Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Denunciada se apropriou de pagamentos da empresa por ao menos três anos
Wendel de Novais
Publicado em 6 de setembro de 2024 às 16:00
Indiciadas por furto qualificado, a baiana Adriele Vitória Arcanjo Canela e Giselly Maria Pereira Barbosa, que desviaram mais de R$ 1 milhão de uma transportadora de Goiás, tinham um modus operandi específico. Funcionárias do setor administrativo da empresa, elas criaram contas no nome do patrão e do CNPJ da transportadora para desviar valores de serviços. Em prints de mensagens trocadas pelas duas que foram anexados ao inquérito policial, as indiciadas organizavam operações para furtar parte dos valores mensais.
O processo corre em sigilo, mas a reportagem teve acesso aos prints em que Adriele conversa com Giselly. No primeiro [na imagem de capa da matéria], do dia 3 de fevereiro de 2023, Adriele envia um print de uma das contas aberta pelas duas com o saldo de R$ 6.500. No segundo print, é possível ver uma transferência por pix feita para Giselly no valor de R$ 3.250. O inquérito revelou que, apesar de Adriele executar a maioria das operações, as duas dividiam em partes iguais os desvios feitos.
Em um terceiro print acessado pela reportagem, elas conversam sobre desvios feitos no mês de fevereiro daquele ano. "Menina, arrumei um outro 'caixa 3' para nós. Uma carga de Minas para Brasília. R$ 4.5000. Mês de fevereiro está bom, eu que estou falando com eles. Esse é o segundo do mês de fevereiro", fala Giselly. Adriele, por sua vez, alerta. "A gente tem que vê se dá. Quando eu fazia, pegava dois por mês porque o desfalque não pode ser grande", escreve.
A troca de mensagens das duas mostra também momentos em que quase foram pegas pelas vítimas. No dia 13 de março de 2023, um dos pagamentos que a proprietária esperava cai em uma conta fraudulenta. "Tô em desespero pois o dinheiro está na conta [conhecimento] dela, mas já sei, vou resolver. [...] Acabei de criar uma conta, aí mando para o Bradesco. Só criando coragem para falar com ela", escreve Adriele, enquanto tenta mascarar a transferência.
Na época, a proprietária desconfiou ao notar que a transferência veio de uma conta com a mesma titularidade da transportadora e não da empresa para qual o serviço foi prestado.
Além de criar as contas, Adriele chegou a clonar o aplicativo de mensagens do patrão para monitorar as conversas e aplicar novos golpes. Em um print, ela compartilha o 'feito' com Giselly e debocha. "Eu clonei o WhatsApp do 'jabá'. Podia ter o cartão dele para gente clonar, vai que ele manda foto [do cartão] para a mulher dele. Aí a gente clona, nós não vale nada", escreve Adriele, rindo da situação.
Todas as contas criadas foram feitas com o reconhecimento facial do proprietário da empresa. Com miopia, ele retirava o óculos a pedido das funcionárias, que alegavam precisar do reconhecimento para realizar operações simples, mas estavam criando as contas. Ainda não se sabe quantas contas foram criadas no nome das vítimas.