A taxa básica de juros do país, a Selic, vem disparando nos meses iniciais de 2021. De apenas 2% ao ano no segundo semestre de 2020 – a menor da história – ela foi para 2,75% em março e no último dia 5 de maio pulou para 3,5%.
Trata-se de uma tendência do Brasil para os próximos anos. Segundo o Boletim Focus – relatório de mercado divulgado pelo Banco Central – a previsão é que a taxa de juros chegue a 5,5% ao ano até o final de 2021 e de 6,25% até o término de 2022.
Daí quem está iniciando no mundo dos investimentos deve pensar: e daí? O que, afinal, é essa taxa de juros e como ela influencia na minha vida e nas minhas aplicações?
Na verdade, pode influenciar em muita coisa. Por isso, nesse guia – mais um da série do CORREIO voltada para investidores iniciantes –, vamos explicar o que é a Selic e quais aplicações podem ser afetadas por essa mudança módica, mas profunda.
O que é Selic?
Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, que são negociações de títulos federais feitas entre Banco Central e instituições financeiras. Resumindo bem, são empréstimos para controlar o volume de moeda nos bancos.
A cada 45 dias, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central determina a Selic. Na última reunião desse órgão, foi definido que a taxa seria de 3,5%.
Na prática, isso significa que todas as taxas de juros do país terão esse valor como base, desde o empréstimo que você toma num banco até os rendimentos de um ativo de renda fixa.
Por que aumentar a Selic?
A Selic é um dos instrumentos mais cruciais à disposição da política econômica de um país. Alterá-la provoca um efeito cascata gigantesco: pense que implica desde os juros cobrados aos bancos para que eles tomem dinheiro emprestado.
Ou seja, na hora de repassar esse dinheiro a um cliente – pessoa física ou jurídica – em forma de empréstimo ou financiamento, o banco repassará o aumento do seu custo. Com isso, ficará mais caro para as pessoas obterem crédito. De cara, isso reduz o consumo.
Além disso, aumenta o valor das dívidas das empresas, que passam a segurar um pouco mais os seus gastos. Com juros maiores no país, mais agentes estrangeiros passam a investir no Brasil, abrindo assim uma tendência de queda do dólar.
Se o dólar de fato cair, a tendência é que setores estratégicos da economia reduzam o custo das suas matérias-primas, abrindo caminho para o controle dos preços de suas mercadorias.
Em suma: o objetivo de aumentar a taxa de juros nesse momento de 2021 é controlar a inflação, que está disparando desde a reta final de 2020. Menos crédito significa menos consumo. E se o consumo diminuir, abre espaço para que os preços caiam.
O que muda na poupança?
A influência mais óbvia é sobre a boa e velha caderneta de poupança. Segundo as regras, o rendimento da poupança é de 0,5% ao mês enquanto a Selic for superior a 8,5% ao ano. Abaixo disso, ela rende 70% da taxa básica de juros.
É o caso atual. Com a Selic a 3,5%, a poupança vai render 70% disso, ou seja, 2,45% ao ano. Simulando: se você por acaso tiver R$ 10.000 guardado na caderneta de poupança, ao final de 12 meses você terá R$ 10.245,00.
Para se ter uma ideia, o IPC-A, principal índice que mede a inflação do país e monitorado pelo IBGE, aponta que a alta dos preços foi de 6,76% nos últimos 12 meses. Bem abaixo, portanto, do rendimento da poupança.
O que muda no Tesouro Direto?
Esse título de renda fixa, emitido pelo Governo Federal e muito popular entre os investidores iniciantes, é sobretudo afetado quando se trata do chamado Tesouro Selic – uma das várias opções pelas quais ele é vendido.
A razão é óbvia: o rendimento dele está ligado à taxa básica de juros do período. Portanto, se você possui um Tesouro Selic, o seu rendimento já aumentou desde o dia 6 de maio.
Vale a pena também ficar atento aos títulos do Tesouro Direto prefixados. Ou seja, aqueles que possuem um rendimento predeterminado até o vencimento. Com a inflação em alta e com a Selic também subindo, pode não ser vantajoso adquiri-los.
O que muda no CDB?
Os Certificados de Depósito Bancário (CDB), títulos de dívida emitidos pelos bancos, podem ter, basicamente, três formas de remuneração: prefixada, atrelada ao índice IPC-A ou ao chamado CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
O impacto direto é no CDI. Essa é a sigla para a taxa de juros que é cobrada entre os bancos e que quase sempre fica pouco abaixo da Selic. Se a taxa básica de juros está em 3,5% ao ano, o CDI deve ficar em torno de 3,4%.
Portanto, digamos que você possua um CDB cuja remuneração é de 100% do CDI. Então seu título renderá 3,4% a partir de agora. Se for de 140% do CDI, então a rentabilidade será de 4,76% ao ano, se for de 200% do CDI será de 6,8% ao ano e por aí vai.
Obviamente, os CDBs que estão atrelados ao IPC-A podem ter altas grandes, já que a inflação está em disparada, e aquele prefixados podem não ser mais tão vantajosos.
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