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Por que as mães se sentem tão culpadas e como fugir desse sentimento?

Mulheres contam sobre suas experiências e como fazem para lidar com o sentimento

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 11 de maio de 2025 às 08:00

Rafaela Lyra é psicóloga e mãe do pequeno Arthur
Rafaela Lyra é psicóloga e mãe do pequeno ArthurRafaela Lyra é psicóloga e mãe do pequeno Arthur Crédito: Acervo pessoalAcervo pessoal

É provável que você já tenha ouvido a frase "nasce uma mãe, nasce uma culpa". Como todo clichê, a expressão tem um fundo de verdade. Para algumas mães, inclusive, o dito popular é quase um eufemismo. Isso porque o sentimento constante e exagerado de responsabilidade as acompanha durante todas as fases da vida. Mas o que está por trás dessa sobrecarga e será que é possível se livrar dela? 

Antes da profissão, status social, idade ou características próprias, o que define as mães, quase sempre, é o seu papel na maternidade. A culpa, em grande parte das vezes, recai sobre elas e não sobre os companheiros, por questões históricas e sociais. Para a psicóloga Rafaela Lyra, mãe do pequeno Arthur, de 8 anos, o sentimento se tornou familiar na gestação e cresceu no pós-parto. 

"Assim como acontece com muitas mães, em cada fase há uma “nova culpa”. Talvez a gravidez tenha sido o período em que eu menos me culpei. Já no pós-parto me culpava, como a maioria das mães, por achar que não era boa o suficiente, conta. A sensação ilusória de que conseguiria "dar conta de tudo" logo caiu por terra, e Rafaela precisou entender que precisaria de - muita - ajuda para administrar a maternidade. 

"Me lembro de uma chamada telefônica com o meu pai, quando eu estava nos meus primeiros dias do pós-parto, exausta, com privação de sono e dificuldade com amamentação. Liguei chorando para ele e disse que eu era uma péssima mãe. Ele ouviu atentamente, não me julgou e disse: 'Filha, tô indo aí!'", foi a primeira vez que ela sentiu na pele a importância de contar com uma rede de apoio. 

A jornalista Gabriela Prioli compartilhou momentos difíceis durante o puerpério
A jornalista Gabriela Prioli compartilhou momentos difíceis durante o puerpério Crédito: Reprodução

O período da amamentação costuma ser um dos mais desafiadores. Quando estava grávida, a psicoterapeuta Ana Chaves imaginava como seria amamentar a filha mais nova, Giovanna, de 16 anos. "Meu maior sentimento de culpa foi não achar a amamentação um momento mágico. No início, eu sentia muita dor e os mamilos ficaram feridos. Enquanto isso, eu via outras pessoas sendo muito felizes mesmo assim", conta. Aí está outro ponto que contribui para o sentimento de culpa: a comparação. 

As outras mães sempre aparentam serem melhores. É aquela velha história de que a grama do vizinho é mais verde, conhece? O sentimento é compartilhado por anônimas e famosas. A atriz Fernanda Paes Leme, por exemplo, revelou, nas redes sociais, sentir-se culpada por não conseguir amamentar a primogênita. 

"Vamos ao relato de uma mãe que ficou chateada achando que a filha esqueceu dela porque ela tomou o meu próprio leite, só que na mamadeira", desabafou. "Vamos vencendo essas pequenas batalhas. A gente sempre se culpa, sempre vai se culpar, mas, ao mesmo tempo, não gosto de cristalizar as coisas. Passou, e é isso. Bom saber que ela vai tomar o 'tetê' na mamadeira se precisar", disse a atriz sobre a filha, que completou 1 ano em abril. 

Quando os filhos crescem, as preocupações ganham outros formatos, a culpa continua ali, como que esperando para dar as caras nos momentos mais importantes da vida. Será que eu estou trabalhando demais? O que minhas filhas vão pensar se eu decidir me separar? Esses foram alguns dos questionamentos que mais abalaram a psicoterapeuta Ana Chaves. 

A psicoterapeuta Ana Chaves tem suas filhas, de 16 e 13 anos
A psicoterapeuta Ana Chaves tem suas filhas, de 16 e 13 anos Crédito: Acervo pessoal

"Muitas mulheres seguram os casamentos por causa dos filhos, e quando eles crescem, as culpam por terem crescido em um lar onde os pais não eram felizes. Outra preocupação constante é sobre a dedicação ao trabalho", afirma. 

Por que sempre elas?

A culpa e a sobrecarga não são exclusivas para as mães solo. Muito pelo contrário. Em relações heterossexuais, elas continuam sendo mais requisitadas do que os parceiros. Ficou na dúvida? Faça um exercício: lembre de quantas vezes na vida você preferiu pedir um favor a sua mãe porque ela provavelmente te entenderia melhor. Isso acontece porque historicamente os cuidados com a casa e os filhos foram dever delas, enquanto os pais eram os provedores. 

Mas os tempos mudaram, as mulheres estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho, e continuam sendo as grandes responsáveis pelo cuidado. "Antes, era responsabilidade das mulheres cuidar da casa, mas elas foram conquistando mais espaços e direitos. Isso é fantástico, mas trouxe uma sobrecarga emocional e física, que faz com que elas sintam-se culpadas por não darem conta de tudo", diz Ana Chagas. 

"A sociedade, de um modo geral, delega apenas a mãe o dever de cuidado com os filhos, o que não acontece da mesma forma com os pais. Pai não é rede de apoio, ele deve dividir os cuidados para que nenhum dos dois fique sobrecarregado", avalia a psicóloga Rafaela Lyra. Para ela, os palpites de fora também contribuem para o sentimento de culpa. 

Fernanda Paes Leme e a filha
Fernanda Paes Leme e a filha Crédito: Reprodução

"A falta de rede de apoio resulta, muitas vezes, na sobrecarga materna, devido ao acúmulo de funções que a mãe exerce. Isso contribui para a autocobrança e cobranças externas", completa. Em uma publicação recente nas redes sociais, a jornalista Gabriela Prioli também comentou o assunto. 

"Mãe sente muita culpa porque fomos ensinadas a pensar desse jeito. A gente acha que para fortalecer nossa maternidade precisa apontar o dedo para outras mães. Por isso falo tanto da possibilidade de aproveitar e não sentir culpa. É um lugar de acolhimento para outras mães que querem viver da mesma maneira que eu", falou. 

Como evitar a culpa 

Se a raiz do problema tem relação com a história e a sociedade, será que tem como fugir da culpa materna? Para as mães, o primeiro passo é compreender que não se trata de um sentimento individual e sim de uma experiência coletiva. Por isso, falar sobre o assunto em rodas de amigos e com familiares, é importante para quebrar o tabu sobre o tema. 

Eu lidei com isso através de terapia, diálogo com pessoas que relatavam sentir o mesmo e, aos poucos,fui entendendo que sou humana. Fui me acolhendo e me permitindo sentir e deixar ir

Ana Chaves

Psicoterapeuta e mãe de duas adolescentes

Rafaela Lyra concorda que a terapia tem uma função importante no processo. "O acompanhamento psicológico durante todo o período da gravidez, parto e pós-parto pode fazer toda a diferença na saúde mental da mulher e em todo o seu processo do maternar", indica. Confira abaixo outras dicas para evitar a "culpa materna": 

Não tenha medo e nem vergonha de pedir ajuda. Todas as mães precisam de rede de apoio, e, quanto antes você compreender isso, melhor;

Seja gentil com você e entenda que nem sempre tudo vai sair como planejado;

Converse com outras mães;

Busque ajuda de profissionais em saúde mental, como terapeutas e psicólogos;

Evite a comparação com outras mães