A violência é o fetiche do nosso tempo

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  • Paulo Sales

Publicado em 16 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O século 21 vem se mostrando por inteiro, revelando o quanto a violência é o fetiche do nosso tempo. No caso do massacre contra 49 inocentes em duas mesquitas, na Nova Zelândia, não há nenhum inimigo externo a ser responsabilizado. A doença vem de dentro, como um câncer. A princípio, lembra muito o atentado da Noruega em 2011. Um desses fanáticos de extrema direita com ideias difusas e absolutamente tolas, que para azar de todos nós (sim, essa tragédia também nos atinge) estava armado até a raiz dos cabelos. Panacas como esse surgem de vez em quando, como anomalias numa ninhada sadia, e costumam fazer um estrago danado. Mas é sintomático que o novo século esteja sendo cada vez mais povoado por eles.

Há algo de errado em nós, na forma como vemos e agimos no mundo, e nesse sentido vale ler O Mal Ronda a Terra, do historiador Tony Judt, que explica de forma lúcida como deixamos de investir no bem-estar social para nos tornarmos reféns do individualismo e do culto ao consumo e à violência. Tanto em nações abarrotadas de miseráveis, como o Brasil, que sofreu seu mais recente massacre esta semana numa escola em Suzano, quanto nas mais prósperas, caso do pujante país da Oceania.

Uma coisa, é claro, não tem nada a ver com a outra. Mas ambas fazem parte de um mesmo cenário universalmente desolador, no qual o que mais se destaca é a banalização, a espetacularização e o recrudescimento da violência. Seja na forma de execuções transmitidas ao vivo nas redes sociais, armas de destruição em massa, bombardeios “cirúrgicos” ou milicianos fuzilando uma vereadora progressista. É a grande marcha da história e as pequenas tragédias individuais se unindo para tragar o máximo de vidas possível. E nós, sobreviventes vulneráveis e desnorteados, seja no Brasil ou na Nova Zelândia, apenas lamentamos a desgraça alheia e louvamos a nossa sorte.

Paulo Sales é jornalista e escritor

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