'A ECMO salvou minha vida', celebra baiano submetido à mesma terapia de Paulo Gustavo

Engenheiro de 72 anos respirou por pulmão artificial durante 10 dias no São Rafael

Publicado em 11 de abril de 2021 às 07:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Paulo Simões teve alta do Hospital São Rafael no dia 29 de dezembro do ano passado (Foto: Acervo pessoal) Na próxima segunda-feira (12), o engenheiro Paulo Simões completa 73 anos de vida. E faz pouco tempo que ele nasceu de novo. No dia 2 de dezembro do ano passado, ele foi diagnosticado com covid-19 e um exame de imagem mostrou que o homem, pai de dois filhos, dono de uma empresa de engenharia e morador do bairo de Piatã, em Salvador, estava com 75% do pulmão comprometido.

No mesmo dia, Paulo deu entrada no Hospital São Rafael e, quatro dias depois, quando o paciente não respondeu mais aos respiradores mecânicos, nem depois de ser intubado, foi colocado em ECMO, a sigla em inglês para oxigenação por membrana extracorpórea. Na prática, Paulo respirou através de um pulmão artifical por dez dias. A terapia é a mesma usada pela equipe médica do ator Paulo Gustavo, numa tentativa de vencer a batalha contra a covid-19.

Paulo Simões se recuperou, teve alta do hospital no dia 29 de dezembro do ano passado, passou quase dois meses em reabilitação e, hoje, se sente bem e pronto para voltar a trabalhar, depois de já ter recebido as duas doses da vacina contra a covid-19.

Leia, na íntegra, o depoimento de Paulo Simões:

"Eu tive a covid, fiz o exame PCR e deu positivo. Isso foi no início de dezembro, dia 2 de dezembro do ano passado, por aí. Aí minha sobrinha, que é médica, me recomendou fazer a tomografia computadorizada. Quando eu fiz, já estava com 75% do pulmão tomado pelo vírus. Bom, aí, de imediado, minha sobrinha ligou lá para o Hospital São Rafael e conversou com a Dra. Ana Verena. Acho que foi a minha salvação essa conversa entre elas. Eu tava na clínica de imagem e ela falou sobre o resultado da tomografia e aí, a Dra. Ana Verena sugeriu que eu desse entrada de imediado pela emergência do São Rafael, porque eles tinham medo de a inflamação se agravar, eu vir pra casa e aí tomar o pulmão todo e eu morrer, assim, instantaneamente.

Quando eu dei entrada no hospital, eles tentaram oxigenação via nasal, não tava dando resultado, eu tava sentindo falta de ar. Foi uma coisa, assim, repentina. E aí, tentaram uma máscara fechada, que você tem uma alimentação grande de oxigênio, mas não resolveu. Aí, no dia 6 de dezembro, eles me intubaram. Foi rápido, se eu tivessem em casa, eu morria.

O principal de tudo é que o intubamento, com aquela ventilação, não resolveu. Eu não conseguia respirar nem com o intubamento. No mesmo dia, eles tiraram e me conectaram ao ECMO, que é aquela membrana extracorpórea, que é um equipamento ponta de linha. Era o final, sem aquilo não tinha mais o que fazer.

Eu fiquei dez dias no ECMO, que é um equipamento que salvou a minha vida, porque durante esses dez dias, eles isolaram o pulmão e aí eu fui criando os anticorpos que foram combatendo o vírus. É um equipamento que tem em poucos hospitais aqui da Bahia. No SUS não tem esse equipamento. Ele faz o papel do pulmão, é um pulmão artificial, fora do corpo. Eles fazem o sangue circular, fazem um orificio na veia femoral, o sangue sai por essa veia, passa no equipamento e elimina o gás carbônico, e volta com o oxigênio por uma veia aqui no pescoço. Vai limpando e devolvendo o oxigênio.

Mas isso, eu fiquei sabendo depois, eu tava inconsciente desde que tentaram me intubar. Lá no São Rafael tem muita gente boa, e o Dr. Rogério Passos [coordenador de UTI] salvou minha vida.

***

Eu vou fazer no dia 12 de abril 73 anos. Sou engenheiro civil, tenho uma empresa de engenharia e tenho dois filhos e uma familia grande que foi unida aí na oração, porque você sabe que o ECMO é um equipamento que exige muito do paciente, tanto que ele não e nem recomendado por uma pessoa da minha idade. Eu fui muito forte mesmo, porque não tinha alternativa.

Eu me recuperei totalmente, só tô tratando problema de escaras porque fiquei muito tempo deitado no hospital. Já me vacinei, a primeira e a segunda dose.

Eu saí do ECMO no dia 16 de dezembro e saí do hospital no dia 29 de dezembro. Aí eu fui para uma clínica de reabilitação, a Florence, eu acho que é a única no Brasil de reabilitação pós-covid. Fiquei lá até 25 de fevereiro. Agora, eu tô num sítio em Barra de Jacuípe, fazendo os curativos, tomando uns remédios e a fisioterapia, porque quando eu saí do São Rafael, eu tava mal, não andava, não falava porque estava com a traqueo... Fiz a reabilitação quase dois meses lá na Florence e depois do dia 25 eu tive alta e vim aqui pro sítio. Eu continuo fazendo curativo, em uns dez dias eu tô zerado [risos]. Tô dirigindo.

Pelo que eu li do ECMO, ele exige muito do paciente, ele é indicado para pessoas de até 52 anos, mas eu com 72 eu fui muito forte mesmo. Minha recuperação no São Rafael foi espetacular, pela equipe médica também. Eu vi até o Dr. Rogério falando pro pessoal: 'Paulo Simões tá ensinando a gente a fazer medicina!'. Eu fui salvo assim, e é como o próprio Dr. falou também. Ele disse assim: 'Esse eu puxei pelos cabelos!' [risos]

Mas eu tô bem, tô ótimo, tô lúcido, não tive nenhuma sequela, tô com o raciocínio beleza, vou voltar a trabalhar agora em maio.

Eu só achava que devia... Eu vejo morrer tanta gente, inclusive amigos meus. Eu acho que esse ECMO é uma coisa maravilhosa, foi uma coisa que me salvou, porque ele me intubou no dia 6 e no dia 6 mesmo ele me botou no ECMO. E deu tempo, em dez dias, de ele isolar meu pulmão, criar os anticorpos, tanto que meu pulmão tá limpo. É uma coisa que salva vida, né? Echo que o SUS tem que ter isso, né?

Eu tenho Bradesco Saúde e ele cobriu tudo. Eu tô até fazendo uma carta agradecendo a cobertura que eles deram e foi espetacular e também na Florence. E agora eu vim aqui para o sítio e tô com aquele esquema de home care que vem fazer os curativos. Só a fisioterapia que está particular.

Mas uma coisa importante que tem que colocar é o papel da fisioterapia, viu? Sem a fisioterapia, esqueça. Eu cheguei na Florence no dia 29 de dezembro, eu movimentava o dedo da mão, só, minha mão nem subia. O médico dizia: 'aperte minha mão' e eu nem conseguia movimentar o braço. Foi a fisoterapia. Hoje, eu tô com todos os movimentos, tô tranquilo. A reabilitação é uma coisa fundamental, porque você sai um bagaço, né? Eu nem falava"