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Monique Lobo
Publicado em 21 de abril de 2025 às 05:10
A participação feminina no mercado de trabalho cresceu significativamente desde o século XX e se intensificou nas últimas décadas. Em 2023, por exemplo, houve um recorde histórico de ocupação com 43.380.636 mulheres nos postos de trabalho, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílio (Pnad). Com isso, a busca por estabilidade profissional e a necessidade de independência financeira fizeram com que muitas mulheres escolhessem adiar a gestação. >
Desenvolvido em 1980, o congelamentos dos óvulos foi projetado para ajudar aquelas que tinham problemas de fertilidade. No entanto, a partir da segunda década dos anos 2000 passou a ser uma saída para quem não quer engravidar imediatamente, mas, também, não abre mão da possibilidade no futuro. De 2020 a 2024, houve um aumento de 46,7% no número de embriões congelados no país, de acordo com dados do Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O número pulou de 86.833 em 2020, para 127.455, no ano passado. >
Na Bahia não foi diferente. A quantidade de embriões congelados no estado saltou de 2.067 em 2020, para 2.593, em 2024. O que representou um crescimento de 25,4% no período. O estado é o segundo do Nordeste em número de embriões congelados, atrás apenas de Pernambuco. A região, por sua vez, responde pela terceira maior fatia dos casos (11%), atrás das regiões Sudeste e Sul.>
Recentemente, atrizes como Paolla Oliveira, Mariana Ximenes, ambas com 43 anos, e Tatá Werneck, com 41 anos, viraram notícia após afirmar que congelaram óvulos para ter a possibilidade de engravidar no futuro. Mas, esse não é um procedimento restrito às famosas, apesar de não ser barato. >
Na Bahia, que tem quatro Centros de Reprodução Humana Assistida (CRHA), de acordo com a Anvisa, o procedimento custa entre R$ 13 mil e R$ 16 mil, revelou a coordenadora do Centro de Fertilização Hospital Mater Dei Salvador, Dra. Wendy Delmondes, além de taxas de manutenção do congelamento no local escolhido. Além do Mater Dei, o estado conta com o Centro de Reprodução Humana, Endoscopia e Medicina Fetal da Bahia, o Bela Zausner Clínica de Reprodução Humana e o Ivi Salvador Medicina Reprodutiva, todos em Salvador. Pelo Sistema Único de Saúde, o método só é concedido a mulheres diagnosticadas com câncer. >
“O procedimento custa R$ 9 mil. Mais as medicações hormonais necessárias que tem custo estimado entre R$ 4 mil e R$ 7 mil, dá um total estimado nesses valores”, disse a médica. >
Como funciona>
Segundo a Dra. Wendy, para fazer o congelamento dos óvulos, é preciso, antes, fazer a estimulação ovariana. “Feita com uso de hormônios, com monitoramento por ultrassonografia para acompanhamento da evolução dos folículos ovarianos”, acrescentou. Só depois dessa etapa é feita a punção ovariana por via vaginal. “Que é feita sob anestesia, sem cortes, com duração média de 30 minutos. Ambas as etapas são seguras”, destacou. >
A idade ideal para buscar o procedimento é entre os 30 e 37 anos, afirmou a médica. “Porque as pacientes nessa faixa etária são mais propensas a ter óvulos de boa qualidade para o congelamento, enquanto também têm uma probabilidade relativamente alta de utilizar seus óvulos congelados”, explicou. Isso não significa que mulheres com mais idade não possam fazer. O congelamento dos óvulos pode ser feito tanto por mulheres mais velhas que essa faixa etária, quanto por mulheres mais novas, garantiu a Dra. Wendy.>
Além de ser indicado para quem quer adiar a gestação ou pessoas diagnosticadas com câncer, o tratamento também é utilizado para outras situações em que há risco de perda significativa na reserva ovariana, como condições genéticas, condições médicas como a endometriose, além da transição de gênero de homens trans . >
Depois de congelados, não há um tempo de validade, explicou a coordenadora do Centro de Fertilização Hospital Mater Dei Salvador. “Não há evidências que sustentem que óvulos congelados se deterioram com armazenamento de longo prazo. E a experiência clínica demonstra que eles podem ser armazenados de forma viável por décadas’, indicou. >
O tempo de congelamento, acrescentou Dra. Wendy, também não interfere na taxa de sucesso da fertilização. “O sucesso está impactado principalmente pela idade da paciente no momento da coleta de óvulos e do número de óvulos congelados”, disse.>
Outro mito é de que esse tipo de procedimento pode aumentar muito as chances de gestações gemelares. No entanto, a médica revelou que as taxas são comparáveis com óvulos frescos. Bebês vindos de óvulos congelados também não apresentam aumento em ocorrências de doenças congênitas. >
Após o congelamento, quando a mulher decide então engravidar, cada óvulo é fertilizado por Fertilização in Vitro (FIV) com o espermatozoide do parceiro ou de um doador. E daí vem o embrião, que são os óvulos fecundados. Posteriormente, eles são transferidos para o útero. Nem todos os óvulos descongelados vão resultar em um embrião, alertou a profissional. “Dos embriões resultantes, faremos a transferência para o útero com número máximo recomendado pelo CFM [Conselho Federal de Medicina]”, continuou a médica. O que sobrar, incluiu Delmondes, pode ser congelado. >
O Conselho Federal de Medicina estipula que, mulheres de até 35 anos podem ser transferidos até dois embriões; para aquelas com idades entre 36 e 39 anos podem ser até três embriões; já mulheres acima dos 40 anos podem receber até quatro embriões.>
Congelamento de sêmen é possível?>
É sim, apesar de ser muito menos difundido do que o procedimento feminino. Inclusive, é o método mais eficiente para preservar a fertilidade masculina. Segundo a médica do Hospital Mater Dei, não há limite de idades para quem busca congelar o semên, mas há limites de ordem médica. “O ideal é que seja feito antes do tratamento oncológico ou qualquer outra situação que possa comprometer a fertilidade, como cirurgias do aparelho reprodutor”, falou.>
Bem mais simples de coletar, geralmente feito através de masturbação, punção testicular ou biópsia de testículo, este procedimento é cerca de oito vezes mais barato que o método usado para as mulheres. Na Bahia, ele custa, em média, R$ 1,8 mil, além de taxas de manutenção do congelamento no local escolhido. >