Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Startup baiana é criadora do primeiro Super App, que integra, em uma única plataforma, todo processo de gestão e logística
Priscila Natividade
Publicado em 13 de agosto de 2023 às 05:00
São 16 anos no volante. A motorista Nina Brandão começou a trabalhar com transporte escolar até se tornar motorista rodoviária, prestando serviço para a plataforma de fretamento coletivo Buser e, ao mesmo tempo, administrar com o marido sua empresa de Turismo, a Vivitur. Aos fins de semana, ela roda o trecho Belo Horizonte-Caldas Novas, uma média de 750 km, sempre acompanhada do monitoramento do sistema de telemetria, presente em todo o trajeto durante a viagem, coletando informações de cada veículo sobre o seu comportamento no trânsito.
“A princípio, confesso que não tinha tanto conhecimento sobre o que era até ver os benefícios. Viajamos com mais segurança. Se o veículo para de se movimentar, imediatamente, a central já reconhece e liga para o motorista para saber se está tudo bem, pois muitas das vezes acontecem assaltos nas estradas e ninguém sabe onde o veículo se encontra. Nunca fui assaltada, porém, com esse recurso me sinto mais segura”, afirma.
Esse é só um dos recursos que estão disponíveis no aplicativo que une, em uma única plataforma, além da telemetria, mais soluções de monitoramento, videotelemetria, manutenção, check-list e abastecimento da frota de transporte. Tecnologia que, por meio de Inteligência Artificial (IA) e da Internet das Coisas (IoT), vai identificar o modo de condução desse motorista, comportamentos agressivos como o uso de celular, fadiga, se está fumando ou não, sonolência, distrações e, além disso, ainda faz toda a gestão do processo de logística.
Desenvolvido pela logtech baiana Infleet (@infleetoficial), o primeiro Super App de Gestão de Frotas de informações integradas do país já conseguiu conquistar um crescimento anual de 150%, chegando a alcançar investimentos na ordem de R$ 7,6 milhões. Essa análise, torna a plataforma capaz de gerar reduções de custo da ordem de 15% sobre o consumo de combustível e 60% dos acidentes, como destaca o diretor de operações e sócio da startup, Vitor Reis:
“O que a gente percebeu é que essa falta de produtividade no transporte e na logística tem causas de infraestrutura, mas também pela falta de tecnologia aqui no país. Tínhamos algumas soluções de transporte como rastreadores, sistemas de abastecimento e manutenção, porém, eles não conversam entre si até desenvolvermos o primeiro super app de gestão em frotas do Brasil”.
O diretor de operações da Infleet explica ainda que é muito comum, neste mercado, haver a necessidade contratar uma série de plataformas para resolver problemas relacionados à gestão de logística, como combustíveis, manutenções, monitoramento veicular, gestão de documentos e multas. Entretanto, a plataforma busca facilitar o dia a dia centralizando essas operações e atividades em uma aplicação acessível e de fácil usabilidade.
“Em geral, um gestor de frotas gasta 2h do seu dia manipulando planilhas a fim de obter dados. Além disso, é corriqueiro que nesse processo que sejam usados de 4 a 5 programas diferentes, um para cada demanda. Nós centralizamos essas informações, dando mais tempo a quem faz a gestão”, ressalta Reis.
A Lei do Motorista (Lei 13.103/ 215) regulamenta que todo profissional que realiza transporte de passageiros e de cargas estabelece o tempo máximo de duração da jornada de trabalho em 8 horas, podendo ser ampliada em 2 horas ou até 4 horas mediante acordo coletivo. A mesma lei dispõe também, que o motorista não pode ultrapassar o tempo de direção contínua superior a 5 horas e 30 minutos com um período de descanso de 30 minutos a cada 6 horas de trabalho.
Empresas como a Buser, Grupo SBF (Centauro), Vopak e Unimed já utilizam o aplicativo em suas operações de logística. Até o momento 540 clientes fazem parte da carteira da Infleet. O serviço tem mensalidades que variam de mensalidades que variam entre R$ 60 e R$ 250 reais por veículo. A analista de segurança da Buser, Taís Mascarenhas, reconhece o ganho que o super app é capaz de trazer para as empresas que atuam no setor. No caso da Buser, a ferramenta ajudou a mitigar os atrasos em viagens, monitorar a frota em tempo real e, principalmente, a aprimoramento a direção responsável dos motoristas parceiros.
“Reduzimos os nossos custos com telemetria em 65% e o índice de atrasos em 19%. Os motoristas relataram que o aviso sonoro do dispositivo os ajudam a manter-se dentro dos limites de velocidade estabelecidos durante as viagens. Qualquer tecnologia que contribua para reduzir acidentes deve ser aproveitada como uma vantagem significativa”, comenta.
A Buser atua na intermediação de viagens de ônibus e conta com mais de 300 parceiros, somando motoristas e viações maiores. Na alta temporada, a empresa chega a usar até 1 mil ônibus fretados. A empresa transporta uma média de 20 mil passageiros por dia em todo o país. “Os passageiros também acabam se beneficiando, já que com o monitoramento em tempo real da localização dos ônibus pela torre de controle, permite a detecção antecipada de possíveis atrasos. Além disso, tem toda questão de proporcionar uma viagem mais segura, visto que a Identificação e correção de excessos de velocidade entre motoristas parceiros promove condutas mais responsáveis”.
Também motorista parceiro do Buser, Wilson Aparecido dirige em rodovias há 15 anos. Ele costuma fazer o trajeto de 1 mil km que liga o Rio de Janeiro a São Paulo (ida e volta), revezando sempre com outro motorista. “A telemetria nos ajuda muito a ficar alerta no trânsito. Caso eu errar alguma coisa, vai corrigir. Isso é muito importante. A gente fica 100% ligado. Levamos vidas, precisamos ser prudentes e essa atenção é fundamental, principalmente, se estiver chovendo. A estrada fica muito perigosa”, afirma.
A Infleet nasceu em 2016, quando os sócios Henrique Amorim, Lucas Bastos, Victor Cavalcanti e Vitor Reis participaram de um programa da Renault Brasil, focado em ideias inovadoras aplicadas à mobilidade. “No ano seguinte vencemos também alguns outros prêmios e editais como o do CREA-BA. A partir daí, usamos a experiência que já tínhamos na indústria para criar o primeiro super app de gestão de frotas do Brasil, inspirado em soluções dos Estados Unidos”, conta o sócio e diretor de produto Lucas Bastos.
O desenvolvimento da plataforma começou em 2020, porém, segue em contínua evolução, como complementa Bastos: “Validamos bastante cada módulo adicionado ao nosso produto fazendo pequenas testagens até que tivessemos clareza sobre o que de fato resolvia as dores do setor. Nesse tempo, já entregamos reduções de horas extras de mais de 40% e um cliente teve uma redução de acidentes graves de 66%”.
Diretor-executivo da Infleet, Victor Cavalcanti reforça que a startup segue sempre investindo em inteligência artificial, análise de dados e IoT. “Nosso maior propósito é gerar informações úteis e com maior valor agregado, a fim de fornecer mais insumos para a gestão de frotas”.
A logtech se desenvolveu dentro do Parque Tecnológico da Bahia, reconhecido como celeiro de startups do estado. Selecionada no edital lançado no final de 2020 para participar do programa de incubação, no mês passado, a empresa foi graduada no programa de incubação da Áity Incubadora, tendo sido bem avaliada com relação à participação e entregas e por atingir um desenvolvimento satisfatório do projeto. Diretor comercial da Infleet, Henrique Amorim, ressalta a importância de fazer parte desse ambiente de inovação, onde hoje se tornou residente: “O Parque Tecnológico é um dos principais vetores de inovação da nossa cidade e estado, além de nos dar acesso a um vasto ecossistema de empresas de tecnologia”.
A gestão atual do parque é feita pela Associação das Empresas do Parque Tecnológico da Bahia (AEPTECBA). São 17 startups incubadas e outras 17 empresas de base tecnológica residentes no tecnocentro, conforme pontua a gestora de Inovação do Parque Tecnológico, Rafaela Rodrigues. “Uma das possibilidades é o nosso Programa de Residência, que através de chamadas de fluxo contínuo, as organizações podem submeter um projeto para ocupar fisicamente um espaço. Lançaremos uma nova chamada nas próximas semanas”.
Já para se tornar uma startup incubada na Áity é necessário submeter um projeto em um dos processos seletivos e concorrer a uma das vagas disponíveis. A seleção, no entanto, encerrou em julho. “Outra forma de fazer parte do Parque Tecnológico é através do nosso coworking, voltado para empreendedores e profissionais que atuam com ciência, tecnologia e inovação, que queiram trabalhar em um espaço colaborativo, de conexão e integração”, acrescenta.