À Mesa: ainda há botecos que aromatizam cachaça com ervas e raízes

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  • Linda Bezerra

Publicado em 27 de julho de 2014 às 04:38

- Atualizado há um ano

É uma farmácia de corno. A cachaça com catuaba é como Viagra; se a alquimia for com alho,  o coração bate firme; a mistura com jatobá é bom para a anemia; com cravinho aquece as cordas vocais e junto com boldo trata o fígado... Como assim, álcool trata o fígado? “Se não forem muitas doses”, adverte, sorrindo, Cídine Souza, dono do boteco de cachaça em infusão Palácio dos Gatos, ou Palácio dos Cornos, como apelidam  os clientes.  Ele nem acredita nos efeitos medicinais, mas sabe que o povo se entusiasma.

O bar, no Comércio, é um pé-rapado raro que ainda aromatiza aguardente com ervas, folhas, raízes, frutas e cascas de madeira. Diante do avanço das cervejas, é difícil encontrar boteco com  prateleiras cheias de cachaça aromatizada. O de Cídine é típico: chapéu com chifre pendurado na parede para acertar a carapuça de alguma cabeça, arrocha nas alturas, homens jogando baralho e tira-gosto de josefina com farinha em prato Duralex... Uma maravilha para afogar as mágoas e tirar sarro dos amigos traídos. Na prateleria são mais de 30 garrafas. O drinque CGC, mistura de cravo, gengibre e canela, é o mais famoso. Garrafas na prateleira do Palácio dos Gatos depuram misturas de casca de lima e de jatobá, aniz estrelado e capim-santo (Foto: Angeluci Figueiredo)Essa mesma mistura é também a atração  do Cravinho,  clássico do Pelô, que vive lotado, principalmente na alta estação. Julival, que comprou o bar de um tio há 26 anos, é  paciente com as histórias dos clientes. Mais sofisticado,  desenvolveu uma engenharia para oferecer a cachaça saborizada. De 34 barris arrumados no alto das prateleiras descem mangueiras que alimentam os copinhos para fãs da infusão. Foi necessário. Não teria garçom pra dar conta de servir 500 doses em um dia movimentado de Verão. Julival revela seu recorde: numa noite de Terça da Bênção remota, quando a região estava no auge, já vendeu três mil copinhos. Fiofó, chuvinha do céu, os nomes são criativos, batizados pelos clientes. Aliás, são eles que  depuram a receita. Vão  sinalizando se está fraca e se precisa de mais cor, sabor. O certo é o uso da aguardente neutra, pra não dizer ordinária, assim o ingrediente encontra espaço e se sobressai. Para clientes que querem a bebida mais sofisticada, na lojinha anexa tem garrafas de marcas conceituadas.

Sobreviventes ou não, os bares com cachaça em infusão fazem sucesso. Lula e Jacira, donos do Thyliu’s, no Ogunjá, estão no ramo há 20 anos. Em garrafões armazenam sabores de jatobá, catuaba, erva-doce e cravinho, claro. Divertido, o casal recebe o cliente dizendo que a farmácia está aberta para atender qualquer problema de saúde, de gripe a dor de cotovelo. Locais alegres, qualquer que seja o balcão, atrás dele tem sempre um paciente dono disposto a escutar lamentações e lorotas. Julival, do Cravinho, já ouviu até cliente prometendo o Elevador Lacerda para a amada.Cravinho, clássico do Pelô, tem cachaça sofisticada na lojinha e mais de 34 barris com diversos sabores da bebida em infusão (Foto: Angeluci Figueiredo)Vai láPalácio dos Gatos Rua Conselheiro Saraiva, 14, Comércio. Funciona de segunda a sábado, das 10h às 22h. Aceita Visa e Master. Contato: 71 3326-3676.  Cravinho Praça 15 de Novembro, 3, Terreiro de Jesus, Pelourinho. Funciona todos os dias, das 11h às 23h. Aceita Visa e Master. Contato: 71 3322-6759.Thyliu´s Avenida General Graça Lessa (fundo do Mercado Ogunjá). Funciona de segunda a sábado, das 8h às 18h. Aceita Visa e Master. Contato: 71 3356-1336.