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Relembre as histórias do Mercado Modelo

Comerciantes contam momentos marcantes que presenciaram no Mercado

  • R
  • Raquel Brito

Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 09:00

Novo Mercado Modelo foi reinaugurado pela Prefeitura de Salvador na tarde desta segunda-feira (18)
Novo Mercado Modelo foi reinaugurado pela Prefeitura de Salvador na tarde desta segunda-feira (18) Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Quando Abdala Abib Neto chegou no Mercado Modelo, muitas coisas eram diferentes. Para começar, o cartão postal ficava em outro lugar, ao lado da Praça Cayru. Fundado em 1912, o Mercado Modelo reúne citações em livros, aparições em obras audiovisuais e muitas lembranças dos comerciantes que trabalham no local, e já teve entre seus visitantes a Rainha Elizabeth II, o cantor Julio Iglesias e o escritor Jorge Amado.

Abib, comerciante de 71 anos que está no local há 62, desde que ia acompanhar o pai no trabalho, conta que viu a história acontecer nessas seis décadas. “O mercado tem 111 anos, há uns 104 nós estamos aqui. Eu vi a Rainha Elizabeth, o comediante Ary Toledo, um cantor que ninguém mais reconheceu, só eu, e cumprimentei ele. Charles Aznavour, andando sozinho por aqui”, relembra. “A Rainha veio naquele Mercado Modelo que queimou em 1969. Foi uma recepção maravilhosa, ela saiu feliz da vida daqui. Os comerciantes se reuniram e a presenteamos com um balangandã de prata”.

Em outra ocasião, o escritor Jorge Amado passeava pelo Mercado com uma amiga francesa e, ao chegar na frente do box, que costumava vender miçangas, começou a tirá-las da bancada, dizer à amiga qual orixá cada conta representava e colocar as miçangas no pescoço dela.

“Depois que ele colocou todas as miçanguinhas nela, puxou [a carteira] para pagar e eu disse que isso era uma lembrança nossa para ele e para a amiga dele. Ele dizia ‘meu filho, não faça isso’, e eu falei ‘se o senhor quiser me pagar, o senhor me paga com um abraço’. Ele me abraçou e perguntou se eu estaria aqui no dia seguinte. No outro dia, eu recebi na loja autografado o livro mais recente dele. Isso foi em novembro de 1972”, diz.

Com 72 anos, Valter de Almeida Filho está na loja há 60, quando o estabelecimento ainda pertencia ao seu pai, que herdou do pai dele ainda em 1928. Assim como Abdala, ele acompanhou muitas fases do Mercado, inclusive os dois incêndios que atingiram o ponto turístico, um em 1969 e outro em 1984.

Enquanto a destruição de 1969 fez com que o Mercado Modelo precisasse sair da Alfândega, onde funcionava antes, o incêndio de 1984 aconteceu já no local atual. Na época, o Mercado passou dez meses fechado para reforma.

O comerciante lembra-se como se fosse ontem do dia em que Julio Iglesias passou pela sua bancada. Não esquece, também, de como era o Mercado antes da requalificação pela qual passou por quase dois anos.

“Antigamente, as colunas eram cheias de mercadoria, era uma feira. O pessoal fechava as ruas. Hoje, o negócio está organizado. Eu espero que continue como está agora, porque melhorou muito”, comenta.

No box 5, ainda no térreo, o dono Jair Conceição, de 54 anos, conta que o momento mais memorável para ele nas três décadas trabalhando no Mercado Modelo aconteceu quando o ex-presidente Itamar Franco parou para beber por lá. De acordo com o comerciante, uma cachaça baiana envelhecida ganhou o coração do político.

“Eu devia ter uns 25 anos. A namorada dele queria uma bebida boa, eu coloquei num copo pequenininho. Ele bebeu e ficou muito surpreso, disse: ‘poxa, que bebida maravilhosa. Não sabia que aqui na Bahia se fazia cachaça desse jeito’”, afirma.

Além das lembranças dos comerciantes, um mito popular é o de que o subsolo do Mercado Modelo seria mal-assombrado e que os gritos de negros escravizados ainda podem ser ouvidos. Entretanto, historiadores afirmam que isso não passa de uma lenda, visto que o Mercado Modelo, antiga Alfândega, foi construída após o fim do tráfico de escravizados. 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela.