'A cada caso de coronavírus, três podem existir', calcula epidemiologista

A maior preocupação da médica é a baixa quantidade de leitos disponíveis; entenda fases de transmissão

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  • Fernanda Santana

Publicado em 13 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tyrone Siu/EBC

O novo coronavírus já é uma realidade na Bahia, que tem três casos confirmados, todos em Feira de Santana. A situação merece ser monitorada, já que o contágio é alto - cada paciente infectado tem capacidade de transmitir o vírus para, em média, outras três pessoas.

“Quer dizer que a cada caso de coronavírus, três podem existir. Há casos que passam ao largo do serviço de saúde, principalmente os de sintomatologia mais branda”, explicou a epidemiologista Glória Teixeira, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Nesta quinta-feira (12), a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) alertou para a possibilidade de um pico do coronavírus na Bahia em maio. Não é possível prever o número de infectados com exatidão, mas o CORREIO conversou com Glória, que apresentou cálculos sobre a transmissibilidade do Covid-19 e comparou com outras doenças.

A transmissão do novo coronavírus acontece em escala geométrica e em curva ascendente. Se uma pessoa está contaminada, por exemplo, ela chega a transmitir para três pessoas, que transmitem para outra três e assim por diante. Ou seja, três pessoas infectadas podem resultar em nove diagnósticos positivos para o Covid-19. 

A epidemiologista afirma que o número de possíveis contaminados é contabilizado por meio de uma medida que, na epidemiologia, é chamada R0. O cálculo inclui variáveis como se o paciente está assintomático ou sintomático, quando a possibilidade de transmissão do vírus é maior. 

O potencial de transmissibilidade do coronavírus é duas vezes maior que o do H1N1 - uma pessoa transmite para 1,5 pessoa -, mas cinco vezes menor que comparado ao sarampo. Cada paciente com sarampo chega a transmitir para outras 15.“Se tivéssemos 50 casos, e todos isolados, e provavelmente não teríamos essa progressão. Essas outras pessoas vão contaminar outras”, ressaltou.Até o momento, o que existe na Bahia é uma transmissão local, quando o vírus já foi importado e é transmitido de uma pessoa para outra. A diferença é que ainda não há circulação do vírus, o que impossibilita um cálculo preciso dos próximos casos potenciais. Na opinião da epidemiologista, isso deve ocorrer em breve. "Há 10 dias, eu dizia: vamos manter a serenidade. Hoje eu digo: vamos ser prudentes", indicou.

A maior preocupação da epidemiologista, agora, é com a quantidade de leitos disponíveis para atender possíveis pacientes com a doença. "Nós sabemos que temos defasagem de leito de UTI não só nos SUS, mas também no leito privado. O paciente também precisa de leitos com respirador [equipamento eletromédico cuja função é bombear ar]", disse.

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia não informou a quantidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponível, mas, em 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) mostrou que o estado dispõe de apenas 899 leitos de UTI disponíveis para internação através do Sistema Único de Saúde (SUS). A quantidade revela a existência de menos de um leito para cada grupo de 10 mil habitantes.

Referência Na Bahia, o hospital de referência para possíveis casos graves é o Instituto Couto Maia (ICM), que possui 110 leitos, dos quais 20 são Unidades Tratamento Intensivo (UTI), sendo 10 pediátricas e 10 adultas. Como as crianças são mais resistentes ao vírus, a secretaria estuda a possibilidade de transformas os leitos pediátricos em adultos. 

A Sesab diz que, se houver necessidade, poderá transferir os pacientes de outras enfermidades infecto-contagiosas para outros hospitais a fim de manter o ICM inteiro apenas para atendimento de contaminação por coronavírus. Em Salvador, o Hospital Geral do Estado (HGE), Roberto Santos e Octávio Mangabeira também têm leitos para receber possíveis pacientes. O secretário não informou a totalidade de leitos na Bahia para o atendimento de internação por coronavírus.

Fases da transmissão Transmissão importada – o vírus é, como sugere o nome, importado de outro lugar. No caso do primeiro coronavírus na Bahia, a paciente veio da Itália. Transmissão local – a contaminação acontece depois da importação, direta ou indiretamente, com a pessoa contaminada. Transmissão comunitária – o vírus já está em ampla circulação.