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Após redução de 15%, indústria baiana deve continuar com retração em junho
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2018 às 04:00
- Atualizado há um ano
Além de afetar a distribuição de gasolina, alimentos e praticamente paralisar o país de norte a sul, a greve dos caminhoneiros também derrubou a produção da indústria baiana, que sofreu uma redução de 15% em maio na comparação com o mês anterior. Esse foi o terceiro maior recuo do setor no país, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgada nesta quarta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O forte impacto da greve dos caminhoneiros no setor produtivo do estado tem uma explicação: a Bahia ainda é fortemente dependente do transporte rodoviário tanto para receber matérias-primas que alimentam suas indústrias quanto para escoar os produtos finais para os estados do centro-sul do país.
A paralisação dos caminhoneiros, entretanto, afetou o desempenho da indústria de norte a sul do país. O levantamento mostrou que, em maio, a produção caiu em 14 das 15 áreas pesquisadas. O resultado da Bahia só não foi pior que o de Minas Gerais, que reduziu sua produção em 24,1%, e do Paraná, com uma queda de 18,4%. Santa Catarina também teve recuo de 15% em maio.
O resultado da indústria baiana em maio também é o terceiro pior desde a primeira PIM do IBGE, realizada em 2002. Ficou acima apenas das retrações apuradas em novembro de 2003 (-18,3%) e abril de 2009 (-17,1%).
Comparando o resultado de maio deste ano com o mesmo período em 2017, a indústria baiana também teve uma grande queda, de 13,7%, a maior desde janeiro de 2017. No acumulado de janeiro a maio deste ano, a produção baiana sofreu uma redução de 1,3%, ao contrário da média nacional, que se manteve positiva em 2%.
Conforme o IBGE, o resultado da Bahia foi puxado, principalmente, pela queda de 33,7% na produção de veículos automotores, reboques e carroceria. O analista da coordenação de indústria do IBGE Bernardo Almeida diz que, além desse segmento, o de celulose, papel e produtos de papel e o setor alimentício - principalmente puxados pela redução de farinha de trigo, cacau, chocolate em pó e açúcar cristal - foram os que mais sofreram com a greve. Além da greve dos caminhoneiros, o IBGE também atribuiu o número ao efeito-calendário, já que maio deste ano teve um dia útil a menos do que o do ano passado.
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Impacto ainda maior O cenário de retração na produção industrial pode ter seguido em junho. Isso porque a greve teve fim, mas seus impactos continuaram. Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) apontou que 60,9% das indústrias da Bahia não voltaram a produzir normalmente logo após o fim do movimento grevista.
O superintendente de Desenvolvimento Industrial, Marcus Verhine, explicou que as empresas ficaram com estoque acumulado, já que os caminhões não recolhiam os produtos. “Então, elas tiveram que reduzir a produção por conta do estoque, até que paralisaram completamente a produção. Com o fim da paralisação, as indústrias continuaram com uma grande quantidade de produtos estocados, então não voltaram a produzir logo”, diz.
O impacto da greve deve afetar o crescimento anual do setor. Verhine afirmou que a Fieb não realizou um levantamento, mas que o número já refletiu, por exemplo, no acumulado de 12 meses da área de produção de veículos automotores, que estava com crescimento de 32% e reduziu para 23%.
“Ainda teremos algum impacto no mês de junho, não sabemos em que ordem, mas as indústrias sinalizaram que a produção continuou baixa. E isso deve impactar no acumulado de 12 meses”, pontuou Verhine.
Centro da cadeia O economista e professor da Unijorge Antônio Carvalho diz que a retração da industrial significa um impacto nos demais setores produtivos. “Isso porque ela representa o centro das grandes cadeias e gera impacto em todas as cadeias que alimentam ela: desde a primária, por exemplo, no extrativismo, agricultura e pecuária”, afirmou.
O encolhimento pode significar desemprego, redução na renda das famílias e diminuição no nível de consumo de produtos e serviços. “A indústria é o indicador central. Todo o entorno é influenciado por ela. Quando a indústria de automóvel é impactada, por exemplo, ela impacta no fabricante de pneus, de amortecedores e todos os componentes do carro. E isso cria um ciclo problemático que se retroalimenta o tempo inteiro”, explicou.
O economista ainda explica que a greve dos caminhoneiros afeta a percepção internacional do Brasil e no “fator confiança” da economia. “Quem tem dinheiro vai pensar 10 vezes mais antes de investir no Brasil, vai levar em conta todos esses riscos. E quem tem dinheiro aqui no país vai passar a preferir guardar do que gastar, nesse cenário de instabilidade”. Greve dos caminhoneiros teve forte impacto nos resultados da indústria automotiva (Foto: Sérgio Figueiredo/Divulgação) Produção de veículos recua quase 34% As indústrias mais afetadas pela greve dos caminhoneiros são as dependentes do sistema rodoviário, segundo o economista Antônio Carvalho. No estado, o setor que mais sofreu foi o de fabricação de veículos, que teve recuo de 33,7%.
Essa foi a primeira queda da atividade - que estava em crescimento contínuo desde julho de 2017. O setor de celulose foi o segundo com maior impacto, com queda de 19% e a produção alimentícia, em terceiro lugar, sofreu um recuo de 15,8%.
A nível nacional, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) teve que revisar suas projeções deste ano por conta da greve dos caminhoneiros. A expectativa da entidade é de que a produção de automóveis cresça, em 2018, em 11,9%. A previsão inicial era de um acréscimo de 13,2%. A exportação, que contava com possibilidade de 4,5% de crescimento, deve ficar estagnada.
O presidente da Anfavea, Antonio Megale, atribuiu a alteração à greve dos caminhoneiros. “O ritmo de vendas dos primeiros quatro meses estava um pouco acima da nossa expectativa inicial, mas a greve dos caminhoneiros trouxe impactos negativos. (...) (Ela) dificultou o abastecimento de peças para a produção e de transporte de veículos para as concessionárias. Além disso, trabalhadores e consumidores tiveram dificuldade com abastecimento de combustível, interferindo nos deslocamentos até a rede. Não fosse este cenário, certamente teríamos registrado maior crescimento em maio”, disse.
A indústria de alimentos sofreu um recuo de 17,1% em maio em relação a abril. A Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação (Abia) realizou um levantamento que aponta redução de 16,04% nos alimentos industrializados.
A Associação alertou sobre os impactos da greve e também do tabelamento de fretes mínimos que, de acordo com eles, impõe “custos para a cadeia produtiva e de distribuição, que poderão incorrer na continuidade da quebra de produção e perdas de empregos”.