Desabamento de prédio deixou nove famílias sem casa em Lauro de Freitas

Alguns imóveis foram interditados e aguardam nova vistoria

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  • Gil Santos

Publicado em 22 de maio de 2024 às 14:13

Local onde ficava o prédio Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A dona de casa Edna Rebouças, 40 anos, só teve tempo de retirar a televisão, o carrinho do bebê e um botijão de gás antes do prédio onde ela morava desabar em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana, nesta terça-feira (21). Nove famílias tiveram que sair de casa às pressas e 24 pessoas precisaram de ajuda da prefeitura. O acolhimento é realizado na Igreja Batista Jardim Castelão, na Rua José Rodrigues Santiago, onde a comunidade do Castelão está entregando doações.

Enquanto separava roupas doadas pelos vizinhos, Edna contou o drama que viveu na noite anterior, quando o prédio com três pavimentos em que ela morava ruiu. O imóvel ficava em uma ribanceira, o solo estava encharcado por conta do temporal que atingia a cidade e o desabamento começou de maneira parcial. Os primeiros sinais surgiram durante a manhã, quando a estrutura de concreto que ficava no quintal cedeu.

"A casa era alugada e já tinha muitas rachaduras. Por conta da chuva, começou a cair terra do barranco e eu fiquei preocupada. Fiquei fazendo as coisas de casa, mas toda hora chegava na janela para olhar a situação. Liguei para os órgãos responsáveis, mas eles disseram que não podiam fazer nada. A gente tinha que sair. Quando as rachaduras começaram a aumentar eu peguei os documentos, meus filhos e saímos", contou.

Edna Rebouças morava no prédio que desabou Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Era por volta das 19h30. O marido e os genros dela começaram a retirar os móveis enquanto a família aguardava na Rua Edson Gomes da Silva, no Castel, na chuva. Nesse momento, os vizinhos também já estavam em alerta. O barbeiro Claudemir Abreu, 22 anos, que mora no prédio ao lado, viu o exato momento em que a estrutura cedeu e correu o mais rápido que conseguiu.

"Estava na sala quando ouvi o barulho de vários estalos. Fui até a janela ver o que estava acontecendo e quando olhei o prédio já estava caindo. Saí com a roupa do corpo e mais nada. A gente já estava em alerta, porque desde o ano passado, quando abriu um buraco no barranco por conta da chuva, ficamos preocupados", disse.

No segundo pavimento do prédio que desabou, morava um casal. Eles também saíram ilesos. O terceiro pavimento estava sem moradores. Na fuga, as crianças conseguiram carregar Francisco, o gato, e Luna, a cadela que viviam com a família. Os escombros atingiram um prédio vizinho e bloquearam o acesso às casas que ficavam nos fundos do terreno, o que obrigou algumas pessoas a pularem os destroços.

Famílias separam roupas doadas pela comunidade Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Acolhimento

O pastor Pedro Rodrigues, da Igreja Batista Jardim Castelão, estava em casa quando o telefone tocou. Do outro lado da linha um amigo informou que um prédio havia desabado deixando famílias ao relento. O religioso foi até o local e ofereceu a igreja como abrigo. Sete famílias ficaram desalojadas, ou seja, foram para casa de familiares, e duas estão desabrigadas e vivendo na igreja.

"A gente colocou nos grupos das redes sociais o que estava acontecendo e a comunidade se mobilizou. Trouxeram roupas, alimentos, água e material de higiene. Uma parte dos colchões foi doada pela prefeitura e outra parte foi a própria comunidade que trouxe, além de lençóis. Isso é importante, porque as famílias perderam tudo", disse.

Ele contou que os sobreviventes chegaram a igreja abalados, lembrou de um garotinho hiperativo que precisa de acompanhamento médico e fez um apelo para que faculdades e outras instituições possam ajudar com psicólogos para atender as famílias. A prefeitura montou uma central de atendimento no templo, fazendo cadastros no aluguel social, cadastramento no programa Bolsa Família e encaminhamento para emissão de documentos.

A reportagem flagrou o momento em que moradores entregaram doações. Roupas, por exemplo, estão sendo entregues em sacolas separadas entre crianças, adultos, homens e mulheres. Enquanto o filho dormia no colchão ao lado, a dona de casa Edna escolhia quais roupas separar para a família de nove pessoas que perdeu tudo. Ainda com os braços machucados, com ferimentos provocados durante a fuga, ela sorriu e acolheu a reportagem oferecendo água ou suco. "A gente não pode perder a esperança. Essas doações são a prova disso", afirmou.

A prefeitura de Lauro de Freitas respondeu em nota. Confira na íntegra:

A Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas lamenta o ocorrido no bairro do Castelão e esclarece que prepostos da Secretaria de Trânsito, Transporte e Ordem Pública (Settop) estavam no local atendendo a solicitação, antes de ocorrer o desabamento. Não houve vítimas. A família foi retirada e abrigada em uma igreja próxima.

Técnicos da Defesa Civil já isolaram a encosta com lona e interditaram mais duas casas vizinhas, com a solicitação de evacuação imediata dos moradores.

A equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (SEMDESC) também foi deslocada para o local para prestar toda a assistência às vítimas. Já a Secretaria de Saúde enviou uma ambulância para avaliação clínica.

A Prefeitura destaca ainda que o serviço de colocação de lonas é gratuito e a população pode entrar em contato pelos telefones: 199 (24h) | 71 3288-8628 WhatsApp (8h às 17h) | 71 3369-6699 (8h às 14h).