'Achei que fosse morrer', diz vítima de desabamento no Dois de Julho 

Casarão desabou parcialmente; Defesa Civil interditou o local

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  • Milena Hildete

Publicado em 13 de julho de 2018 às 08:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Milena Teixeira/CORREIO

Sentado na calçada, o ambulante Leonardo Marcelino Pereira, 58 anos, fala com detalhes sobre a pior noite de sua vida - como assim prefere definir a madrugada desta sexta-feira (13). Ele é um dos três moradores do imóvel que desabou na Rua do Sodré, bairro do Dois de Julho, em Salvador. Marcelino escapou por pouco do desabamento (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) "Eu estava assistindo o programa de Pedro Bial quando ouvi a primeira telha cair. Achei que fosse algum gato, mas não era. Quando eu vi, o teto estava desabando em cima de mim. Caiu tudo e eu fiquei todo encolhido debaixo dos escombros, mas graças a Deus tô vivo pra contar", diz.  

Sem ter para onde ir, o ambulante está na rua desde a madrugada - o desabamento ocorreu por volta das 3h. "Eu não tenho pra onde ir, porque não tem como achar outro aluguel mais barato. Desde quando desabou que eu estou na rua. Vou pedir ajuda a vizinhos e colegas", conta. A Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps) informou que vai assistir o ambulante com o auxílio-aluguel de R$ 300. 

O ambulante diz que só saiu de debaixo dos escombros com a ajuda dos bombeiros. "O bombeiro chegou, botou a escada e eu saí", relembra, mostrando alguns hematomas e escoriações nos joelhos, braços e cintura.

Leonardo mora de aluguel no local há 25 anos. O imóvel onde ele vive pertence ao taxista Emanuel Florentivo, 51 anos. Conforme o proprietário, o prédio é herança familiar. "Quando meu pai faleceu,eu fiquei com vontade de vender o prédio, porque vi que os problemas estruturais começaram a aparecer e eu não tinha dinheiro para construir. Então, aluguei a casa de cima e a debaixo por um valor pequeno, pois não queria que o lugar ficasse vazio e fosse invadido", conta. 

Emanuel ganhava R$ 200 no aluguel do prédio. Ele alugava a casa debaixo por R$ 100 e a de cima, onde ocorreu o desabamento, pelo mesmo valor.  

Defesa Civil e Iphan A Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou, em nota, que o imóvel que desabou foi isolado. Segundo a Codesal, os três moradores do casarão foram notificados para deixarem o local. O CORREIO não conseguiu localizar os outros dois moradores do imóvel. 

Durante uma vistoria no casarão na manhã desta sexta (13), o engenheiro da Codesal, José Carlos Palma, disse que uma parede e um pilar vão ser removidos do imóvel. "Estamos aguardando o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), porque o imóvel é tombado. Vamos fazer a avaliação e, a depender da discussão, vamos remover uma parede e um pilar", afirmou.

Palma disse ainda que não sabia dizer se o prédio estava condenado. "Eu não sei se estava, não posso falar sobre isso. Só sei que agora [depois do desabamento], o imóvel está".

No início da tarde, um funcionário do Iphan, não identificado pela reportagem do CORREIO, esteve no prédio. Segundo ele, o Instituto entendeu que a Codesal poderia demolir uma parede do prédio por questões de segurança. "O proprietário precisa apresentar um projeto de reforma ao Iphan. Depois de aprovado, ele pode dar entrada na Prefeitura", explicou.

A assessoria do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA) confirmou que atendeu uma ocorrência de desabamento de imóvel na Rua do Sodré e que, quando a equipe chegou ao local, verificou que a parede de um imóvel desabou e atingiu outra edificação. Uma vitima foi retirada com escoriações leves. 

Mais vítimas O eletricista André Luís de Jesus, 43 anos, que mora ao lado do casarão, também é uma vítima do desabamento."O prédio desabou e o entulho caiu do lado da entrada da minha casa. Para sair de lá, eu tive que ser auxiliado pelo Corpos de Bombeiros", conta.André estava dormindo com a família quando ouviu o teto da casa do vizinho desabar. "Eu acordei com o barulho e puxei logo minha filha. Fiquei com medo, porque não tinha como sair de casa".

A Codesal também realizou uma vistoria em um apartamento que fica do lado do imóvel afetado. A auxiliar de secretaria Rafaela Moura, 38, mora neste apartamento. "Estou sem ter como entrar em casa, porque o entulho está todo na minha entrada. Precisei pular a janela e mandei meus filhos pra casa da tia", afirma ela. Sua cadelinha, Mel, ficou bastante assustada com o desabamento. 

Segundo o engenheiro da Codesal, o apartamento que teve a passagem bloqueada não está em situação de risco. "Não tem nenhum tipo de risco. Estamos esperando o Iphan para retirar os entulhos e liberar a passagem", explicou Palma. Rafaela está na rua com sua cadelinha, Mel (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Confira a íntegra da nota da Codesal:"A Codesal procedeu vistoria de um imóvel na Rua do Sodré (Largo Dois de Julho) que desabou parcialmente, atingindo imóvel vizinho. Não foram registradas vítimas. Os três moradores do casarão sinistrado foram notificados para evacuarem. A área foi isolada. A Codesal realiza nova avaliação do ocorrido agora pela manhã".

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier