O que está por trás das reuniões do G20 que acontecem em Salvador

Grupo de Trabalho de Desenvolvimento vai discutir medidas para combate às desigualdades

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  • Maysa Polcri

Publicado em 28 de maio de 2024 às 05:00

Grupo de trabalho do G20 discute combate à pobreza em Salvador
Grupo de trabalho do G20 discute combate à pobreza em Salvador Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Durante esta semana, Salvador estará inserida na rota das discussões globais. Isso acontece porque a capital baiana recebe as delegações de 45 países para os encontros da 3º Reunião do Grupo de Trabalho (GT) de Desenvolvimento do G20. Representantes das maiores economias do mundo se reúnem a portas fechadas, no Centro de Convenções, para debater iniciativas de redução da desigualdade, acesso à água e desenvolvimento sustentável.

Além desse encontro, que acontece entre segunda (27) e quarta-feira (29), Salvador vai receber outros dois dos 15 grupos de trabalho do G20. Entre os dias 2 e 6 de junho o foco será a Saúde e, entre 4 e 6 de novembro, a Cultura. Os debates acontecem em outras capitais do Brasil porque o país preside o G20 desde dezembro de 2023. Neste mês, Recife recebeu o Grupo de Trabalho de Pesquisa e Inovação.

Na capital baiana, quatro estudos produzidos pelo Banco Mundial, Unicef, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) serão discutidos pelos representantes internacionais ao longo dos três dias. As temáticas são combate à pobreza, desigualdades raciais e políticas de inclusão.

Os debates servirão de base para a Cúpula Social do G20, que acontecerá em novembro, no Rio de Janeiro. Ao final da presidência, o Brasil deverá lançar a proposta de Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que incluirá medidas para garantir acesso à alimentação. Cerca de 735 milhões de pessoas convivem com a fome no mundo, sendo 21 milhões no Brasil, de acordo com relatório produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano passado.

Cada representante apresenta os interesses do seu país durante as discussões
Cada representante apresenta os interesses do seu país durante as discussões Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Ao longo do mandato brasileiro na liderança do grupo, mais de 100 reuniões serão feitas. O país assumiu a presidência do G20 e definiu três pautas prioritárias: combate à desigualdade, desenvolvimento sustentável e reforma das instituições de governança global. Cada grupo de trabalho, por sua vez, escolhe os temas alinhados às prioridades definidas pelo governo.

Em sua fala durante a abertura do evento, na manhã desta segunda-feira (27), o embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, secretário de assuntos econômicos e financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), falou sobre a importância da colaboração entre países.

“Enfrentamos várias crises que se agravam mutuamente e cuja resolução requer mais cooperação internacional. Entre os desafios mais urgentes estão a fome, pobreza e desigualdade. Além de conflitos armados com consequência catastróficas, retrocessos nos padrões de vida em muitas regiões do mundo, inflação alta nos países ricos e dívidas públicas nos países pobres”, falou o embaixador.

Na terça-feira, entre 14h e 18h, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, participará de debate sobre população em situação de rua.

O objetivo é que, após as discussões, os representantes dos países deem uma mensagem clara ao mundo sobre a importância de mitigar as desigualdades sociais e regionais. Foi o que explicou a diplomata Celeste Badaró, coordenadora do GT de Desenvolvimento. Cada representante apresenta os interesses de cada país durante as discussões. 

“Estamos negociando dois papéis principais. Um é sobre desigualdades. Queremos que os países do G20 mandem uma mensagem forte sobre a inclusão de minorias. São muitas posições entre os membros e temos que buscar uma forma de atingir todos”, afirmou.

“O outro papel é sobre a necessidade de garantir acesso universal à água e ao saneamento básico”, completou a coordenadora. Em 2020, foi aprovado o Marco Legal do Saneamento Básico brasileiro. Entre os objetivos está a universalização dos serviços até 2033, para que 99% da população tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e coleta de esgoto.

Salvador

O embaixador Mauricio Carvalho Lyrio falou ainda sobre a escolha da capital baiana para sediar o Grupo de Trabalho de Desenvolvimento. “Salvador é uma das cidades com maior percentual de população negra no Brasil e onde se percebe os laços históricos que unem o Brasil ao continente africano. Este é um momento que em África tem destaque no G20, com a inserção da União Africana como membro pleno”, completou o embaixador.

O estado lidera a população preta no Brasil, segundo o Censo 2022, 57,3% da população se autodeclara parda, e 22,4%, negra. Bruno Reis, prefeito de Salvador, participou da abertura do evento e reafirmou o compromisso da gestão municipal com o desenvolvimento sustentável e o combate às desigualdades

“Em Salvador, o tema desenvolvimento acaba sobrepondo todos os outros, por conta das sérias desigualdades sociais que ainda temos, herança de um processo histórico excludente. É por isso que a maior parte de nossas obras e projetos é direcionada para a população mais vulnerável da cidade, de maneira a fortalecer seu potencial de inovação, criatividade e autonomia, para quebrar ciclos geracionais de desigualdade”, disse. O vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior, também esteve presente na abertura.

Bruno Reis elencou alguns dos principais projetos de inclusão e assistência da prefeitura: Novo Mané Dendê, de urbanização, Programa Vida Nova, de moradia, e o AfroEstima, iniciativa voltada para a qualificação profissional de afroempreendedores. “Estamos comprometidos com a construção de uma cidade que respeita o meio ambiente, preserva sua rica herança cultural e oferece oportunidades iguais para todos os seus habitantes, tudo isso aliado ao crescimento econômico”, completou o prefeito.