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Wendel de Novais
Publicado em 16 de outubro de 2024 às 05:00
O caso de João Vitor Santos Silva, 17 anos, que morreu em um assalto no bairro do Uruguai, em Salvador, é mais um entre os diversos roubos a moradores registrados na região. Assim como aconteceu na Rua Dez de Outubro, na frente da casa de João, os assaltantes optam por ruas desertas e com saídas rápidas para a fuga. No mesmo local, recentemente, houve uma tentativa de roubo de motocicleta, como conta Iraci Teixeira da Silva, 58, tia de João e moradora do local. >
“Essa rua aqui está deserta, principalmente, à noite. Quando dá 18h ou 19h, todo mundo já entra para dentro de casa, ninguém fica mais na rua. Outro dia tentaram assaltar a moto do rapaz da vizinha que ele deixa bem aqui na porta. Os ladrões passaram sondando e depois voltaram, mas não conseguiram levar a moto por pouco”, relata ela, destacando que, no bairro, os casos são diários. >
Gilvan do Santos, 47, é vigilante e morador da vizinhança. Ele endossa o relato de Iraci e detalha quando há mais registros de assaltos. “Em tudo que é local aqui acontece isso. Principalmente, nos pontos de ônibus. De manhã cedo, quando nós vamos pegar o nosso transporte para trabalhar, acontece direto. Às vezes, vem com latrocínio [roubo seguido de morte]. Então, precisa tomar providência”, reclama o morador. >
Uma fonte policial, que não será identificada, confirmou a recorrência de assaltos e apontou as ruas transversais da Rua Direta do Uruguai e da Rua Luiz Régis Pacheco – as duas principais vias do bairro – como foco dos bandidos. “Essas ruas são mais vazias durante a noite. Logo, os bandidos conseguem transitar ali sem chamar a atenção e mapear as vítimas. Fora isso, por estarem perto das avenidas, é simples e rápido para eles evadirem do lugar, como fizeram neste caso”, explica. >
Com o caso de João, Salvador e região metropolitana já registraram 40 adolescentes baleados, sendo 31 mortos e nove feridos em 2024 até aqui, de acordo com Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada na região. No mesmo período de 2023, foram registrados 45 adolescentes baleados, sendo que 33 acabaram morrendo e os outros 12 ficaram feridos, resistindo aos tiros deflagrados contra eles. >
No Uruguai, seja para atacar adolescente ou adultos, os assaltantes utilizam duas rotas de fuga para não serem pegos. “Hoje, em Salvador, assaltantes precisam se preocupar com a polícia e com o tráfico. As facções não permitem que roubem na área delas e, geralmente, matam os ladrões. Por isso, eles optam por lugares onde podem fugir rápido, como é no Uruguai com o viaduto e a Suburbana”, diz. >
O viaduto em questão é o dos Motoristas, que tem ligação com o Uruguai através da Rua Luiz Régis Pacheco, e dá acesso ao Largo do Tanque e a Avenida San Martin, onde os bandidos podem acessar diferentes bairros. A reportagem fez o percurso entre o local do crime e o viaduto com trânsito movimentado, chegando no largo em dois minutos. >