Veja como funciona a gravidez do homem trans

Processo exige alguns cuidados específicos

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  • Raquel Brito

Publicado em 3 de maio de 2024 às 07:45

Bernardo é o nono gestante acompanhado pela Maternidade Climério de Oliveira
Bernardo é um gestante acompanhado pela Maternidade Climério de Oliveira Crédito: Ana Lúcia Albuquerque/Correio

Para muitas pessoas, a ideia de que um homem pode engravidar ainda é nova. Entretanto, é possível e cada vez mais comum que homens transexuais – ou seja, que foram designados ao sexo feminino ao nascer – gestem.

A gravidez nesses casos, apesar de seguir o mesmo protocolo que a das mulheres cisgênero em muitos aspectos, tem particularidades e exige uma atenção específica. Uma das principais diferenças é o uso prévio de hormônios para adequação corporal, que deve ser suspenso durante o período da gestação.

“Há toda uma alteração que ocorre antes do gestar e que são fundamentais para o desenvolvimento de uma criança saudável e para a saúde da pessoa que gesta também. Às vezes existem alterações corporais que pode ocorrer durante esse processo, que não impedem de gestar e parir, mas que precisam de cuidados de um olhar especializado, que dá um cuidado seguro a essa população”, explica a superintende da Maternidade Climério de Oliveira (MCO), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), referência no acompanhamento de pessoas transexuais.

Outro fator é o aleitamento. Como muitos homens trans passam por mastectomia ou não têm interesse em amamentar, pode ser preciso que a amamentação seja feita pelo seu companheiro ou companheira, situação na qual, em Salvador, há assistência do banco de leite humano da MCO.

Andrea Novo, chefe da divisão de Gestão do Cuidado e Apoio Diagnóstico e Terapêutico da maternidade, reitera que o aleitamento é muito específico numa gestação trans. “A gente consultou a Rede Brasileira de Banco de Leites, fundamentou e trouxe a importância dessa questão da amamentação porque existe uma situação de insegurança alimentar gravíssima, já que os programas de fórmula não cobrem. É uma decisão construída durante a gestação”, diz.

A partir desta quinta-feira (2), a escolha poderá ser registrada na Caderneta de Pré-natal feita pela MCO em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), na qual constam questões específicas voltadas para a gravidez transmasculina, como as duas já mencionadas.

No campo jurídico, também existem desafios. Segundo Andrea, para os próximos passos dos projetos de acompanhamento, a maternidade consultará a Defensoria Pública e o Ministério Público, além do corpo acadêmico, para tirar dúvidas dos gestantes em relação à licença maternidade, por exemplo.

“Tem questões relacionadas ao direito previdenciário. No caso de alguém que seja MEI, digamos, e tenha o nome retificado, ele deve ter direito ainda assim à licença maternidade. Mas, se a parceria for amamentar, quem vai se afastar? Como vai se afastar? São os dois? Esses são tópicos que a gente ainda precisa avançar”, afirma.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.