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Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2022 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Foto: Alberto Maraux/SSP O ponteiro dos relógios marcavam 3h da madrugada de sexta-feira (7), quando o barulho de guerra acordou os moradores de Irará, cidade do sertão baiano de quase 30 mil habitantes acostumada a sons mais agradáveis, como a música do cantor e compositor Tom Zé, um de seus filhos mais ilustres. Pouco tempo depois, os aterrorizados iraraenses descobriram que não se tratava de conflito bélico, mas do ataque simultâneo a três agências bancárias nos mesmos moldes do chamado Novo Cangaço.>
Moradores ouvidos pela reportagem disseram que havia de 15 a 20 criminosos no ataque, a depender da versão narrada. Também garantem ter ouvido de oito a dez explosões, além dos inúmeros tiros que acordaram a maior parte da população da cidade."Falei para mim mesmo ‘mataram alguém’. Abri a porta e fiquei agachada na escada, com medo de algum tiro pegar em mim, pois eles atiraram para cima", conta a servidora pública Djane Santos.A servidora afirma ainda que, através dos estouros, os moradores conseguiram identificar de onde vinham as explosões. Segundo Djane, após a sequência de tiros, foi possível ouvir vários carros em fuga acelerando para mais de um sentido, como se fosse parte da trilha sonora de um filme de ação. >
Mas não era. Estava mais para algo aterrorizante, como resume a professora Adriana Dantas, de 50 anos, ao adjetivar a experiência vivida por ela . “Eu moro perto dos bancos e ouvi tudo. Infelizmente, a população fica prejudicada e sem assistência”, lamentou Adriana, ao se referir aos prejuízos causados à população pelo ataque triplo aos bancos..>
Ataques deixam rastro negativo da cidade Os impactos do crime já estão causando dor de cabeça aos moradores, conforme aponta o comunicólogo Jonas Pinheiro. “Pessoas mais velhas e aposentados sacam dinheiro para fazer compras na feira. Hoje mesmo (sexta) foi dia de feira livre, então muita gente ficou sem conseguir retirar (dinheiro nos caixas eletrônicos) ”, conta.>
Na falta das três agências, restou apenas uma para os moradores de Irará, mas ela sozinha não atende as demandas de todos. Há, ainda, agências bancárias correspondentes distribuídas em alguns estabelecimentos da cidade, como farmácias e agência dos Correios. No entanto, nesses locais as operações financeiras são limitadas.>
Para quem precisa de atendimento bancário especializado, a alternativa agora é se deslocar para cidades próximas, como Santanópolis, Coração de Maria, Ouriçangas e Água Fria. Outra opção é Feira de Santana, situada a 50 quilômetros de Irará.>
“É um transtorno, é perigoso e nada econômico para quem recebe por essas agências (atacadas) e não dispõe do Pix. O comércio perde muito, e a população sente na pele a sua rotina mudar completamente”, reclamou a servidora Djane Santos. Foto: Divulgação/SSP Criminosos conseguiram roubar duas de três agências Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), informações preliminares apontam que uma agência das agências atacadas teve o cofre violado. Em outra, os criminosos conseguiram arrombar o caixa. Na terceira, contudo, os bandidos não conseguiram concretizar o roubo. >
Os policiais destacados para caçar o bando encontraram os carros usados na ação incendiados. Na zona rural entre as cidades de Irará e Água Fria, foram achados, além dos veículos, diversos miguelitos (estruturas pontudas de ferro arremessadas por criminosos com o objetivo de furar os pneus de viaturas, evitando perseguição policial). >
Estojos de munição de fuzil e pistola também foram encontrados e apreendidos. Mas os moradores da cidade jamais esquecerão a madrugada em que Irará foi coberta pelo som da guerra. >
Peritos buscam digitais, vestígios de ferimentos e pistas Horas após o ataque, equipes do Departamento de Polícia Técnica (DPT) começaram a realizar na manhã de sexta (7) a perícia nas agências bancárias de Irará e nos veículos utilizados pelos assaltantes.>
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a Coordenadoria Regional de Polícia Técnica (CRPT) de Feira de Santana atendeu à solicitação feita pelo Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), responsável pelo caso. Foto: Divulgação/SSP Os peritos de Feira buscam digitais dos criminosos, vestígios de ferimentos e materiais que possam auxiliar na investigação. Até o fechamento desta edição, os assaltantes não foram identificados.>
Equipes especializadas da PM e da Civil seguem com as buscas na região, montando bloqueios e fazendo abordagens nas áreas urbanas e rurais.>
O método usado no ataque tem o modus operandi das quadrilhas do Novo Cangaço, responsáveis pela imensa maioria dos roubos a banco no interior do Nordeste.>