Ônibus velhos e linhas desorganizadas: o drama de passageiros que utilizam o transporte metropolitano

Tarifas do serviço intermunicipal aumentaram em 8,11% nessa quarta-feira (27)

Publicado em 28 de março de 2024 às 06:00

Agerba aprovou aumento de 8,11%
Transporte público Crédito: Millena Marques/CORREIO

O agente de portaria Edmundo Bispo dos Santos, 58 anos, morador do bairro de Pernambués, em Salvador, se desloca para Barra do Pojuca, em Camaçari, pelo menos três vezes na semana por causa do trabalho. Do dia para noite, ele viu a passagem saltar de R$ 9,60 para R$ 10,40. “Foi uma surpresa, de verdade. Eu fiquei sabendo do aumento hoje, por meio do jornal. Isso é um absurdo”, disse. Associado às condições precárias ofertadas pelo serviço, o aumento é visto sem justificativas por usuários, que reclamam da ausência de ar-condicionado, janelas quebradas, atrasos em saídas do terminal e quantidade limitada de linhas. 

"A população que paga, porque as condições são precárias. Ônibus velhos, que quebram no caminho. A quantidade? Eles botam quando querem, se tiver gente demais, tem ônibus, se tiver pouca gente, eles não botam”, pontuou Santos.

O sistema metropolitano é dividido por anéis e as tarifas variam de acordo com a distância percorrida. O reajuste nas passagens foi anunciado no Diário Oficial do Estado (DOE) na terça-feira (26), um dia antes do aumento entrar em vigor, com autorização da  Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba). 

As tarifas do Anel 1, composto por ônibus que atendem as cidades de Simões Filho e Lauro de Freitas, saíram de R$ 4,80 para R$ 5,20. As tarifas de Camaçari e Candeias, que formam o Anel 2, passaram de 6,80 para R$ 7,40. As passagens do Anel 3, composto por coletivos que atendem as cidades de Dias D’Ávila, Mata de São João, São Sebastião do Passé e Madre de Deus, agora custam R$ 10,40 – custavam R$ 9,60 até ontem. O último reajuste do sistema foi feito em junho de 2022.

Elineide Santos, 45, trabalha com telemarketing em Salvador e a empresa só paga o transporte utilizado na capital. A tarifa do transporte intermunicipal para Monte Gordo, onde mora, sai do bolso da funcionária. “Esse aumento tira do meu bolso R$ 1,60 todos os dias. Esse dinheiro vai fazer uma diferença imensa. É muito caro”, disse.

“Os ônibus não têm qualidade nenhuma. Um ônibus com ar-condicionado é um e um milhão, sem contar que eles também não saem no horário”, afirmou Elineide.

A segurança nos coletivos intermunicipais também é precária. Ao avistar a reportagem na Estação Aeroporto, uma passageira de Dias D’Ávila, que preferiu não se identificar, afirmou: “Veja o estado das linhas que rodam Camaçari x Estação Mussurunga. Não tem pneu, não tem câmera e rola assalto todo dia. Faz 15 dias que fui assaltada”, gritou. No final de fevereiro, uma tentativa de assalto a um ônibus que fazia a linha citada deixou oito pessoas feridas.

A reportagem tentou contato com Associação das Empresas de Transporte Coletivo Rodoviário do Estado da Bahia (Abemtro-BA), mas não obteve sucesso. A Agerba também foi procurada para responder questionamentos acerca das condições relatadas por usuários do serviço, no entanto, até o fechamento desta matéria, não havia respostas. 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela