A pandemia não poupa ninguém

Os governadores do Rio e do Pará estão com o coronavírus

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  • Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2020 às 03:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o governador do Pará, Helder Barbalho, estão separados por mais de 2,6 mil quilômetros de distância. Tem todo um aparato de Estado para lhes proteger, mas mesmo assim pegaram o coronavírus. Não se sabe se eles combinaram o discurso, mas o recado dos dois para a população brasileira foi quase o mesmo: “fiquem em casa”. 

Os dois estão longe de serem as primeiras figuras conhecidas a serem diagnosticados com a Covid-19. No meio político, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno, foi apenas o nome mais conhecido entre os 20 membros da comitiva que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos a pegar a doença. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque foi outro.

Além dele, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, teve o coronavírus e ajudou a colocar o Brasil na segunda colocação entre os países que tiveram o maior número de autoridades infectadas, atrás apenas da França e do Irã. 

E se por aqui o destaque é a quantidade de figuras públicas com a doença, no Reino Unido, a pandemia não poupou o número um do governo. Até hoje o primeiro-ministro inglês Boris Johnson está em processo de recuperação da doença que chegou a faze-lo ser internado numa unidade de tratamento intensivo (UTI). 

No Irã, a doença se mostrou fatal para as autoridades infectadas. Dois dos 24 membros do parlamento que foram infectados morreram por conta da Covid-19. O aiatolá Hashem Bathaie Golpayenagi, membro da Assembleia de Peritos responsável por selecionar o próximo Líder Supremo do Irã, foi outra vítima fatal no país persa. 

Teste positivo O governador do Rio, Wilson Witzel, foi diagnosticado com o novo coronavírus. O anúncio foi feito por ele na tarde de ontem pelas redes sociais. “Desde sexta-feira não venho me sentindo bem e pedi para que fosse feito o teste do Covid, e hoje veio o resultado positivo”, disse. 

Witzel sentiu febre, dor de garganta e perda de olfato. No comunicado, afirmou que continuará trabalhando no Palácio Guanabara, sede e residência oficial do governador, “mantendo as restrições e as recomendações médicas”. O mandatário fluminense aproveitou o anúncio para pedir para os cidadãos não desrespeitarem a doença e cumprirem as recomendações de isolamento social.

Witzel tem sido um dos governadores mais enfáticos nas medidas de isolamento social para conter a propagação do vírus. Com isso, passou a ser um dos alvos preferidos do presidente Jair Bolsonaro. 

O governador manteve, até semana passada, a prática de dar entrevistas coletivas presenciais no Palácio, mas em ambiente aberto e com distância de alguns metros para os repórteres. Durante uma entrevista concedida no último dia 26 de março, exigiu da equipe de reportagem o uso de máscaras. 

Não há informações sobre eventuais infectados no núcleo duro do gabinete de crise do governo, que passava o dia reunido com o governador na sede do Executivo fluminense.  Ao lado de Witzel nas coletivas, o vice-governador, Cláudio Castro, e o secretário de Saúde, Edmar Santos, não costumavam usar máscaras. 

‘Todo mundo exposto’ O Governador do Pará, Helder Barbalho, foi outro que testou positivo para o novo coronavírus (Sars-CoV-2). O anúncio foi feito por ele em seu perfil oficial em uma rede social ontem.

“Como vocês sabem, parte da minha equipe deu positivo para o coronavírus”, contou. Segundo ele, foi feito um primeiro exame no último sábado (11), cujo resultado foi inconclusivo. A contraprova deu negativo. Por recomendação médica, o político fez novo exame ontem. “Meu teste deu positivo. Portanto, quero informar a população paraense que eu estou com coronavírus”, informou.

Ainda em seu depoimento, Helder Barbalho disse que apesar de estar com a Covid-19 sente-se bem e não apresenta os sintomas. Mesmo assim está isolado e pede que a população permaneça em casa para evitar maior proliferação do vírus.

“Eu estou super bem, estou assintomático, não tenho qualquer sintoma, tenho trabalhado desde sexta-feira (10) de casa. A Daniela (esposa) e as crianças estão bem. Quero aproveitar para pedir para você: fique em casa”, pediu. “Este vírus é extremamente contagioso, ele não escolhe idade, ele não escolhe classe social. Todo mundo está exposto e todo mundo pode pegar. Por isso eu faço o apelo a você, fique em casa e vamos juntos vencer o coronavírus. Quem ama cuida e quem cuida fica em casa”.

Novo recorde: 204 mortes em 24 horas O Brasil registrou ontem um recorde no número de mortos por coronavírus em um único dia: 204 novos casos registrados nas últimas 24 horas, o que equivale a um incremento de 15% do total acumulado. O último pico ocorreu no dia 9 de abril, quando foram 141 óbitos registrados. Houve ainda mais 1.832 novos casos, aumento de 8%.

O número de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus no pais subiu para 25.262 e o total de mortes chega a 1.532, de acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde na tarde de ontem. No último balanço do governo, na segunda-feira, o total de infectados chegava a 23.423, com 1.328 mortes confirmadas.

O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, afirmou que parte das notificações é reflexo do represamento de dados que ocorre nos fins de semana e, na última semana, com o feriado na sexta-feira. Ele voltou a repetir que esse pequeno atraso é natural no registro.

O ministro Luiz Henrique Mandetta creditou um aumento de 8% a 10% de novos casos nesta semana ao distanciamento social. Sem ele, a alta seria de 25%, estimou.

Flexibilização em cidades com leitos O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta afirmou que a flexibilização do isolamento em municípios com baixo índice de utilização de leitos vai ajudar no processo de imunização da população brasileira. Ele deu a resposta ao ser questionado se a flexibilização, sugerida pela pasta, não pode provocar um aumento da doença nessas localidades.

“Sim, é possível (aumentar casos em locais que flexibilizarem). Mas nós não vamos conseguir viver parados. Vamos ter que ter nossa movimentação. Passaremos por essa movimentação e iremos construindo nossa imunidade coletiva”, explicou disse Mandetta. 

Segundo o ministro, a principal discussão está relacionada à velocidade com que se dará esta abertura. “Se faremos isso a toque acelerado, teremos locais aonde poderão faltar os equipamentos de proteção individual, recursos humanos e respiradores. Se fizermos de maneira menos acelerada, poderemos ganhar essa imunidade com tempo um pouco maior”, explicou. “É desse tripé, imunidade coletiva, imunidade individual e capacidade de atendimento, que poderemos fazer nosso avanço”, complementou.