Pescadores contabilizam prejuízo de até 100% por conta do mau tempo

Trabalhadores relatam perdas de até R$2 mil

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  • Raquel Brito

Publicado em 23 de abril de 2024 às 06:25

Mau tempo prejudica pescadores
Mau tempo prejudica pescadores Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

“A situação está braba para o pescador. A renda é zero”. A fala de Osvaldo Reis, que há 15 dias não consegue trabalhar por conta do mau tempo, ecoa entre os pescadores de Salvador. Com alertas de risco da Marinha do Brasil e a indicação de que ninguém entre no mar, quem tira seu sustento das águas relata prejuízos de até R$2 mil em um mês.

O alerta mais recente veio na última sexta-feira (19), quando a Marinha informou que um sistema de alta pressão pós-frontal poderia afetar a faixa litorânea do estado da Bahia, entre Caravelas e Salvador, com ventos de intensidade de até 61 km/h entre as tardes dos dias 20 e 21.

Nas últimas duas semanas, Reis só vai até a praia na Pituba para fazer manutenção nas embarcações e consertar redes. “Às vezes aparece uma rede para consertar, a gente vai no mar tentar pegar uma pititinga, mas não tem renda. Essa chuva atrapalha muito. Mas é melhor ter paciência e esperar. Quando a pescaria é boa eu vou juntando um dinheirinho. Quando consigo R$300 ou R$400, é isso que vai segurar quando o tempo está ruim”, conta.

Arivaldo Santana, 55, pescador há mais de 40 anos e presidente da Colônia de Pescadores de Itapuã, viu sua renda diminuir em 100% de um mês para cá. Normalmente, faria nesse período cerca de R$2 mil. Após 30 dias sem entrar na água por conta do mau tempo, entretanto, o que está mantendo a sua casa é a renda da esposa, que é professora.

“Todo ano, a gente sabe que o mar começa a mudar com a chegada do outono. Fica mais agitado, os ventos do sul começam a vir, a maré começa a mudar para norte e leste, e isso dificulta muito a nossa saída, porque forma muitas ondulações e o vento prejudica. A época boa mesmo para nós é de dezembro até março, porque é verão, maré boa, mar calmo, tem turistas e uma venda melhor”, afirma.

O pescador diz que, em tempos de chuvas fortes, ou ele deixa de trabalhar ou altera o modo de pescar, indo sem barco e optando pelas redes. “[Quem se prejudica] são especialmente aqueles que dependem de mergulho ou de embarcações menores, de motor de popa”.

Apenas nas duas primeiras semanas de abril, choveu em Salvador o dobro do esperado para todo o mês. Até o dia 17, foram registrados 567,4 mm, quando o esperado era 284,9 mm. O volume de chuvas acumulado na capital baiana na primeira quinzena de abril é o maior registrado nesse mesmo período dos últimos 30 anos, segundo dados divulgados pela Defesa Civil de Salvador (Codesal).

Segundo Edmar Goes, 58, que trabalha na praia da Gamboa, todo pescador sabe que vive de aventuras: um dia lucra, outro não, e por isso é necessário ter uma economia para casos de emergência. Mas, mesmo com o dinheiro guardado para essas situações, os últimos dias têm pesado no bolso.

“Eu já tenho seis dias sem ir na maré. Tem gente que ainda vai colocar, costurar rede, costurar, têm outros ofícios. Mas, tem muitos pescadores que só vivem da pesca mesmo e, ficando parado, a perda é muita. O inverno é péssimo para o pescador, é uma perda de 70% ou mais do que nós produzimos”, diz. Apenas nesses seis dias, ele lucraria entre R$800 e R$1 mil.

Já Ailton Dias de Almeida, pescador desde criança, diz que, apesar desse período ser tradicionalmente de mau tempo, este ano está ainda pior. “Até em outros tempos, nesses meses de abril, maio, nós ainda com alguma dificuldade adentrávamos o mar, poderíamos ir à captura do nosso pescado, mas não tem mais condições. Nós já estamos quase no fim do mês e se tive oito dias de pescaria em abril, foi muito”, conta.

Ele, que pesca na região da Pituba, lamenta a falta de lucro em abril e o fato de não haver perspectiva de melhora para os próximos meses. “Nós estamos passando por um momento muito difícil. Não sabemos nem que dia vamos adentrar o mar, e mesmo que a gente até arrisque a adentrar o mar, não tem condições nenhuma de fazer uma exploração e ir a dez, 12 km. Não tem como, por causa do tempo”.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela.