A sociedade vai pagar a conta

Ricardo Alban é presidente da FIEB

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  • Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2018 às 01:03

- Atualizado há um ano

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O Brasil está paralisado por um movimento cujos desdobramentos trazem fortes preocupações. Começou com reivindicações próprias de uma categoria, atendidas na sua quase totalidade, sem que o país tenha voltado à normalidade. Capturado por interesses que extrapolam os da categoria, o movimento dos caminhoneiros projeta grandes incertezas na economia, com impactos não totalmente mensurados.

Hoje, completados dez dias de paralisação, percebemos problemas que extrapolam o desabastecimento de combustíveis. No campo, com a escassez de ração, já foram sacrificadas dezenas de milhões de aves e morreram de fome muitos milhares de suínos e bovinos. Além da falta de produtos como carne, leite e ovos, temos em pauta um grave risco à saúde pública, pois não há como enterrar todas as carcaças desses animais. Mais de 300 milhões de litros de leite se perderam, o mesmo acontecendo com frutas e verduras no campo e em trânsito nas rodovias nacionais.

Mas o pior ainda pode estar por vir. Empresas distribuidoras alertam que o abastecimento de água pode ficar comprometido, por falta de produtos químicos utilizados no tratamento. Na área de energia elétrica, as equipes de manutenção enfrentam dificuldades para se deslocar, o que pode comprometer a solução de eventuais problemas.

Na Bahia, o setor industrial foi gravemente atingido. Automóveis, alimentos e bebidas, dentre outros, reduziram a produção por não ter como escoar bens finais. Outros segmentos, como a petroquímica, impedidos por sua natureza de parar,  são obrigados a estocar produtos. Em última análise, estamos falando de forte perda de receitas, que podem não ser compensadas.

A pergunta que muitos fazem: quem pagará a conta? À exceção de pequenos produtores, que não têm como repassar custos e são obrigados a amargar prejuízos, de modo geral,  os custos da greve, incluindo as promessas do governo aos caminhoneiros, serão debitados no bolso do consumidor, que é quem banca todas as contas, como um eventual aumento de impostos. Em suma, a retomada do crescimento econômico, que já vinha lenta, irá demorar muito mais.

É importante rechaçar o inaceitável custo social de paralisações como a dos caminhoneiros: o de vidas humanas, com pacientes em hospitais correndo risco de morte, por ausência de insumos, como oxigênio, ou na fila de diálise; crianças e adolescentes fora das escolas; trabalhadores autônomos sem poder prestar serviços.

Dada a gravidade do momento, não é hora para movimentos oportunistas. Novas paralisações, no momento, são inaceitáveis. A prioridade, hoje, é o reabastecimento, seja de combustíveis, seja de alimentos.

É, porém, estratégico aproveitarmos o momento para reavaliar a forte dependência em relação ao transporte rodoviário. Mais que isso, precisamos avançar nas reformas estruturais – tributária, administrativa, previdenciária – sem as quais nossa economia jamais crescerá de forma sustentada.

Ricardo Alban é presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB).