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Comenda 2 de Julho é entregue para ativistas e lideranças sociais

A cerimônia homenageou figuras como João Jorge Rodrigues, Vovô do Ilê, Mabel Velloso e Maria da Penha

  • Foto do(a) author(a) Gilberto Barbosa
  • Gilberto Barbosa

Publicado em 16 de julho de 2024 às 22:25

João Jorge com a Comenda 2 de Julho
João Jorge com a Comenda 2 de Julho Crédito: Paula Fróes/CORREIO

O presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues, foi um dos 20 homenageados com a medalha da Ordem do 2 de Julho - Libertadores da Bahia, entregue na noite desta terça-feira (16). A cerimônia também homenageou figuras como o presidente do bloco Ilê Aiyê, Vovô do Ilê, a escritora Mabel Velloso, a ativista Maria da Penha e a sambista Dona Dalva.

A medalha é entregue para pessoas com atuação destacada na promoção da garantia das liberdades públicas e da soberania nacional, em homenagem aos heróis anônimos da Independência da Bahia. Os 20 outorgados foram divididos em duas categorias: Comendador e Cavaleiro. O evento foi realizado no Museu de Arte Contemporânea (MAC), no bairro da Graça.

Receberam a honraria de Cavaleiro: o presidente da Fundação Palmares, João Jorge Rodrigues; o presidente do bloco Ilê Aiyê, Vovô do Ilê; a escritora Mabel Velloso; a sambista Dona Dalva; a socióloga Eliana Rollemberg; a mestra artesã Maria do Carmo Amorim; a professora universitária Alda Muniz Pêpe; as ativista sociais Maura Titiah e Ivanide Santa Bárbara; o geólogo Gilberto Leal; e a farmacêutica Marilda de Souza Gonçalves.

João Jorge Santos Rodrigues é escritor, palestrante, produtor cultural e advogado. Mestre em Direito Público pela Universidade de Brasília (UnB), ele é um dos fundadores do Olodum, onde foi presidente por 40 anos e passou quatro anos no comando do bloco Ilê Aiyê. João também foi diretor da Fundação Gregório de Matos entre 1986 e 1998 e assumiu a presidência da Fundação Palmares em 2023.

"Essa comenda é para a luta pela igualdade. Todos nós, homens e mulheres, que lutaram pela liberdade e igualdade. Não é apenas a liberdade, mas também a igualdade. Isso significa o reconhecimento pela vida de vários militantes", disse João Jorge.

Antônio Carlos dos Santos Vovô é o atual presidente e um dos fundadores do primeiro bloco afro do carnaval baiano, o Ilê Aiyê, em novembro de 1974. Na época, o grupo surgiu com o objetivo de preservar as tradições africanas na Bahia e denunciar e combater o racismo no Carnaval de Salvador.

"É muito importante para a gente. Nós, que somos do movimento negro, estamos nessa luta há muito tempo por esse reconhecimento. Isso não é só para mim, é para todos os negros que vêm lutando. O Ilê é só um espaço, uma referência. Eu acho que as coisas estão começando a mudar, nós temos que continuar lutando, mas a Bahia tem que realmente começar a mostrar sua cara preta", comentou ele.

Maria Isabel Velloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo baiano. Filha de dona Canô e seu Zeca, Mabel atuou como professora e educadora e durante mais de 30 anos, onde ensinou às crianças o valor do conhecimento e a importância de saber ler e escrever. Ela também é escritora, cordelista e compositora.

"Foi uma honra muito grande que eu recebi hoje. Fiquei muito feliz com essa comenda. É uma coisa que eu não esperava", disse Mabel, emocionada.

Já o título de Comendador foi entregue para a ativista pela defesa dos direitos das mulheres Maria da Penha, o líder indígena Cacique Babau, o Afoxé Filhos de Gandhy, os ex-governadores Nilo Coelho e Antônio Imbassahy, o deputado estadual Adolfo Menezes, a desembargadora Cynthia Resende, a defensora pública geral do Estado Firmiane Venâncio, o chefe do Ministério Público Pedro Maia, o ativista social Naidison de Quintella Baptista e para a Sociedade Protetora dos Desvalidos.

Cacique Babau foi um dos mais celebrados no evento
Cacique Babau foi um dos mais celebrados no evento Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Com um manto do povo Tupinambá, o ativista indígena Cacique Babau foi um dos mais celebrados durante a entrega das medalhas. No palco, ele exaltou a importância dos povos nativos nas lutas pela Independência da Bahia. Nascido em 1974, Rosivaldo Ferreira da Silva é líder dos Tupinambás da Serra do Padeiro, no município baiano de Buerarema. A população local sofre com ataques de fazendeiros desde o começo da reivindicação pela demarcação das terras indígenas, no início dos anos 2000. Nesse período, Babau foi preso quatro vezes.

Maria da Penha Maia Fernandes é farmacêutica bioquímica e ativista pela defesa dos direitos das mulheres. Em 1983, ela foi vítima de uma dupla tentativa de feminicídio por Marco Antônio Viveros, seu marido na época. Os quase 20 anos de luta por justiça causaram a responsabilização do estado brasileiro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica praticada contra as mulheres brasileiras. O caso inspirou a criação da Lei Maria da Penha, em 2006.

"É uma honra receber essa comenda, mas o mais importante é saber que a minha luta resultou em uma lei que resgata a dignidade da mulher brasileira. Uma das minhas bandeiras é que seja implantado um centro de referência da mulher em todos os municípios para prestar o atendimento imediato e levar ela até a delegacia de proteção mais próxima. Essas iniciativas podem salvar a vida das mulheres interioranas", afirmou, em vídeo.

O afoxé Filhos de Gandhy foi criado em 1949 por estivadores do Porto de Salvador inspirado nos princípios de não violência e paz do ativista indiano Mahatma Gandhi. O bloco tem como característica o repertório com o ritmo africano ijexá, de origem nigeriana, e cânticos em iorubá.

"É muito gratificante ter esse reconhecimento. Sabendo da história do Gandhy, que nasceu em uma ditadura da década de 40, que está até o dia de hoje nessa resistência, fazendo essa participação no cenário baiano, no social, no carnavalesco. Então, para gente hoje é muito gratificante esse reconhecimento dessa grande honraria, que é a maior honraria do governo do estado da Bahia", comemorou Gilsoney de Oliveira, presidente do afoxé Filhos de Gandhy.

As medalhas foram entregues pelo governador Jerônimo Rodrigues, que enfatizou a importância de reconhecer os homenageados na cerimônia. "Eu espero que essa medalha seja um reconhecimento das pessoas que de fato lutam e resistem em momentos difíceis da vida, mas também que estimule a outros a reconhecerem nessas pessoas a oportunidade de continuar lutando, que não é apenas a independência de um estado, de um país, do seu conceito de soberania", declarou.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo