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Em livro, ativista Cláudio Deiró relata ação solidária na pandemia

'Motoqueiro Esterilizado' reúne crônicas, canções e orações ouvidas durante cerca de 32 mil km rodados

  • R
  • Raquel Brito

Publicado em 15 de setembro de 2023 às 06:00

Lançamento de “O Motoqueiro Esterilizado e os Invisíveis” acontecerá no sábado (16)
Lançamento de “O Motoqueiro Esterilizado e os Invisíveis” acontecerá neste sábado (16) Crédito: Marina Silva

Em 2020, tempo em que o clamor era que as pessoas ficassem em casa devido à covid-19, uma figura de roupas brancas, máscara e capacete percorria Salvador em sua motocicleta. Cláudio Deiró, ativista ambiental de 56 anos, assumiu a persona de ‘Motoqueiro Esterilizado’ durante a pandemia, com o objetivo de ajudar quem mais precisava em um momento tão delicado. Três anos depois, ele apresentará ao público o livro gerado a partir dos relatos dessa experiência grandiosa. A obra de estreia de Deiró será lançada neste sábado (16), no Mercado CC, no Rio Vermelho, às 15h.

Com o início da pandemia, Deiró precisou buscar alternativas para continuar sustentando sua casa, que dividia com seus pais e seu filho. A saída foi fazer entregas: de remédios a feiras, ele ia aos quatro cantos da cidade por aqueles que não podiam. A maioria dos clientes fazia parte de algum grupo de risco, principalmente idosos ou pessoas com alguma doença crônica associada.

Entretanto, havia uma condição no seu modo de trabalhar. “Eu só prestava o serviço de delivery se houvesse doações. As doações vinham em forma de cestas básicas, álcool em gel, máscaras e, às vezes, dinheiro em espécie”, conta.

É dessas entregas que nasce o livro “O Motoqueiro Esterilizado e os Invisíveis”, uma coletânea de testemunhos e histórias do autor sobre as pessoas e situações que o atravessaram em sua ação social nos dois anos de maior intensidade da pandemia, do abandono e revolta à esperança. São crônicas, orações, frases, canções e pensamentos, reunidos em uma obra independente.

Durante os dois anos de maior intensidade do coronavírus, a rotina de Deiró foi a mesma: acordava ainda na madrugada, fazia orações aos orixás, organizava os donativos e seguia para as entregas, parando apenas para almoçar. Acabava o trabalho quase às 23h. Ao chegar em casa, a higienização e o cuidado eram redobrados, por conta dos pais idosos. Entre 2020 e 2022, foram aproximadamente 32 mil quilômetros percorridos.

Em um período desafiador como a quarentena, o ativista encontrou nas doações e na escrita um propósito. “[Foi muito importante] Documentar as histórias e transformá-las num testemunho em prol da vida, amor ao próximo e da caridade, indo na contramão daquela onda de tantas mortes, consequência do abandono e inoperância do governo federal na época. As pessoas atendidas me recepcionavam com enorme carinho e gratidão, e rendiam a conversa, me falavam as razões e motivos de morar nas ruas, o que faziam antes disso, sua formação”, diz.

O motoqueiro tem experiência com ações sociais. Presidente da ONG Paciência Viva, ele é responsável por mobilizações como campanhas de coleta seletiva em prol de catadores de materiais recicláveis, organizados em cooperativas. Na pandemia, continuou pondo em prática o costume de enxergar aqueles que são invisibilizados.

“Ao conhecer as histórias escritas no livro, me tornei uma boa aparição e um verbo de ligação entre quem quer ajudar e o necessitado. [É preciso] continuar a fomentar a caridade em espírito e as doações aos necessitados. E, também, lutar pela contratação dos catadores de materiais recicláveis pelo poder público”, diz Deiró.

À época, as conversas e histórias de vida eram publicadas nas redes sociais da ONG e começaram a ganhar um público fiel entre seus amigos. “Eu me emocionei com a história desde o início. Ele teve muita coragem para estar no dia a dia encontrando com pessoas que muitos não querem e fingem não ver mesmo sem pandemia, que são as pessoas em situação de rua”, diz o jornalista e escritor Franciel Cruz, responsável pela curadoria e edição do livro.

Para o motoqueiro, as doações e as conversas foram uma manifestação de espiritualidade. “Penso que os textos nasceram de acordo com os encontros. Mas vejo uma constante nos encontros descritos, que se baseavam na observância de um realismo mágico. Intercessões significativas e conexões pluralizadas completavam a certeza de que virei uma espécie de ‘argueiro’ conduzido por essa egrégora de fé, coragem e amor, praticando religares entre o recolhido e os ‘invisíveis’”.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo