A invenção da Grande Teoria da Substituição

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  • Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2022 às 05:07

- Atualizado há um ano

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Todo dia, toda hora, todo tempo estamos sendo envolvidos por novas e contínuas invenções, e não digo de achados científicos ou tecnológicos. O que registro são as invencionices que cabeças tomadas por Hades – só pode ser – ficam a elucubrar, e como o mundo é vasto e tem campo para tudo, boa parte de quem ouve acredita. Em vários casos, os assuntos terminam se transformando até em filosofia. Acabo de lembrar o grau de dificuldade que expressa a “Crítica da Razão Pura” de Kant, que tanto quebrou a cabeça de gente pensante, mas que vai do não até a questão final do entendimento sobre as coisas.

Não é mais preciso sequer o empirismo para demonstrar uma razão absoluta sobre um tema qualquer, uma tese, uma elucubração que seja. Agora prensou e já vira filosofia, e lá vem os seguidores do “filósofo”. O seguidor do guru. Do “mestre”, de sei lá mais o quê. Por causa desse acreditar sem questionar é que tivemos casos como o de Jim Jones que, em 1978, foi responsável por levar centenas de componentes da sua seita ao suicídio coletivo em Georgetown.

Agora, recentemente, tivemos um garoto na casa dos dezoito anos, adoidado, que saiu disparando contra estudantes de uma escola no Texas. A polícia encontrou em seus pertences uma carta - ou libelo, seja lá o que foi - em que compartilha como ciência exata a tese amalucada da “Grande Substituição”.  O que vem a ser isso? Caso por aqui ninguém tenha sido alertado ou leu, é uma história surgida na França no início do século XX e que grassa hoje nos Estados Unidos, pregando que existe uma conspiração mundial para fazer com que a raça negra venha dominar vários países, entre eles os próprios Estados Unidos e o Brasil.

Os teóricos chegam a garantir que para isso estão sendo exportados negros do continente africano para que assumam cidadania nos países de maioria branca, para assim se apossarem do poder. Outra tese é que os próprios grupos de negros de diversos países estão importando os “irmãos” para uma completa tomada de poder, de mudança do status quo das variadas nações.

A coisa é assim: admite-se na tese a deliberada queda na taxa de natalidade de pessoas brancas, o que é verdade por outras causas no mundo inteiro, mas que os teóricos chamam de genocídio, sendo a teoria a garantia que de os brancos perderão sua agenda política. Os supremacistas brancos deitam e rolam. E também quem é contra a imigração. A teoria é algo com upgrade do escritor francês Renaud Camus, que escreveu "Le Grand Remplacement" ou 'The Great Replacement', publicado em 2011.

Em termos de Brasil, se formos olhar, nem precisa ter essa preocupação de fazer com que o país venha ter uma maioria negra, pois o Brasil já tem uma maioria negra. É o país com a maior população negra fora da África. Quando se fala em nossos negros como “minoria”, existe uma visão de que são mais brancos que negros nos índices do IBGE. Na verdade, o tratamento é de minoria por que os negros fazem parte de uma parcela da população que sofre discriminação acentuada e estão alijados do processo social, político e, notadamente, econômico.

O pior sobre a “tese” da Grande Substituição é que se trata, repito, de coisa amalucada, mas que vem ganhando espaço, principalmente entre nacionalistas, nazistas e adeptos da eugenia. O mundo está mesmo tomado por doidos, e não são somente Putin e tantos outros aloprados do Planalto Central do Brasil. O que vemos é o homem sendo o eterno lobo do homem, envenenando uns aos outros com suas ideias de jegue. Que me perdoem os muares.

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. E-mail: [email protected]