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Emilly Oliveira
Publicado em 8 de novembro de 2023 às 20:52
O poder de transformação da música é imensurável. Agora, imagine quando ela vem de uma orquestra sustentável. O projeto Tamar Cultural na Bahia ajuda nessa missão ao dar luz a importância para a fauna marinha de manter o plástico fora dos oceanos, promovendo uma oficina de musicalização com materiais recicláveis para estudantes de escolas públicas de Praia do Forte e Mata de São João. >
A atividade gratuita aconteceu nesta quarta-feira (08), no Centro de Visitantes da Praia do Forte, situado no município de Mata de São João, encerrando a edição 2023 do projeto Tamar Cultural na Bahia. A aula foi ministrada pelo cofundador do Projeto Quabales, Marivaldo dos Santos, integrante brasileiro do Stomp, um dos grupos percussivos mais famosos do mundo, em cartaz há mais de 20 anos na Broadway. >
O Quabales é um projeto de percussão que nasceu no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador. Já o Stomp, é um grupo percussivo famoso por usar os sons do corpo, além dos sons da percussão propriamente dita. Essa mistura rendeu uma troca de conhecimentos entre Marivaldo e os estudantes, que a turminha classificou como “o máximo”.>
O que mais chamou a atenção do estudante Iago Assis, 9 anos, foi o uso de um saco plástico como instrumento musical. “Nós fizemos algumas batidas, depois o professor [nos mostrou como fazer] alguns ritmos. Eu não imaginava [que uma sacola plástica pudesse fazer isso], fiquei surpreso na hora”, contou ele.>
A oceanógrafa, fundadora e coordenadora de conservação e pesquisa nacional do Projeto Tamar, Neca Marcovaldi destaca que se esse material fosse descartado no mar, afetaria diretamente a vida das tartarugas marinhas e dos outros animais que vivem no oceano, porque todos eles dependem da qualidade dessas águas para sobreviver.>
"Especificamente as tartarugas marinhas [ainda] sofrem com outras ameaças como a poluição de luzes no litoral, a pesca acidental, diferente do lixo que é uma questão de todos, para todos e para o futuro do planeta", ressaltou ela.>
Dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mostram que as cidades brasileiras produziram em média 13,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos no ano passado, ou 64 quilos por pessoa. >
O material corresponde a 48,5% dos materiais que vazam para os mares e ameaçam a fauna marinha. Para Marivaldo, redirecionar esses resíduos para a fabricação de instrumentos também é cuidar do meio ambiente. Ele também conta que com o saco plástico que Iago destacou, foi possível produzir alguns dos sons emitidos por baterias.>
Ou seja, dentro de um objeto de reciclagem é possível criar vários sons. A intenção, no entanto, não é reproduzir fielmente a sonoridade de um instrumento tradicional, mas enriquecer a lista da qual os ouvidos dos baianos já estão habituados. Mas acima de tudo, a música ainda é um instrumento de educação.>
“A música educa, sim. Através dessa linguagem eles começam a dar valor àquilo que parece não ter nenhum. Ao ver uma vassoura que poderia entupir um bueiro, eles passam a ver aquilo como algo que nas mãos deles pode ser instrumento, algo novo, mas que nas ruas pode contribuir para prejudicar o meio ambiente”, afirma Marivaldo.>
São lições que a estudante Alice Borges, 10 anos, garante ter aprendido direitinho. “Eu gostei muito da experiência, dos sons, dos instrumentos e das técnicas de fazer os sons. Achei muito legal”, disse ela. >
Assim como Alice, a estudante Maiara, 9 anos, também aprovou a oficina e elegeu a vassoura como o seu instrumento favorito. “Foi legal, eu gostei muito dos instrumentos e quero agradecer ao professor por isso. [A sonoridade] mais legal foi da vassoura, nós batemos com ela no chão”, contou Maiara.>
Com orientação da subeditora Fernanda Varela>