Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gil Santos
Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 15:34
Há cerca de duas semanas parte do reboco do prédio onde funcionava o restaurante Colon, no bairro do Comércio, soltou. Funcionários de uma papelaria que fica ao lado do edifício, na Praça Conde dos Arcos, viram quando o pedaço de argamassa se espatifou na calçada deixando os tijolos a amostra e avisaram a Defesa Civil. Nesta quinta-feira (25), dois pavimentos superiores vieram abaixo, por volta de 12h, levando com eles um pedaço importante da história de Salvador. >
A promotora de vendas Rafaela Santos, 36 anos, contou que estava passando pela região quando viu as pessoas correndo e a nuvem escura logo atrás. “Eu só ouvi o barulho de tudo caindo, as pessoas correndo e depois muita poeira. Teve uma senhora idosa que ficou toca coberta de pó, mas ninguém ficou ferido. Foi só o susto mesmo”, afirmou. >
Uma funcionária da papelaria disse que primeiro caíram algumas partes de reboco, que as rachaduras aumentaram e, em seguida, parte do prédio ruiu. Ela estava na frente do edifício e contou que escapou por pouco. No momento do acidente, o engenheiro da Defesa Civil José Casqueiro estava ampliando a faixa de isolamento que tinha sido colocada no dia anterior durante uma vistoria da Codesal. >
“Eu estive no local, pela manhã, com técnicos do Iphan para avaliar o prédio. Decidimos que a melhor alternativa seria escorar a estrutura. No final da manhã eu retornei e percebi que a calçada estava cheia de pedrinhas e pedaços de reboco. Isso era o indício de que a estrutura estava cedendo. Decidi ampliar a área de isolamento e foi nesse momento que o prédio caiu”, contou. >
Além do térreo, existia mais dois pavimentos superiores e o sótão. Os dois últimos ruíram. O prédio estava vazio e já apresentava diversas rachaduras, em alguns trechos o reboco tinha caído e em outros havia vegetação, um indício de que as paredes estavam com infiltração. No dia 8 de janeiro, um pedaço grande do reboco que ficava na lateral do edifício, entre o térreo e o primeiro andar, soltou. Nesta quarta-feira (24), a Codesal fez uma vistoria e decidiu interditar a rua em frente, tanto para carros como para pedestres. >
Durante 107 anos, o prédio serviu como sede do restaurante Colon, famoso na cidade, mas era alugado. Em 2021, depois de receber uma notificação da Defesa Civil e em meio a crise provocada pela pandemia, o estabelecimento encerrou as atividades e devolveu o imóvel ao dono. Agora, a opção de escorar o que sobrou foi descartada. Segundo o diretor geral da Codesal, Sosthenes Macedo, a melhor alternativa é demolir. Atualmente, a pasta monitora a situação de cerca de 3 mil casarões na cidade. >
“Essa é uma área que estamos monitorando há muito tempo. Em 2020, fizemos a primeira notificação para que o proprietário e os responsáveis pelo restaurante Colon tomassem as providências legais de recuperação baseada na Lei de Manutenção Predial, mas infelizmente nenhuma providência foi tomada. Fizemos novas vistorias e no período da Lavagem do Bonfim a região foi isolada”, explicou Sosthenes.>
A Defesa Civil informou que não há necessidade de interditar os imóveis próximos. O prédio que caiu fica na esquina, entre a Praça Conde dos Arcos e a Rua Conde D’Eu. Ao lado fica uma papelaria, onde trabalham dez funcionários, e nos fundos um prédio colonial que está desocupado. >
Em nota, o Iphan informou que tem um processo aberto de fiscalização, desde 2022, para apurar possível degradação do imóvel, que está em área tombada pelo órgão. O Instituto disse também que o prédio está em estado de degradação e que por se tratar de imóvel particular, a responsabilidade pela conservação de bens tombados é dos proprietários.>
"O Iphan vem acionando órgãos públicos a fim de se ter os nomes dos proprietários do bem para adoção das medidas cabíveis, podendo gerar multa, em caso de negligência. Houve informação recente sobre o nome do proprietário e o auto de infração está sendo emitido em seu nome", diz a nota enviada pelo Iphan.>
Procurada, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) informou que vai notificar o responsável pela edificação. "De acordo com o Código de Polícia Administrativa de Salvador (Lei nº 5503/99) e com o Decreto Municipal nº 13251/01 é dever do proprietário zelar pela unidade imobiliária e realizar a manutenção preventiva e periódica das edificações", diz a nota.>
Já a Transalvador interditou a Rua da Holanda, na Praça Conde dos Arcos. A orientação para os motoristas é seguir pelo contra fluxo, ou seja, na contramão, na Rua Alvares Cabral. Agentes do órgão estão no local para orientar condutores e pedestres. O desabamento ocorreu após chuvas intensas em Salvador. >