Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maria Raquel Brito
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 06:00
Em oito meses, a apreensão de cocaína na Bahia em 2025 superou todo o ano de 2024. Este ano, foi confiscada 1,2 tonelada da droga, um aumento de 25% em relação ao mesmo período de 2024 e 7% maior que o ano passado inteiro, quando 1,1 tonelada foi apreendida pelas polícias baianas. Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), base de dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública. >
O valor representa a maior quantidade apreendida na série histórica do Sinesp, que começa em 2015. De acordo com o professor de Estratégia e Gestão Pública Sandro Cabral, que atua no Insper e na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e tem estudos na área de segurança, o número revela a intensificação das operações policiais voltadas para a apreensão de drogas, mas também pode refletir a presença do tráfico na Bahia.>
Apreensões de cocaína na Bahia em 2025
“São duas interpretações. Uma é que o tráfico aumentou o volume transacionado, logo se transaciona mais e apreende mais, e a outra é que a produtividade policial aumentou e as polícias podem estar trabalhando com inteligência, com uma coordenação entre as forças policiais de diferentes esferas, trabalho de inteligência e ações coordenadas, que acontecem também nos portos, nos aeroportos”, diz.>
A cocaína que chega ao Brasil vem de outros países da América do Sul, como Colômbia, Venezuela e Bolívia. Pela sua localização, a Bahia é rota de passagem entre o Nordeste setentrional e o Sul-Sudeste, explica o especialista. “A Bahia é um estado super grande, que faz fronteira com vários estados, tem uma costa extensa. Então a proporção ajuda: tem um alto volume [de apreensões] também por ser um estado grande, com muita estrada, que corta de leste a oeste, de norte a sul”, afirma.>
Enquanto a quantidade de cocaína apreendida na Bahia cresce, a apreensão de maconha segue em declínio desde 2021. De 2024 para 2025, a queda foi de 6,9%, depois de cair 56,67% de 2023 para 2024. Este ano, entre janeiro e agosto, 1,5 tonelada foi confiscada.>
Em junho do ano passado, durante a divulgação do balanço do São João, o secretário de Segurança Pública da Bahia (SSP), Marcelo Werner, falou sobre isso e relacionou o número à queda da quantidade de drogas que circula no estado. “Temos feito muito trabalho de prevenção. No ano passado [2023], foram quase 1 milhão de pés de maconha erradicados no interior da Bahia. Neste ano, já foram quase 250 mil”, disse, à época.>
Sandro Cabral ressalta que a cocaína tem maior valor de comercialização do que a maconha. “Eu não sei a questão da lucratividade, mas é, sim, um negócio atrativo. Se não fosse, não existiriam grandes tráficos internacionais. Então, é um negócio atrativo a ponto de você ter todo um esquema, de esconder drogas em navios, colocar no estômago das pessoas… para que tenha uma uma boa rentabilidade”, afirma. >
Entre as apreensões deste ano, o mês de maio se destaca, com 595 kg, quase metade do que foi retido nos últimos oito meses. Grande parte disso veio de uma só intervenção, que aconteceu em Barreiras, no oeste do estado, no dia 16 de maio. Na ocasião, foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) cerca de 477 kg de cocaína, que estava sendo transportada num fundo falso do compartimento de carga de um caminhão. >
A droga estava distribuída em invólucros, alguns compostos por substância em pó branco, com características compatíveis com o cloridrato de cocaína, e outros envoltos em fita transparente, contendo uma pasta marrom, semelhante à pasta base de cocaína. O caminhão e o material apreendido foram encaminhados à Delegacia de Polícia Civil de Barreiras, e o motorista, que fugiu no momento da abordagem, ficou foragido.>
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), que compreende as polícias, solicitando um especialista que pudesse repercutir o aumento dos casos de apreensão e a instituição orientou que a Polícia Civil e a Polícia Federal, órgãos responsáveis pelas investigações, fossem contatadas. A PC afirmou não ter fontes disponíveis. A PF, por sua vez, disse não conseguir uma fonte a tempo. Tentamos novamente com a SSP, que enviou uma nota. No texto, a secretaria ressaltou que “o reforço das ações de inteligência contra o crime organizado resultou nos aumentos das apreensões de drogas e de armas de fogo, além do número de prisões em flagrantes e cumprimentos de mandados”. >
“Destaca ainda que o combate incessante contra as facções e captura de lideranças têm relação direta com a redução de 7,6% das mortes violentas no estado”, diz a nota. >