Surfista, capoeirista e exímio nadador; conheça Dielson Pereira, atleta que morreu durante competição

A modalidade aparentemente solitária trouxe diversas amizades e conquistas para o professor de física

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  • Yasmin Oliveira

Publicado em 14 de abril de 2024 às 21:00

Dielson Pereira Hohefen era nadador e professor de física no Ifba
Dielson Pereira Hohefen era nadador e professor de física no Ifba Crédito: Arquivo pessoal

Amigos, parentes, colegas e alunos se despediram do atleta Dielson Pereira Hohenfeld neste domingo (14), no Cemitério Bosque da Paz. Falecido no sábado (13), aos 53 anos, o professor de física do Instituto Federal da Bahia (Ifba) foi velado a partir das 16h.

O atleta faleceu durante uma prova de 5 km da 11ª Copa Brasil e Campeonato Baiano de Águas Abertas, na Praia dos Pescadores, situada no distrito de Arraial D'Ajuda. Ele desapareceu quando cancelaram a prova devido a uma tempestade, e buscas foram iniciadas. Seu corpo foi encontrado três horas depois, próximo da Barraca Manito e do Complexo Toatoa.

Dielson era apaixonado por esportes. Fora da sala de aula ele praticava capoeira, surfe e natação. A modalidade que aparenta ser algo solitário trouxe diversas amizades para a vida de Dielson que praticava a natação há mais de 15 anos, após deixar o surfe. O único dia de ‘folga’ para o atleta eram às segundas-feiras, quando os treinos em conjunto com a equipe Alta Agilidade não aconteciam.

A equipe, que surgiu durante a pandemia, treinava de terça a sexta nas piscinas do Clube dos Empregados da Petrobras (CEPE) em Stella Maris e nos finais de semana iam até a praia para treinar em mar aberto. Para os companheiros de equipe, Dielson era considerado um irmão mais velho e um dos pilares da Alta Agilidade.

“Dielson tinha um jeito fechado, mas ao mesmo tempo era super alegre. Não tinha dia ruim para Dielson. Acho que o melhor adjetivo que eu tenho para dizer sobre ele é especial, porque ele cuidava de todos nós, aconselhava a todos nós. Ele se preocupava e a gente brincava com ele”, conta o músico Cristiano Lacerda.

Como atleta, Dielson sempre era o primeiro a se comprometer a estar em um treino e a dar suporte aos atletas ao seu redor, deixando um legado de união e amor pelo ser humano, independente de quem seja. “Natação está longe de ser um esporte solitário. É um esporte de resultado solitário, é o que eu costumo dizer. Ela depende muito da equipe, na piscina um ajuda o outro, no mar um ajuda o outro. É um coletivo fantástico e que gera amizades que são pra vida toda”, explica Cristiano.

O filho de consideração de Dielson, Everson Mateus, conta que o atleta era alguém indescritível. A relação cresceu durante a pandemia com os companheiros do Alta Agilidade liderados pelo professor Gil e dali a conexão entre eles apenas aumentava. “Praticamente se via quase todos os dias, então era um cara, assim, sem explicação. Da galera aqui do Alta Agilidade, ele era um dos que mais nadava. A consideração que eu tinha por ele era como um irmão, eu mesmo o chamava de ‘Papi’. Até agora não caiu a ficha ainda”, diz o salva-vidas.

O sorriso e a alegria de Dielson são os aspectos mais marcantes relembrados pelos colegas. O atleta extraordinário já acompanhou Everson Mateus em algumas competições da Travessia Mar Grande-Salvador e o salva-vidas se espelhava em Dielson durante as provas.

A preparação anual do atleta era para participar da Travessia Mar Grande-Salvador, seus treinos focavam em percorrer a distância de 14 quilômetros exigida pela competição. Considerado como um exímio nadador pelos colegas de equipe, a técnica do atleta era um exemplo para aqueles que estavam ao seu redor.

“É inconcebível a gente imaginar que ele tenha morrido afogado. A gente está falando de uma pessoa superpreparada, não só pra essa competição. Porque o foco nosso sempre foi a Travessia Mar Grande-Salvador, então essas são competições preparatórias”, conta o músico Cristiano Lacerda.

Cristiano, conhecido pelo apelido Araketu, diz que a equipe irá atrás de respostas para o falecimento do amigo, mas que o foco principal é dar suporte a família do atleta.

“Está sendo um choque para a gente conseguir superar isso porque a gente não aceita a situação em que aconteceu. Acho que vamos chegar terça-feira na piscina e ele vai estar lá contando como saiu de uma situação de apuros”, explica Cristiano.

A competição onde Dielson faleceu foi organizada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e pela Federação Baiana de Desportos Aquáticos (FBDA). Ambas as entidades foram procuradas pela reportagem para entender as condições da morte do atleta, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria.

Em nota divulgada nas redes sociais, as entidades lamentaram a morte de Dielson e disseram que ele era "um atleta extremamente experiente, muito querido por seus colegas de clube, conhecido por ser uma pessoa tranquila e amante dos esportes".

A Federação Baiana de Desportos Aquáticos (FBDA) informou que organizou a competição em parceria com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e que havia um  "número significativo de embarcações de apoio e salva-vidas, em conformidade com os padrões de segurança estabelecidos". Havia um total de 11 embarcações, incluindo lanchas e jet-skis, tanto da Federação quanto do Corpo de Bombeiros e da Marinha do Brasil, para garantir a segurança dos atletas.

A federação diz que havia cerca de 130 atletas na água, o que é considerado seguro para uma competição. "No entanto, com a entrada repentina do vento e a mudança nas condições climáticas, a prova foi suspensa. Situações adversas como essa podem ocorrer em provas de águas abertas, e infelizmente, não são previsíveis de antemão", explica a federação, dizendo que a decisão de suspender a prova aconteceu quando as condições do mar ficaram "realmente adversas". "Isso ocorreu após a primeira metade da prova, quando os primeiros colocados do masculino e as três primeiras mulheres do feminino chegaram. Após isso, as condições pioraram muito, fazendo com que suspendêssemos". 

A FBDA destaca ainda que costuma de separar entre 400 e 450 metros até a visualização de boia e nesse caso tinha menos, tendo 300 metros entre uma boia e outra. A distância estava dentro dos padrões. Havia também boia de referência. Equipes do Samu, Bombeiros e Marinha acompanhavam no local da prova.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro