A promessa do craque Didi e a devoção ao Nosso Senhor do Bonfim

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  • Nelson Cadena

Publicado em 15 de junho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Ao retornar da Copa do Mundo da Suécia como o mais celebrado dos jogadores pela crônica esportiva -  junto com Garrincha, Didi, o brilhante meio-campista que Nelson Rodrigues carimbou como o “Príncipe Etíope”, lembrou-se que tinha de pagar uma promessa feita ao Senhor do Bonfim, na Bahia. Não devia apenas o pagamento pela promessa feita, caso a Seleção Brasileira trouxesse para a casa a Copa Jules Rimet. Devia outra, atrasada, quando prometeu ao santo vir à Bahia, caso seu time, o Botafogo, conquistasse o título de campeão carioca de 1957.

Na manhã de 25/7/1958, Didi subiu a Colina Sagrada, em companhia de sua lindíssima esposa, atriz do elenco da Tupy, a baiana Guiomar Pereira, e a sua pequena filha, Rebeca. O craque da Seleção rezou no interior do templo, agradeceu a Deus, distribuiu autógrafos no adro e depositou na Sala dos Milagres uma bola de cera e os uniformes do Botafogo e da Seleção Brasileira. A sua esposa, Guiomar, devota fervorosa do Senhor do Bonfim, tinha sido a mentora da promessa feita e paga naquele momento. O que o casal não sabia é que no dia em que o Brasil derrotou a Suécia por 5x2 os sinos do Bonfim, assim como de outras igrejas de Salvador, badalaram por horas.

A seleção do Brasil era uma das favoritas no Mundial de 1958, em função das boas apresentações realizadas em jogos amistosos, em especial na Itália, e a crônica desportiva já destacava a qualidade da defesa, nenhuma palavra de incentivo que não fosse para a zaga, a não ser para o médio-volante Didi. O jogo de estreia contra os austríacos firmou essa convicção; o Diário da Noite estampou em manchete: “A defesa sobrepujou totalmente o ataque”. Didi seria durante toda a Copa a grande atração, a imprensa sueca lhe conferiu o título de melhor jogador. A Copa de 58, porém, revelaria outro grande craque, Garrincha, que deu um baile nos russos e no jogo final contra os suecos foi o maior destaque ao lado de Didi, Pelé, Vavá e Zagalo.

A vitória do Brasil nos campos europeus enlouqueceu o país que deu vazão à maré de entusiasmo represada desde a fatídica derrota para os uruguaios, em 1950, no Maracanã. Em todas as cidades houve festas e Carnaval e em Salvador como já dito um tocar de sinos geral, espontâneo, badaladas de autêntica fé. O jogo da vitória foi assistido pelo rádio, em praças públicas, através de alto-falantes, nenhuma imagem na TV; não tínhamos ainda satélite para transmissões ao vivo, devíamos nos contentar com os filmes editados, cinco minutos se muito, exibidos no telejornal da noite, no dia seguinte. O cinema preencheu a saudade com a exibição de um filme da Copa do Mundo, produzido pelos alemães, exibido em agosto de 58 em todo o país.

A Odeon aproveitou a oportunidade e gravou e distribuiu 100 mil discos, um LP de 33 rotações, com a narrativa dos gols do Brasil comentados por Valdir Amaral. Toda a sociedade se mobilizou para premiar os craques que na época ganhavam em poucos e desvalorizados cruzeiros. Os jogadores receberam da indústria e do comércio, cada, uma moto Monark, um jipe Willis Overland, caneta Parker, aparelho de som Philips, relógio Ômega, um aparelho de TV GE e mais gasolina de graça por um ano nos postos Esso. Receberam também ternos e sapatos, 10 mil cruzeiros em conta poupança da Caixa e até ações da Petrobrás, oferta dos funcionários que doaram uma hora de trabalho, dentre outros mimos.

A bela Guiomar Pereira que convenceu Didi a fazer a promessa ao Senhor do Bonfim foi sua companheira por mais de meio século, várias vezes esteve na Bahia, acompanhando o jogador nos jogos oficiais, para louvar o santo e se deu ao luxo de morrer apenas um mês após o craque desencarnar.