Governo Jerônimo persegue os pacientes de Salvador na fila da regulação, diz líder da oposição na Alba

Deputado estadual Alan Sanches (União Brasil) disse que  as pessoas da capital baiana, que aguardam na fila da regulação, “são as últimas a serem transferidas”, e “não são prioridade”

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  • Millena Marques

Publicado em 27 de maio de 2024 às 05:00

Alan Sanches
Líder da oposição na Alba, Alan Sanches Crédito: Divulgação

Líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Alan Sanches (União Brasil) disse que a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) tem “perseguido” os pacientes de Salvador. Segundo ele, as pessoas da capital baiana, que aguardam na fila da regulação, “são as últimas a serem transferidas”, e “não são prioridade”.

“Eles (a Sesab) não priorizam pela gravidade dos pacientes, mas pelos seus municípios amigos, e isso jamais deveria ser feito. Isso não está certo”, declarou o parlamentar, que é médico por formação.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde não respondeu até a publicação de matéria. Ainda na entrevista, Alan Sanches faz avaliação dos governos Jerônimo Rodrigues e de Lula, ambos do PT, e da expectativa para as eleições deste ano.

O governo Jerônimo Rodrigues completa agora, em junho, um ano e meio. Como avalia a gestão estadual até aqui?

A primeira coisa que chama atenção é que ele (o governador Jerônimo Rodrigues) só fez, até aqui, as entregas de Rui (Costa, governador anterior). Até hoje, a gente não vê um planejamento de Jerônimo. Qual foi o projeto que ele colocou primeiro? Foi o ‘Bahia pela Fome’, que na verdade começou com uma gincana escolar, solicitando cesta básica para distribuir, mas não tinha uma conta para que você pudesse fazer algum depósito, se você quisesse ajudar no combate à fome. Não teve transparência de como seriam distribuídas as cestas básicas, que ele começou a arrecadar no início de governo.

Se ele realmente quisesse fazer esse programa de combate à fome, ele teria, inclusive, utilizado os quase R$300 milhões que ele deixou no fundo de combate à pobreza, que é onde de onde viria esse recurso. Então, ao invés dele ficar solicitando só a cesta básica, ele poderia ter feito o dever de casa e utilizado o recurso do dinheiro que tinha em caixa e ele não fez então. Isso é a primeira coisa. O primeiro programa dele foi esse, e é um programa insosso, vazio, apenas para fazer publicidade porque é uma temática que tem apelo social muito grande. É um governo que ainda não mostrou a sua identidade.

As promessas de campanha não foram adiante. Posso falar da regulação, que é o pior serviço da era de Jerônimo porque não houve evolução. Nós acordamos todos os dias aqui, em Salvador, com 350 pessoas solicitando regulação só nos serviços das UPAs. Isso (atender os pacientes) não seria favor para Salvador. Ele tem obrigação porque Salvador repassa para o governo do Estado R$ 800 milhões todo ano. A responsabilidade por essas cirurgias é do governo do Estado. Então, quem faz a gestão da regulação é o governo do Estado e, hoje, é muito mal-feita.

O governo estadual inaugurou recentemente os hospitais Ortopédico e Metropolitano. O senhor tem criticado as gestões dessas unidades de saúde. Por quê?

A gestão desses hospitais tem ficado aquém da necessidade dos pacientes. Com a criação do Hospital Ortopédico e do Hospital Metropolitano, nós não observamos nenhuma mudança na regulação. Se você cria hospitais com alta tecnologia, era para ter um resultado. Se não está tendo, é gestão. Não há gestão de leitos. Ainda digo mais, há perseguição do estado com relação aos pacientes de Salvador, que estão penando nas UPAs, que eram para ficar com pacientes no máximo 24 horas. (As UPAs) estão tendo que se tornar verdadeiros mini hospitais, aguardando, mantendo aqueles pacientes.

Eu, como médico, falo com alguns colegas, e a gente acaba tendo a informação que o leito de tal lugar está vago, e a gente tem que informar para a regulação que está vago para a regulação encaminhar (o paciente). Isso não é o nosso papel. De uns anos para cá, a sociedade tem observado que as pessoas entram na rede social e começam a fazer campanhas para pedir a transferência do seu amigo, de um parente. As pessoas agora estão precisando expor a vida, expor o paciente para conseguir uma regulação. Isso não está certo.

"As pessoas agora estão precisando expor a vida (nas redes sociais), expor o paciente para conseguir uma regulação"

Alan Sanches
Líder da oposição na Alba

Por que os pacientes de Salvador têm esperado tanto tempo para serem regulados?

Eles (os pacientes de Salvador) são os últimos a serem transferidos. A minha percepção é que os pacientes de Salvador são perseguidos pelo quesito regulação, não sendo prioridade. Eles não priorizam pela gravidade dos pacientes, mas pelos seus municípios amigos, e isso jamais deveria ser feito. Isso não está certo. Salvador não pede favor, Salvador transferiu e transfere, anualmente, R$ 800 milhões para que o estado seja responsável pela alta complexidade e regulação desses pacientes.

O governo tem tido dificuldade para aprovar projetos na Assembleia Legislativa. Por quê?

Eu diria que há falta de atenção do governo com temas extremamente importantes, por exemplo, o 'Bahia pela Paz'. Ele (Jerônimo Rodrigues) não deu prioridade ao projeto, mas solicitou urgência (o pedido de urgência acelera a votação de projetos no Legislativo) nos empréstimos que chegam. Ele foi agora readequar os cargos e a criação de cargos da (Secretaria da) Cultura, ele pediu o regime de urgência, mas para o 'Bahia pela Paz' não pediu. É um projeto que a gente esperava que pudesse ter uma valorização do governo do Estado. Tudo que fala em segurança, saúde e educação, a gente pensa que deve ter uma prioridade, mas quem tem que dar essa prioridade é o governo do Estado. Os projetos são dele. Então, eu não sei se é a dificuldade que ele tem na articulação (política) ou se é, digamos assim, a falta realmente de urgência. Você não vê o governo votar com urgência um programa de extrema necessidade, de estado, ele deixa correr solto.

Há deputados da bancada de oposição que votaram a favor de projetos do governo. Como o senhor vê essa postura?

Depende do projeto. Por exemplo, nós encaminhamos (a favor de) um projeto de desburocratização da dívida ativa. É um projeto positivo, um projeto bom que a gente consegue fazer os acordos financeiros para que a gente possa diminuir a burocratização. O que a gente não concorda é o pedido de empréstimo de forma subjetiva. Mas eu, como líder (da oposição), procuro orientar a votação, mas não obrigo ninguém a votar. As pessoas têm seu mandato para serem livres.

Mas por que a bancada de oposição decidiu votar a favor do projeto 'Bahia pela Paz'?

Na verdade, é um programa insosso, vazio, que poderia ter evoluído mais. Não resolverá o problema da segurança pública em hipótese nenhuma, porque ele não trabalha a curto prazo. Na verdade, o 'Bahia pela Paz' é uma reedição do 'Pacto pela Vida', só mudou de nome. A gente está dando um voto de confiança para não dizer que somos nós que queremos que as coisas piorem. É um projeto primário ainda e não vai resolver nada do problema da insegurança em Salvador.

"(O Bahia pela Paz) não resolverá o problema da segurança pública em hipótese nenhuma"

Alan Sanches
Líder da oposição na Alba

Sobre o caso Binho Galinha, a Alba vai tomar uma posição sobre o deputado, que é suspeito de liderar uma organização criminosa?

A primeira coisa que tem que fazer é aguardar o andamento da polícia. O Tribunal de Justiça (da Bahia) tem que finalizar, tem que fazer o encaminhamento. O que foi encaminhado (para a Alba) é para que se tomasse conhecimento do processo contra o deputado, mas, em nenhum momento, foi solicitado a prisão do deputado. Em nenhum momento, foi pedido uma licença para que o deputado pudesse ser preso, nada disso foi solicitado. O que foi encaminhado do processo do Binho Galinha é um processo de investigação. A partir de alguma decisão do tribunal, a gente pode se posicionar.

Como avalia a atuação do governo Lula na Bahia?

Não vi. A gente está com um problema gigantesco na Via Bahia e que Lula poderia estar resolvendo, mas não botou o bedelho, não fez o indicativo. Então, a participação de Lula aqui ainda não vi.

Como o União Brasil vai sair das urnas na Bahia nas eleições deste ano?

A gente sai grandioso. Primeiro que Bruno Reis (prefeito de Salvador), hoje, já não é um iniciante. Hoje, ele já tem um carimbo de um grande gestor. Ele mostrou isso, ele arrumou as contas. Nós atingimos o nível da Caixa Econômica de cadastro positivo, o melhor que Salvador poderia atingir. Eu acho que a gente continuará nesta pegada de ter 65% a 70%, podendo até estender um pouquinho dos votos válidos aqui de Salvador. Faremos também em Salvador a maior bancada de vereadores, com oito a nove vereadores.

Com relação à Bahia, ACM Neto ganhou nas 17 das 20 maiores cidades. Eu acho que hoje, independente do cenário nacional, em Salvador e nos municípios a influência (nacional) é menor. Nós vamos colocar em torno de 80 a 90 candidatos do União Brasil no estado, e acho que a gente sairá fortalecido mais do que nas outras eleições.

Como o senhor acha que o governador Jerônimo Rodrigues vai chegar em 2026?

Hoje, ele está aquém do que poderia estar apresentando, mas acho que ainda é cedo. Quando chegar nessa mesma época, mas no ano que vem, a gente pode fazer um panorama mais adequado. Hoje, nós temos o estado com maior índice de violência. Das 20 cidades mais violentas, 10 estão na Bahia. Tem alguma coisa errada. Quando você vai falar da alfabetização? Eles lançaram programas, como o 'Topa'. Eles estão há 18 anos no poder e não conseguiram diminuir esse índice de analfabetismo do Brasil. Nós somos campeões (em analfabetismo), e isso é um absurdo. Como é que fica, como um baiano, quando o seu estado é marcado pelo maior índice de pessoas que estão analfabetas? Isso é falta de um programa específico para isso.

E a oposição chegará competitiva em 2026 para disputar a eleição estadual?

A gente precisa, primeiro, avaliar como estará a política nacional, que hoje ainda não se encontrou e está desorganizada. Estou falando da nossa política econômica. A nível de política da saúde, do Ministério da Saúde, não vemos absolutamente nada. Até o momento, as pessoas têm dificuldade para saber quem é a ministra da Saúde (Nísia Trindade), porque não tem um programa de impacto. É um ministério aquém do que o Brasil precisa. Tudo isso vai refletir no cenário estadual em 2026. Além disso, Jerônimo vai ter que apresentar um desenvolvimento maior do que apresentou até hoje.

Alan Sanches é médico por formação e já foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Salvador. Atualmente, é deputado estadual pelo União Brasil e lidera a bancada de oposição na Assembleia Legislativa da Bahia.

*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva