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Gil Santos
Publicado em 3 de julho de 2023 às 22:25
A administradora Priscila Nunes, 39 anos, não conseguia esconder a felicidade, enquanto aguardava no saguão de entrada do prédio da Petrobrás, no bairro do Itaigara. Ela integra o grupo de 480 trabalhadores concursados da empresa, que foram transferidos para o interior da Bahia e para outros estados, e que voltarão a trabalhar em Salvador. Serão 600 pessoas no edifício até o final de 2023. A cerimônia de reabertura aconteceu nesta segunda-feira (3). >
A Torre Pituba tem 22 andares, com direito a heliponto, e foi erguida em contrato de locação firmado em 2010 entre Petrobras e o Petros, o fundo de pensão dos funcionários da estatal. A operação se deu na modalidade “built to suit”, quando o locador constrói um imóvel personalizado de acordo com as necessidades do inquilino, e a construção foi alvo da Operação Lava Jato por suspeitas de corrupção. A inauguração ocorreu em 2015. >
O acordo seria de locação por 30 anos, com pagamento mensal de R$ 6,8 milhões ao Petros, mas após quatro anos de funcionamento, a direção da Petrobras anunciou a privatização de parte das operações na Bahia e decidiu desocupar o espaço e remanejar cerca de 1,5 mil funcionários concursados para unidades em outros estados. A reabertura do prédio era um pleito antigo dos petroleiros. >
Em março deste ano, durante uma visita a Salvador, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, prometeu atender ao pedido da categoria. Ele esteve na cerimônia de reabertura, nesta segunda-feira, comemorou e prometeu mudanças. >
“Inicialmente vamos receber as equipes administrativas, mas seguimos estudando e discutindo aprimoramentos nos nossos arranjos de trabalho, com a liderança do nosso RH e a participação ampla de toda liderança da Petrobras. Sei que a expectativa é por mudança e garanto a vocês que essa também é a nossa expectativa”, afirmou.>
O prédio será novamente ocupado pelas equipes das áreas administrativas, que estavam atuando em um co-working na capital baiana e na unidade de Taquipe, na cidade de São Sebastião do Passé, a 70 km de Salvador.>
Alívio >
Depois de cruzar a catraca com um sorriso no rosto, a administradora Priscila contou que está aliviada. No início de 2020, ela foi remanejada para o Rio de Janeiro, onde alugou apartamento, teve despesas com a mudança e estava se preparando para levar o filho de 5 anos, quando a pandemia surgiu e colocou os trabalhadores em home office.>
“Escolhi ficar em Salvador, mas continuei pagando o aluguel do apartamento no Rio de Janeiro porque a gente ainda não sabia o que iria acontecer. Foram sete meses e mais a multa, quando resolvi encerrar o contrato”, disse. >
Ela ficou um tempo indo e voltando de avião, toda semana, mas desenvolveu problemas físicos e psicológicos e precisou ficar afastada da empresa. Com a reabertura da Torre Pituba, a trabalhadora conseguiu ser transferida do RJ de volta para Salvador. A contadora Alcimara Menezes, 49 anos, também trabalhou no prédio, da abertura até o fechamento, e contou que o impacto foi sentido em todo o entorno. >
“Eram cerca de 4 mil funcionários, entrando e saindo todos os dias, isso ajudava muito o comércio da região. Em volta do prédio ficava cheio de vendedores ambulantes. Os restaurantes dos shoppings ficavam lotados na hora do almoço, médicos e outros serviços que ficam por perto, todo mundo ganhava”, lembra.>
Nesse primeiro momento, serão ocupados apenas dois dos 22 andares. Segundo o Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do Estado da Bahia (Sindipetro-BA), o prédio está intacto, mas precisou ser mobiliado e, até final do ano, serão cerca de 600 trabalhadores atuando no local, entre concursado e prestadores de serviço. A unidade que funcionava no Edifício Suarez Trade será fechada. >
Os últimos trabalhadores da Petrobrás alocados na Acelen, empresa que comprou a refinaria da Bahia, deixaram os cargos em fevereiro deste ano. O andar térreo da torre ficou lotado de pessoas que foram assistir à inauguração, uma faixa foi cortada e houve contagem regressiva para simbolizar a retomada das atividades no prédio. Alguns trabalhadores ficaram emocionados. O expediente começa a partir desta terça-feira (4).>
Categoria cobra mais investimentos >
O diretor do Sindipetro-BA Radiovaldo Costa disse que a reabertura é uma vitória, mas que a categoria ainda está buscando a retorno daqueles que foram transferidos e a contratação dos terceirizados que foram dispensados. >
“Para a gente é muito importante esse ato porque simboliza a luta dos últimos cinco anos. Na época, nós argumentamos que não existia nenhuma motivação técnica ou financeira que justificasse o fechamento desse prédio e a demissão de mais de 1,5 mil trabalhadores terceirizados e transferências de outros 1,5 mil concursados”, afirmou. >
Costa frisou que o primeiro poço de petróleo da Petrobrás foi descoberto em Salvador, que essa é uma empresa baiana e que durante o evento houve sinalização do presidente de mais investimentos e ampliação das ações na Bahia. >
O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Marcos André dos Santos contou que cerca de mil trabalhadores não conseguiram mudar com a família, estão tendo despesas com viagens semanais para outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, e destacou outros problemas. >
“O trabalhador paga para fazer no Rio de Janeiro o que ele poderia fazer de Salvador. Toda essa desconstrução da Petrobrás e os impacto disso na mão de obra produziu um índice alarmante de doenças mentais. Nós sofremos seis anos a perseguição, ameaça, medo do desemprego, assédio moral e organizacional, como provado pelo Ministério Público do Trabalho”, afirmou. >
Ele cobrou mais investimentos e atenção com a saúde dos trabalhadores. A próxima visita do presidente da Petrobrás está marcada para 24 de julho. >