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Raquel Brito
Publicado em 2 de agosto de 2023 às 06:10
Gritos de solidariedade, torcida e expectativa: foi assim a manhã de muitos dos que passavam pela praia de Itapuã nesta terça-feira (1º). A mobilização aconteceu devido ao encalhe de um filhote de baleia nas pedras da praia no fim da madrugada. O socorro foi iniciado pelos próprios moradores e pescadores do bairro e teve reforço da Polícia Ambiental e de institutos de proteção marinha. >
Entre as tentativas de resgate, a baleia foi repetidamente libertada e trazida de volta para a parte rasa pela maré, enfraquecida pelo esforço e pelos arranhões das rochas. Este ciclo continuou até aproximadamente 12h30, quando o animal foi retirado das pedras pela última vez e seguiu sua viagem.>
Cristiano Loureiro, presidente da organização Porto das Baleias, formada por moradores de Itapuã, explica que o animal foi avistado nas rochas no início da manhã, por volta das quatro horas. “O filhote veio para cá com a maré cheia e não conseguiu voltar, porque a maré secou. Com a ajuda da comunidade, ele conseguiu retornar para o mar aberto. Foram os nativos de Itapuã, que têm convivência com as baleias há anos, que fizeram a baleia voltar”, afirma.>
Um dos moradores da região que ajudou no desencalhe foi Melquisedeque Teixeira. Para o personal trainer de 40 anos, esta seria apenas mais uma manhã em que ia encontrar um amigo na praia após o trabalho. Entretanto, ao ver o animal em perigo, não pensou duas vezes antes de entrar na água e integrar o grupo que tentava desencalhar a baleia.>
“Quando eu cheguei, tinha bastante gente ajudando no resgate, mas é um animal grande, apesar de ser um filhote, então eu quis fazer a minha parte. Poderia ser qualquer animal ali, assim como um ser humano, e eu estaria ajudando também, porque é um ser vivo. É um sobrevivente”, afirma.>
De acordo com Gustavo Rodamilans, coordenador do Projeto Baleia Jubarte e doutor em medicina veterinária, por mais que o filhote tenha seguido para o mar aberto, a sobrevivência do animal não é certa. “Ele só sobreviverá se encontrar com a mãe, pois se alimenta apenas de leite nessa fase de vida. São cerca de 200 litros de leite por dia”, diz.>
Também na praia de Itapuã, um filhote de baleia foi avistado em fevereiro deste ano, época em que não é comum que os animais sejam encontrados na costa baiana, uma vez que estão fora do período de reprodução. Na ocasião, a baleia quase encalhou, mas remadores que praticavam nas proximidades acompanharam-na até que pudesse voltar ao mar aberto. >
Só este ano, oito baleias já encalharam na costa baiana, sendo as duas mais recentes no primeiro dia de agosto. A informação é do Projeto Baleia Jubarte e da Rede de Encalhes e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB). Ao lado do Espírito Santo, também com oito, a Bahia lidera a lista dos estados com mais encalhes.>
Os encalhes tornam-se mais frequentes entre julho e outubro, na temporada de reprodução das baleias. Durante esses meses, os animais migram para as águas quentes do litoral brasileiro para acasalar e ter seus filhotes. >
Os filhotes representam metade dos encalhes que ocorrem durante a época de reprodução. O principal motivo é a dificuldade dos recém-nascidos em acompanhar a velocidade de nado da mãe e também a velocidade dos ventos, o que faz com que estejam mais suscetíveis a se perder e serem direcionados para a parte rasa. >
Rodamilans conta que é comum que a Bahia seja o estado com mais casos, porque é a unidade com mais baleias, e que ainda é difícil falar em prevenir que os encalhes aconteçam, uma vez que cada praia tem a sua estrutura. >
“Nós não devemos nos preocupar, mas sim nos preparar para atender os encalhes, tanto de animais vivos quanto dos mortos, orientando os órgãos municipais a dar a devida destinação para a carcaça”, diz.>
Para William Freitas, diretor do instituto de proteção oceânica RedeMar, é necessário que haja um diálogo entre o Estado e as instituições, num trabalho integrativo de monitoramento de costas, sobretudo no período de reprodução das baleias.>
“É preciso que nós comecemos a criar um consenso de coordenação e treinamento, para saber como acionar e o que fazer no encalhe, e que tenhamos um programa mais acessível de monitoramento, porque, por exemplo, sábado teve um encalhe no Conde, hoje foi em Itapuã, amanhã pode ser em outro lugar”, afirma.>
Além da ocorrência de Itapuã, o primeiro dia de agosto foi marcado por outro encalhe, este no baixo sul da Bahia, na Baía de Camamu. Neste caso, a baleia não resistiu. De acordo com o Instituto Baleia Jubarte, o animal era um adulto de cerca de 12 metros e apresentava marcas de mordida de tubarão. >
No início de julho, o caso de uma baleia jubarte de 12 toneladas e aproximadamente oito metros que encalhou na praia do Caípe, em São Francisco do Conde, chamou a atenção. Isso porque, além de encalhar duas vezes, no dia 8 e no dia 9, a baleia parecia chorar em imagens divulgadas na internet. >
Entretanto, o que aparentava ser o olho lacrimejando era a glândula contra ressecamento agindo. O óleo produzido busca proteger o globo ocular, especialmente com a baleia na terra, sujeita ao vento, o que resseca mais os olhos do animal. A morte da baleia foi confirmada pelo Projeto Baleia Jubarte no dia 17 do mês passado.>
Um pouco mais tarde, no dia 26, mais um caso, este em Porto Seguro: um filhote de baleia jubarte, de cerca de cinco metros, encalhou na Praia dos Coqueiros, no distrito de Trancoso. De acordo com o g1, o Projeto Baleia Jubarte foi acionado, mas trabalhadores de uma barraca ajudaram no desencalhe do animal e já haviam o devolvido ao mar.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>