65 atropelamentos foram registrados neste ano em rodovias baianas; 20 pessoas morreram

Trechos urbanos são os mais perigosos, dizem especialistas

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 24 de abril de 2024 às 05:00

Mãe e filha foram atropeladas por caminhão em Guanambi
Mãe e filha foram atropeladas por caminhão em Guanambi Crédito: Reprodução

Aos 71 anos, Senhorinha da Silva retornava de um atendimento médico com a filha em uma cidade vizinha quando foi atingida por um caminhão, em Guanambi. Akon Davi dos Santos, de apenas 14 anos, caminhava no acostamento com a mãe, na Região Metropolitana de Salvador. O empresário Éder Martins praticava corrida, em Buerarema. Em comum, todos tiveram um desfecho trágico: morreram vítimas de atropelamentos em rodovias que cortam a Bahia. Apenas neste ano, 65 acidentes desse tipo foram registrados em vias estaduais e federais. Foram 20 mortes.

De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 37 atropelamentos foram registrados em rodovias federais na Bahia entre 1º de janeiro e 31 de março deste ano. 11 pessoas morreram. Em 2023, foram 36 atropelamentos - um a menos - e 11 óbitos, no mesmo período. A BR-324 é a campeã de acidentes.

Quanto as rodovias estaduais, foram registrados 28 atropelamentos nas estradas baianas entre 1º de janeiro e 23 de abril de 2024, com nove vítimas fatais. A via com maior número de acidentes é a BA-099. No mesmo período de 2023, foram 29 acidentes que vitimaram 14 pessoas. Os dados são da Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra).

Um dos casos mais recentes aconteceu na noite de segunda-feira (22). Senhorinha da Silva e a filha, Marli Senhorinha da Silva, de 41 anos, voltavam de Vitória da Conquista quando foram atropeladas por um caminhão em frente ao trevo que dá acesso ao distrito de Morrinhos, em Guanambi. Mãe e filha morreram na hora. O irmão de Marli aguardava as duas no outro lado da pista e viu toda a cena. As causas do atropelamento são investigadas pela Polícia Civil.

O desrespeito às sinalizações de trânsito e a falta delas, em alguns casos, além da alta velocidade são fatores que aumentam a incidência de atropelamentos. Quanto mais rápido o veículo estiver, maiores são as probabilidades de acidente e de casos graves. O risco de morte em atropelamentos aumenta quatro vezes se o condutor estiver dirigindo a 65 km/h ao invés de 50 km/h.

“Os trechos urbanos são os locais onde mais acontecem atropelamentos. As rodovias exigem velocidade mais intensa do veículos e, nos trechos urbanos, pela falta de sinalização, como redutores de velocidade e faixas de pedestres, são onde mais acontecem acidentes com pedestres”, analisa Luide Souza, especialista em trânsito e tenente-coronel da Polícia Militar.

Em caso de atropelamentos, os condutores são obrigados a prestar socorro. Acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) já configura prestar socorro, de acordo com Luide Souza. 

O jovem Alkon Davi, de 14 anos, foi atropelado enquanto andava ao lado da mãe no acostamento da BA-099, no trecho entre Barra do Jacuípe e Lauro de Freitas, no dia 3 de abril. O condutor do veículo teria invadido o acostamento em local onde há uma curva acentuada e mal sinalizada, segundo um morador. A Concessionária Litoral Norte (CLN), responsável pela via, afirma que a sinalização atende às normas do Código Brasileiro de Trânsito (CBT).

Joanice Mendes dos Santos, mãe de Akon Davi, já sabia que o local tinha fama de perigoso e evitava caminhar pelo acostamento com o filho. “É uma dor muito grande e que muitas pessoas, se não cuidarem, se não tiver uma providência, vão sentir, porque ali é um lugar que carros viram sempre”, lamentou, em entrevista anterior ao CORREIO.

Em todo o ano passado, 245 atropelamentos, com 70 mortes, foram registrados em rodovias federais na Bahia. As informações fazem parte do Painel da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que reúne dados da PRF. O ano com mais mortes por atropelamentos no estado foi 2010, quando foram 147 vítimas.

A rede rodoviária da Bahia apresenta uma extensão de 119.639 km. Desse total, 5.093 são federais, 14.940 são estaduais e 99.606 são municipais, de acordo com a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes.