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Yasmin Oliveira
Publicado em 21 de março de 2024 às 05:00
Apesar de liderar o governo no Senado Federal, Jaques Wagner (PT) tem adotado posturas e discursos distintos dos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A divergência mais recente aconteceu no início deste mês quando o ex-governador da Bahia voltou a defender publicamente o fim da reeleição no País, e a coincidência das datas das eleições municipais, estaduais e federais. >
O presidente é a favor da recondução com o argumento de que um mandato de cinco anos, como querem os senadores, é pouco para governar e entregar grandes obras. Na campanha de 2022, Lula chegou a dizer, no entanto, que não disputaria a reeleição. “Se eleito, será um presidente de um mandato só”, declarou, na época. O chefe do Palácio do Planalto mudou o discurso e afirmou no ano passado que, “se chegar em um momento que tiver situação delicada e eu estiver com saúde”, ele tentará mais um mandato. >
A posição de Wagner contrária à reeleição gerou, inclusive, atritos com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que já classificou a ideia do senador como “oportunista”. “Por que é oportunista? Na proposta que está apresentada só os eleitos em 2030 ou em 2028 na eleição municipal, só esses estariam cerceados com o mandato de cinco anos. Quem se eleger em 2024 ou 2026 teria o direito de se eleger em 2028 ou 2030. Não está ceifando ninguém”, afirmou. A deputada Gleisi ressaltou que o posicionamento de Wagner não corresponde ao do PT. >
Outro momento de desarmonia entre o senador da Bahia e Lula ocorreu após o presidente fazer uma comparação entre a morte de palestinos na Faixa de Gaza e o extermínio de judeus na Alemanha nazista. “Não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação, porque fere sentimentos, inclusive meus, de familiares perdidos naquele episódio”, disse Wagner, no plenário do Senado, ao condenar a fala do chefe do Planalto. Ele tem ascendentes judeus.>
Por causa da comparação, Lula foi declarado como "persona non grata" em território israelense até que se retrate pelo teor do comentário, algo que não ocorreu até o momento. >
Com fama de ser uma das poucas pessoas com liberdade para apontar os erros do presidente, no meio do ano passado, Wagner procurou Lula para alertá-lo sobre a insatisfação de companheiros com as atitudes da primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja. O chefe do Planalto não reagiu bem e disse para o senador não repetir a crítica para preservar a relação de amizade entre os dois, segundo o jornal o Estadão. >
Em novembro do ano passado, Lula voltou a mostrar dissintonia com o correligionário. Depois de Wagner votar a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita poderes do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente se queixou por não ter sido avisado da posição do amigo, sendo surpreendido com seu voto. O líder do PT, senador Fabiano Contarato (PT-ES), orientou o partido a votar contra a medida. A proposta foi aprovada em dois turnos por 52 votos a 18 e seguiu para a Câmara dos Deputados.>
*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva>