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Grupos de afoxés desfilam pelo Centro Histórico de Salvador em busca de reconhecimento cultural

Mais de 15 grupos desfilaram pelas ruas do Pelourinho nesta sexta-feira (5)

  • M
  • Millena Marques

Publicado em 5 de janeiro de 2024 às 20:18

Filhos de Ghandy
Filhos de Ghandy Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Mais de 15 grupos de afoxés desfilaram pelas ruas do Pelourinho na tarde desta sexta-feira (5). A caminhada saiu do Terreiro de Jesus e percorreu as ruas do Centro Histórico de Salvador. O ato é uma das ações do projeto "Afoxé Cultura Ancestral", iniciativa de preservação dos grupos de afoxés realizada pelo Grêmio Comunitário Cultural Olorum Baba Mi.

Por volta das 17h, o afoxé Filhos de Ghandy, o maior do Carnaval de Salvador, iniciou a caminhada até o Largo do Pelourinho, onde se concentrou, junto com outros afoxés, em frente à Fundação Casa de Jorge Amado. Vestidos de azul e branco, meninos e adultos iniciaram a manifestação cultural que pedia por reconhecimento e preservação dos afoxés.

O desfile foi projetado como uma maneira de dar maior visibilidade aos grupos. Assim destacou o diretor dos Filhos de Gandhy, Chico Lima, ressaltando a importância das ações de salvaguarda dessas manifestações culturais.

"Desfilamos não somente para mostrar o que podemos fazer, mas para impactar no olhar dos outros para nós, mostrar que não temos que ser invisível o tempo todo", frisa Chico Lima.

Um dos idealizadores do encontro, Nadinho do Congo, líder do afoxé Filhos do Congo, ressalta a importância de manifestações como a caminhada para a "imortalizar a cultura dos afoxés".

"Esse desfile é de uma importância muito grande. Tivemos o prazer de mostrar a cultura de século, que estava escondida. Por isso, essa caminhada é feita, para resguardar os grupos de afoxé", disse Nadinho do Congo, que também é presidente da Federação Nacional de Afoxés e foi responsável por idealizar o Dia Municipal do Afoxé, celebrado no dia 30 de novembro, em Salvador.

Patrimônio imaterial da Bahia

O desfile de afoxés foi reconhecido como patrimônio imaterial do Estado da Bahia em 2010, por meio do Decreto n°12.484, documento responsável por destacar a importância dessa manifestação cultural.

Presente no desfile desta sexta, a diretora-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), Luciana Mandelli, ressaltou a importância de celebrar e fortalecer os grupos de afoxés, considerados expressões próprias do povo baiano.

"Ao longo dos anos, os afoxés se formam como expressão de resistência. Esse cortejo é apresentado na cidade para a toda a sociedade baiana, para valorizarmos os afoxés", disse Mandelli, ressaltando a importância dos blocos absorverem a experiência de exercer a cultura fora do calendário ordinário do Carnaval.

Oficialmente, o desfile estava marcado para o dia 20 de dezembro do ano passo. Por causa das fortes chuvas que atingiram a cidade na data inicial, o cortejo foi remarcado para o dia dia 5 de janeiro. O espaço do Centro Histórico foi escolhido para ser palco do evento por questões de identidade, conforme aponta Mandelli.

"Há muitos anos, o espaço do Centro Histórico vem sendo ressignificado. Os afoxés estão tomando parte desse espaço e é importante que eles tomem as ruas desse lugar em outros momentos, além do Carnaval", pontua.

O afoxé Filhos de Gandhy também se tornará Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia. A decisão ocorre após dois anos do pedido oficial do grupo. A data do reconhecimento, no entanto, ainda não foi definida.

De acordo com Luciana Mandelli, o Ipac sugeriu oficializar o reconhecimento no desfile do Carnaval deste ano, mas cabe à associação definir o melhor dia. "São 75 anos de Filhos Gandhy. Talvez, das instituições carnavalescas que existem no momento, na Bahia, a mais antiga e perene seja esse grupo. É um bloco afro, é um ijexá e é antigo no Carnaval. Os Filhos de Gandhy são inconfundíveis", diz.

A decisão do Ipac foi anunciada a Chico Lima nesta sexta-feira. O sentimento do diretor do afoxé foi de emoção, mas também de surpresa, já que não imaginava que o resultado seria definido em pouco tempo. "Eu recebi a notícia quando estava fazendo uma entrevista. Fiquei impactado, porque achei que iria demorar mais, sei que não é um processo comum", afirma Chico.

Desfile encanta turistas

A paulista Vitória Freitas, 31 anos, está em Salvador para visitar a mãe, mas aproveitou a oportunidade para turistar pelo Centro Histórico da cidade. A jornalista sabia que um cortejo de grupos de afoxés aconteceria nas ruas do Pelourinho, no entanto, ficou impressionada com o tamanho do evento.

"Não imaginava que seria tantos grupos, achei incrível. Fui surpreendida pela quantidade e particularidade de cada um. É um coisa que me toca bastante, que traz os blocos mais tradicionais e toda a cultura preta", afirma.

Foram mais de 15 grupos de afoxés no desfile. Entre eles estavam: Filhos de Gandhy, Filhos do Congo, Olorum Baba Mi, Onira, Acará e Preto Velho.

A socióloga Michele Sousa, 40 anos, saiu do Rio de Janeiro para passar alguns dias em Salvador e descobriu o desfile por meio das redes sociais. Para ela, o cortejo propiciou um encontro com a sua ancestralidade. "É uma emoção profunda, uma vontade enorme de chorar. Enquanto mulher preta, a experiência é maravilhosa, é um encontro ancestral", pontua.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo