A um mês da canonização, visitas a Memorial de Irmã Dulce triplicam

12 mil devotos estiveram no Complexo da Osid em agosto; em obras há um mês, santuário recebe mais R$ 500 mil da prefeitura

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  • Tailane Muniz

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 14:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Mal sabe explicar a razão da ansiedade que pulsa aos olhos ao notar que o calendário marca terça-feira, 17 de setembro de 2019. A menos de um mês da canonização de Irmã Dulce, no próximo dia 13 de outubro, a aposentada Ieda Maria Neves, 70 anos, se desconcerta ao falar sobre o que mais aguarda até lá.

Dividida entre a pressa de acender a primeira vela à Dulce, já enquanto santa, e ver de perto o corpo da religiosa - exposto em definitivo num túmulo de vidro, a partir desta quarta-feira (18), na Capela das Relíquias do Santuário da Bem-Aventurada, no Largo de Roma -, Ieda tornou mais frequente as visitas ao memorial da freira, após o anúncio da canonização pelo Vaticano, em maio deste ano.

O local reúne mais de 800 peças que referenciam fases da trajetória da santa e, de acordo com as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), se comparado a agosto de 2018, mês da beatificação da religiosa, o número de visitas triplicou: saltou de 4 mil para 12 mil, em 2019. Ieda, que não tinha qualquer regularidade, revela a meta semanal: "Pelo menos duas vezes por semana estou aqui". A aposentada Ieda Maria Neves visita memorial duas vezes por semana (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “A fé é a mesma, mas agora que ela é santa traz uma emoção diferente, maior, mas lá no fundo, quem crê nela e em seu poder de cura e milagre já sabia desse reconhecimento", pondera a aposentada Ieda, durante mais uma de suas visitas ao Complexo Turístico Religioso de Irmã Dulce - que dispõe do memorial, uma loja, um café, além do santuário.

O templo é o único equipamento que passa por intervenções na infraestrutura. Nesta terça, a prefeitura anunciou o investimento de R$ 500 mil nas obras, iniciadas pela Osid há um mês. Secretário de Obras Públicas, o vice-prefeito Bruno Reis assinou a ordem de serviço e explicou que o dinheiro vai ser investido na instalação de esquadrias com revestimento acústico, em um observatório metálico, além de aparelhos de ar-condicionado.

“Estamos muito felizes em contribuir para este acontecimento. Nosso desejo é conseguir parceiros que nos ajudem a ampliar a ajuda, porque eu tenho certeza que após a canonização tudo isso vai ter outra proporção, uma dimensão muito maior”, destaca Bruno, ao autorizar o início imediato das intervenções, que devem ser concluídas até 11 de outubro, quando acontece a reabertura total do santuário. Secretário de Obras Públicas, o vice-prefeito assinou ordem de R$ 500 mil destinados à Osid (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Até lá, a expectativa é de sejam finalizadas a recuperação estrutural, a infraestrutura do ar-condicionado, requalificação da rede elétrica, tratamento do teto, pintura interna, sonorização, além da infraestrutura de energia, também coordenadas pela Osid, segundo o gestor de Obras, Jorge Eduardo Vaz. “Tudo fica pronto até essa data. Por ora, abriremos apenas a Capela das Relíquias, que já passou pelas intervenções e fica aberta a partir de amanhã”.

‘Que olhem com amor’ Sobrinha de Dulce e superintendente da Osid, Maria Rita Pontes comentou que “todas as contribuições”, da gestão municipal, estadual e iniciativa privada, têm sua importância para que os preparativos sejam realizados da melhor maneira até o dia da vigília que vai acontecer no Santuário de Dulce, um dia antes da cerimônia da canonização, no Vaticano. “Uma surpresa muito boa receber essa ajuda da prefeitura, nós agradecemos muito e ficamos felizes”.

Rita comentou, ainda, sobre a expectativa para a exposição definitiva do cadáver da tia em novo túmulo, mais de 27 anos depois de sua morte. Corpo ficará definitivamente exposto na Capela das Relíquias, no Santuário, em Roma (Foto: Antônio Queiroz/CORREIO) “É um momento especial para nós, e eu espero que as pessoas venham com muito respeito, emoção e admiração, porque o que elas vão ver é o retrato do amor”, diz, em referência aos restos mortais que, dado o estado de conservação, deixaram surpresos o legista e o postulador do Vaticano, espécie de guia da canonização.

O corpo de Dulce esteve ao alcance de vista dos fiéis uma única vez, em junho de 2010, quando ficou exposto por dois dias na capela de Santo Antônio, onde ocorreu o ritual de transferência do cadáver para o túmulo, em 2010, e segundo ponto de parada depois do sepultamento, na Igreja da Conceição da Praia, em 1992. 

Nesta quarta-feira (18), quando a Capela das Relíquias for reaberta ao público, os devotos vão praticar a fé “às vistas” da santa. Um momento de oração com o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, dom Murilo Krieger marca o momento em que o corpo de Dulce passa a estar visível, por meio de um túmulo de vidro, com detalhes de estrutura que só serão conhecidos na hora, a partir das 15h.

Moradora de Camaçari, a merendeira Elisabete Santos, 53, não vai estar presente, mas fez questão de garantir, nesta terça, uma imagem da santinha para a tia, a quem diz ter se inspirado na fé em Dulce. “Sou ligada demais a ela, tenho um irmão que se trata no hospital, e vim aqui hoje só para levar essa imagem”, comenta ela, que espera participar da cerimônia que acontece no dia 20 de outubro, na Arena Fonte Nova, em Salvador. A merendeira Elisabete Santos quer participar de festa na capital (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Turismo católico O crescimento no número de visitas ao Memorial, incluindo o de turistas internacionais, indica, segundo a conselheira das Obras, Rosemma Maluf, que os 14 bairros que compõem a Península de Itapagipe tendem a se tornar um grupo com “grande potência do turismo religioso”. Para além dos muros do Complexo de Dulce, ela acredita que todo o entorno deve ser beneficiado, especialmente o setor de comércio e serviços, como a hotelaria.

À reportagem, Rosemma explicou que o Conselho da Osid iniciou, há cerca de um mês, um projeto para “preparar” toda a região para receber os fiéis que, acredita, devem vir de todos os lugares do mundo. “Fizemos pesquisas, realizamos alguns diagnósticos de atuação e estamos trabalhando, em grupo, para sensibilizar os comerciantes e o público geral daquela localidade”.

O vice-prefeito também comentou sobre a intenção de alavancar Salvador no segmento. Segundo ele, as intervenções da gestão municipal integram o conjunto de ações que ocorrem na Cidade Baixa para implementação do Caminho da Fé, a exemplo da requalificação da Avenida Dendezeiros e da Colina Sagrada, no Bonfim, que terá a segunda etapa concluída até o final do mês.