Fora de sintonia: Wagner e Lula se opõem em falas e posições

A divergência mais recente aconteceu no início deste mês com o apoio do ex-governador pelo fim da reeleição

  • Foto do(a) author(a) Yasmin Oliveira
  • Yasmin Oliveira

Publicado em 21 de março de 2024 às 05:00

Os políticos são amigos pessoais há 45 anos
Os políticos são amigos pessoais há 45 anos Crédito: Alessandro Dantas/PT-SF

Apesar de liderar o governo no Senado Federal, Jaques Wagner (PT) tem adotado posturas e discursos distintos dos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A divergência mais recente aconteceu no início deste mês quando o ex-governador da Bahia voltou a defender publicamente o fim da reeleição no País, e a coincidência das datas das eleições municipais, estaduais e federais.

O presidente é a favor da recondução com o argumento de que um mandato de cinco anos, como querem os senadores, é pouco para governar e entregar grandes obras. Na campanha de 2022, Lula chegou a dizer, no entanto, que não disputaria a reeleição. “Se eleito, será um presidente de um mandato só”, declarou, na época. O chefe do Palácio do Planalto mudou o discurso e afirmou no ano passado que, “se chegar em um momento que tiver situação delicada e eu estiver com saúde”, ele tentará mais um mandato.

A posição de Wagner contrária à reeleição gerou, inclusive, atritos com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que já classificou a ideia do senador como “oportunista”. “Por que é oportunista? Na proposta que está apresentada só os eleitos em 2030 ou em 2028 na eleição municipal, só esses estariam cerceados com o mandato de cinco anos. Quem se eleger em 2024 ou 2026 teria o direito de se eleger em 2028 ou 2030. Não está ceifando ninguém”, afirmou. A deputada Gleisi ressaltou que o posicionamento de Wagner não corresponde ao do PT.

Outro momento de desarmonia entre o senador da Bahia e Lula ocorreu após o presidente fazer uma comparação entre a morte de palestinos na Faixa de Gaza e o extermínio de judeus na Alemanha nazista. “Não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação, porque fere sentimentos, inclusive meus, de familiares perdidos naquele episódio”, disse Wagner, no plenário do Senado, ao condenar a fala do chefe do Planalto. Ele tem ascendentes judeus.

Por causa da comparação, Lula foi declarado como "persona non grata" em território israelense até que se retrate pelo teor do comentário, algo que não ocorreu até o momento.

Com fama de ser uma das poucas pessoas com liberdade para apontar os erros do presidente, no meio do ano passado, Wagner procurou Lula para alertá-lo sobre a insatisfação de companheiros com as atitudes da primeira-dama, Rosângela da Silva, conhecida como Janja. O chefe do Planalto não reagiu bem e disse para o senador não repetir a crítica para preservar a relação de amizade entre os dois, segundo o jornal o Estadão.

Em novembro do ano passado, Lula voltou a mostrar dissintonia com o correligionário. Depois de Wagner votar a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita poderes do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente se queixou por não ter sido avisado da posição do amigo, sendo surpreendido com seu voto. O líder do PT, senador Fabiano Contarato (PT-ES), orientou o partido a votar contra a medida. A proposta foi aprovada em dois turnos por 52 votos a 18 e seguiu para a Câmara dos Deputados.

*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva