Visita guiada no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia apresenta telas restauradas ao público

Treze telas foram restauradas a partir do Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural

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  • Raquel Brito

Publicado em 26 de abril de 2024 às 06:00

Visita guiada aconteceu nesta quinta-feira (25)
Visita guiada aconteceu nesta quinta-feira (25) Crédito: Paula Froes/CORREIO

Esta semana, 13 telas recentemente restauradas garantiram seu espaço nas paredes do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Agora, as obras passam a integrar o acervo da instituição, que conta com cerca de 200 telas. A restauração das pinturas, pertencentes aos séculos XIX e XX, foi contemplada pelo Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, da Fundação Gregório de Mattos (FGM).

Na tarde desta quinta-feira (25), uma visita guiada pelas instalações do IGHB apresentou as novas integrantes da casa ao público. O encontro foi coordenado pela museóloga Rita Fonseca. Antes disso, o professor e restaurador José Dirson Argolo, responsável por comandar as restaurações, apresentou o processo de restituição de algumas das telas.

Segundo Argolo, que acumula décadas de experiência com restauro de obras de arte, a prática é um modo de preservar a história. “É uma obrigação da nossa geração, para que a gente possa permitir que as futuras gerações tenham acesso a todos esses objetos e a toda essa memória, que faz parte da nossa história, da nossa formação profissional, ética e histórica. O Instituto guarda um acervo extremamente valioso”, disse.

O estudante de História João Geraldo está sempre no IGHB fazendo pesquisas para sua graduação. Hoje, ele saiu de um congresso direto para o Instituto para participar da visita guiada. “Para mim é uma honra estar aqui, na apresentação dos quadros reformados por Dirson Argolo. É um momento muito importante para o Instituto e para a comunidade histórica da Bahia”, diz.

Larissa Evangelista, 27, aproveitou a oportunidade para conhecer melhor a casa e os passos necessários para o reparo de uma peça antiga. “Eu prestei muita atenção, porque é tudo muito rico em detalhes. Eu passava pela frente e muitas vezes nem notava, não sabia quanta riqueza tem aqui dentro”.

As peças contempladas pela verba do Prêmio foram: retratos de João Gomes de Queirós, Custódio Bandeira, Visconde de Pirajá, Barão de Jaguaripe, Joaquim Reis, Francisco Borja, Inocêncio Marques de Araújo Goés e Hermano Santana, e cinco telas com personagens não identificados.

O número grande de personagens não identificados se deve ao fato de parte do acervo ter sido restaurado anteriormente, ocasião em que a equipe deu preferência às telas de autoria e personagem identificados.

Responsável pela visita guiada, a museóloga Rita Fonseca defende que projetos como o Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural são essenciais para que a arte seja mantida e a população tenha acesso a isso.

“O Instituto é conhecido como a Casa da Bahia, todas as pessoas estão convidadas a participar diariamente dos nossos eventos, das nossas palestras e das visitas. Então tudo aqui é de todo mundo, nós aqui trazemos a história mais com viés contemporâneo porque. Porque precisamos conversar sobre o que está acontecendo hoje, sobre quem foram essas pessoas, como elas viviam e o que deixaram de bom e de negativo”, diz.

Como é feita a restauração?

O processo de reforma de uma tela é, para José Dirson, como cuidar de um paciente que está doente: os remédios – ou reparos – necessários dependem do grau da doença. No geral, envolve a limpeza da camada pictórica e a remoção do verniz antigo oxidado (que são algumas das fases mais delicadas da restauração).

Caso haja um rasgo no tecido, por exemplo, o procedimento se torna mais completo e é necessário fazer enxerto de tecidos e reforço de bordas danificadas, reentelamentos (quando o tecido original está frágil e que precisa você colar alguma coisa atrás para fortalecer o tecido antigo) e recolocação em um novo chassi e molduras. A duração do processo também depende do nível de complexidade, variando de duas semanas a três meses.

No caso do retrato de João Gomes de Queirós, obra do século XIX de autoria não identificada, o restaurador removeu o antigo reentelamento por não ter mais condições de o manter.

“São várias cirurgias que às vezes são necessárias.Tem quadros que, para mim, são pacientes em estado terminal, chegam se desfazendo, e no fim são transformados completamente, sobrevivem”, diz o restaurador.

A reforma também não é um processo fechado, que se faz uma só vez; uma característica essencial deve ser a reversibilidade. O retrato de Custódio de Viana (1836, L. Meister), por exemplo, já havia sido restaurado antes, por volta dos anos 1970, pelo professor João José Rescala, um dos primeiros restauradores da Bahia.

Por conta dessa necessidade de restaurações de tempos em tempos, a tinta não é aplicada diretamente na pintura original, mas sim sobre uma camada de verniz, para facilitar os reparos do futuro.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro