não tiver cuidado, vai tomar Menino Jesus. E é verdade, aqui não era assim, era um córrego pequeno e tinha muita casa onde já desceu. Os moradores foram indenizados, eram mais ou menos umas vinte casas”, explica a moradora.
Pelo risco eminente de desabamento, nenhuma das famílias poderá retornar ao local, mas o terreno para a construção do conjunto habitacional “Vida Nova” foi comprado pela prefeitura. Estão sendo feitas as medições com a empresa contratada para que nos próximos dias seja iniciado o processo de terraplanagem.
“Quanto ao processo licitatório para a construção do conjunto habitacional ‘Vida Nova’, o mesmo se encontra em fase final. Após a elaboração do projeto, de orçamento, pareceres jurídicos e de controle, o documento será publicado no Diário Oficial do Município (DOM), com previsão para esta quarta-feira (29)”, relatou o município em nota.
O prefeito Pitágoras Ibiapina (PP) afirmou ao CORREIO que foi feito um acordo de cooperação técnica com a Universidade Federal da Bahia (Ufba) para que seja realizado um estudo para descobrir o que ocasionou a voçoroca. A Ufba foi procurada, mas não foi identificado o acordo até o momento. A prefeitura afirma que os técnicos da universidade já iniciaram às tratativas sobre o tema.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro