Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Clarins, tambores e sinos saúdam o retorno presencial da festa, que segue até domingo (21); confira a programação de quinta
Luana Lisboa
Publicado em 17 de novembro de 2021 às 23:43
- Atualizado há 10 meses
A esperança de um mundo melhor, presente no sonho da cachorra Baleia, protagonista de Vidas Secas, maior obra de Graciliano Ramos, era também a de muitos presentes nesta quuarta-feira (17) na abertura desta da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), que voltou a ser presencial.
Homenageado da festa, o cunhado de Jorge Amado e escritor de quatro romances esteve presente no Largo do Pelourinho, saudado com sinos da Igreja do Rosário dos Pretos, clarins nas janelas dos sobrados e 109 tambores de grupos percursivos, para simbolizar os 109 que o baiano faria em 2021.
Das sacadas, pipoca no público amante da literatura. Baianas de acarajé, leitores, escritores e artistas ocupavam o local, envolto por música, expectativa e pelos ecos da história do centro da mais antiga capital do país.
“A Flipelô é fundamental para aproximar o público leitor do autor e das suas obras, o que ajuda a disseminar o gosto pela leitura. Meu pai foi um bom exemplo do que representa o evento, uma vez que muitos jovens iniciaram o contato com a literatura através de suas obras”, afirmou João Amado, 74, filho de Jorge Amado.
Ele explica que obras como Capitães de Areia atraem o leitor jovem, mesmo que não seja o livro físico, mas através de plataformas eletrônicas. E junto aos e-books e PDFs, a modernidade também traz a possibilidade de acesso através de plataformas como Youtube, onde o Flipelô teve suas atrações transmitidas.
O evento gratuito, de iniciativa da Fundação Casa de Jorge Amado e do Serviço Social do Comércio (SESC), ocupa 123 espaços diferentes no Pelourinho e acontece até o dia 21 de novembro, com mesas de debates, bate-papos com públicos de todas as idades, encontros com autores, lançamentos de livros, saraus de poesia e cordel, programação infantil, exposições, apresentações teatrais e musicais (confira programação abaixo).
A retomada está sendo acompanhada pelo responsável pela Comissão Especial de retomada de eventos na Câmara Municipal de Salvador, Cláudio Tinoco (DEM). “A Flipelô ocupa um sítio importante da cidade e estimula a presença das pessoas nas ruas. Um festival literário como esse movimenta uma quantidade enorme de pessoas e, para isso, temos uma capacidade instalada que permite que as pessoas estejam ocupando não só espaços internos, como teatros, museus e restaurantes, como na área externa. Estamos seguindo protocolos muito importantes para que mantenhamos restrições necessárias”, explica.
Um controle de pessoas estava sendo feito na porta dos locais mais movimentados da noite. Foi o que notou Angeli Patricia, de 19 anos, ao pisar no evento na expectativa de checar as exposições artísticas, mas ser também surpreendida pelo show de Jau no espaço da Praça Pastores da Noite. A apresentação foi introduzida após a exibição de um vídeo-documentário que exibia a amizade entre Graciliano e Jorge Amado, em uma produção dos baianos Beth Ramos e Harildo Deda.
“Vim para ver a exposição dos quadros de André Fernandes e fui surpreendida com o show, o meu primeiro desde que a pandemia começou. Estou voltando aos poucos e essa foi uma maneira maravilhosa de retornar”, disse.
O cantor, ex-Olodum, se apresentou com releituras de canções, músicas inéditas e sucessos da carreira. De “Dona Cila", de Maria Gadú, passando por “Deus me proteja de mim”, de Chico César, com "Telegrama", de Zeca Baleiro, o artista se revelou ansioso para a volta aos palcos no contexto do novo normal.
“Eu acho que o Pelô estava precisando do evento, dessa mola propulsora para capacitar o Pelourinho para um outro ambiente, que abrace o mundo. Há tempos que o Pelourinho está com uma força cultural gigantesca sem poder abrir esses braços e abraçar as pessoas. A Feira dá essa base para voltarmos ao que sempre amamos. É representação cultural, alimenta famílias e ficar encarregado dessa abertura me traz uma satisfação enorme”, declara.
O início do retorno à normalidade também foi positivo para a administração dos espaços culturais e dos escritores independentes. A administração da livraria LDM, representada por Luana Maldonado, explica que o lugar só funciona no Pelourinho, todo ano, durante a época de Flipelô. Por isso, no ano passado, a livraria permaneceu fechada.
“Desde o primeiro ano do evento, montamos um espaço exclusivo com livros dos autores participantes e com uma seleção especial voltada para Festa Literária”, explica. Uma das estantes, logo na entrada do espaço, estava ocupada exclusivamente pelos livros dos participantes. Um deles é Deko Lipe, escritor que estará ocupando a mesa “Por uma literatura sem amarras” no dia 21, às 11h.
O livro de Deko, Meus Pais e eu, conta a história de Clara, uma menina de 13 anos adotada por um casal LGBT. “É incrível não só participar da Festa, mas também lançar o livro. Ele foi feito em um momento de distanciamento social e essa vai ser a primeira vez que teremos uma sessão de autógrafos presenciais. É um sonho, nunca pensei que estaria aqui”, diz.
As poetas Anajara Tavares e Rita Pinheiro também foram à abertura, não para expor suas obras, mas para prestigiar um colega, Nelson Maca. O escritor lançou a Ocupação Ani é dez, na Casa do Benin, com exposição fotográfica de todos os seus livros publicados. "Independente da festa literária, nós somos seres literários que circulamos por essa cidade e a rua é nosso palco", esclarece Anajara. "Aqui você encontra poetas subindo e descendo as ladeiras, porque o melhor do Flipelô é estar encontrando nossos amigos e poder ocupar as ruas com poesias", finaliza Rita.
Confira programação de quinta-feira (18) EXIBIÇÃO DE VÍDEO – YOUTUBE - 9h Espetáculo Cênico Vidas Secas Cia Caravan Maschera (SP) LIVE REMOTA – YOUTUBE – 10h Mesa Sertão revisitado: Bacurau além das telas e páginas Kleber Mendonça Filho (PE) Mediação: Rodrigo Casarin (SP) MUSEU EUGÊNIO TEIXEIRA LEAL - 11h PRESENCIAL Com a palavra o escritor Um buzu para a Cantina da Lua Clarindo Silva (BA) Elizeu Paranaguá (BA) LIVE REMOTA – YOUTUBE – 11h Bate papo Árvore da poesia e os frutos da Língua Portuguesa Victor Gama (Angola) José Inácio Vieira de Melo (BA) FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO – CAFÉ TEATRO ZÉLIA GATTAI – 11h PRESENCIAL Com a palavra o escritor Mirantes poéticos Antonio Brasileiro (BA) Roberval Perey (BA) Mediação: Alana Freitas (BA) CASA DO BENIN – 11h Roda de conversa e apresentação de publicações RECONEXÕES TRANSATLÂNTICAS: A CASA DO BENIN EM MEMÓRIAS DO AFROFUTURO (Re)Pensando Acervos: Memórias, Utopias e Futuro Auríbio Farias (PE) Andrea de Britto (BA) José Eduardo (BA) Mediação: Jamile Borges Comentários em Francês com Ferréol Bah (BEN) Publicações: NKARINGANA: objetos e histórias em trânsito (Intervalo Fórum de Arte) A Casa do Benin na Bahia: projetos, memórias e narrativas (Memórias Situadas) LIVE REMOTA – YOUTUBE – 13h Mesa Literatura à risca? quadrinhos, ilustrações e (re)leituras Lila Cruz (BA) Jefferson Costa (SP) Mediação: Renato Cordeiro (BA) EXIBIÇÃO DE VÍDEO – YOUTUBE - 14h Roda de Conversa Histórias do Metrô Bahia Camila Moreira (BA) Niltim Lopes (BA) Mediação: Angela Fraga (BA) CASA DO BENIN – 14h30’ Roda de Conversa (Editoras Organismos e Segundo Selo) Os mil mundos da literatura infantil Rodrigo Araújo (BA) Jaqueline Santana (BA) Fernanda Oliveira (BA) Mediação: Lorena Ribeiro (BA) CASA DO BENIN – 15h30’ Roda de Conversa (Editoras Organismos e Segundo Selo) Coleção das Pretas - Processo criativo e escrita de mulheres negras Kota Gandaleci (BA) Camila Carmo (BA) Vânia Melo (BA) Mediação: Silvana Carvalho (BA) CASARÃO 17 -16h PRESENCIAL Lançamento Coletivo Autores Independentes TEATRO SESC-SENAC PELOURINHO - 16h HIBRIDO Com a palavra o escritor Graciliano Ramos: duas falas Jorge de Souza Araújo (BA) Cosme Rogério (AL) Mediação: Aleilton Fonseca (BA) CASA DO BENIN – 16h30’ Roda de Conversa (Editoras Organismos e Segundo Selo) Na Encruza - Teoria na encruzilhada: multiplicidades políticas e epistêmicas no pensamento negro afrodiaspórico Silvana Carvalho (BA) Osmundo Pinho (BA) Henrique Freitas (BA) Mediação: Jorge Augusto (BA) EXIBIÇÃO DE VÍDEO – YOUTUBE - 17h Espetáculo Cênico Koanza Sulivã Bispo (BA) LIVE REMOTA – YOUTUBE – 17h30’ Mesa Por uma outra história do Brasil! Kaka Werá Jecupé (SP) Mediação: Daniel Faria (BA) FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO – CAFÉ TEATRO ZÉLIA GATTAI – 18h HIBRIDO Terreiro de Poesia - AVOZEDITA Novas baianidades poéticas André Galvão (BA) Fabrício Oliveira (BA) Lilian Almeida (BA) CASA DO BENIN -18h Lançamentos e Autógrafos Monia da Hora (BA) Rodrigo Araujo (BA) Jaqueline Santana (BA) Coleção Rabiscos (BA Marcelo Ricardo (BA) Manoela Ramos (BA) TEATRO SESC-SENAC PELOURINHO - 19h HIBRIDO Espetáculo Graciliano um brasileiro alagoano – Memórias de Heloisa Paulo Poeta (AL) Chico de Assis (AL) Arilene de Castro (AL) Encenação: Marco Antonio de Campos (AL) FUNDAÇÃO CASA DE JORGE AMADO – CAFÉ TEATRO ZÉLIA GATTAI – 19h HIBRIDO Terreiro de Poesia - AVOZEDITA Noite do Norte Enrico Di Miceli (AP) Joãozinho Gomes (PA) PRAÇA PASTORES DA NOITE – 20h30’ Apresentação musical O sertão universal Sertanilia
*Com orientação da editora Ana Pereira