Acidente na Água Brusca choca pedestres: 'Diria que era mentira'

Caminhão carregado de pescado despencou dentro da Terwal

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  • Bruno Wendel

Publicado em 14 de janeiro de 2022 às 11:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

De braços cruzados, Antônio Carlos Muniz de Souza, 49 anos, estava impressionado com a cena do acidente na Ladeira da Água Brusca. Ele parecia não acreditar mesmo estando ali, cara a cara com o caminhão de ponta-cabeça. "Estou besta com isso. Se alguém me contasse, diria que era mentira. Passo aqui todos os dias para ir trabalhar. Deixei tudo lá para ver com os meus próprios olhos", disse ele, que desceu a ladeira por volta das 5h desta sexta-feira (14) para vender calendários e canetas no Comércio.    Uma hora antes de Antônio passar pelo local, o caminhão que transportava 8 kg de pescado subiu a calçada e despencou dentro da área  da Terwal Máquinas, atingindo parte de um galpão, onde funciona  o depósito. "Foi um livramento", comentou ele.  Apesar de a boleia ter sido destruída, o motorista saiu milagrosamente ileso, sofreu sequer um arranhão. Ele, identificado apenas como Luís, ainda ajudou na retirada do pescado (peixes de vários tipos, como arraias,  e moluscos, a exemplo de polvos) que ficou espalhado dentro do depósito.

Luís trazia a carga do Rio Grande do Norte para abastecer os boxes do Mercado do Peixe. Foram mais de 10 horas de viagem. Ele não quis falar sobre o acidente, ocorrido por volta das 4h. No entanto, as pessoas que estavam no local relataram que o veículo ficou sem freio na descida da ladeira. "O caminhão descia e quando ele (motorista) procurou o freio, não funcionou", contou uma das pessoas que ajudava na retirada da carga. Ele disse que o motorista agiu rápido e evitou várias mortes. "Quando viu que não ia parar, ele jogou o caminhão para esquerda. Se ele não fizesse isso, ia descer de vez e pegar as pessoas que ficam no final da ladeira abastecendo o Mercado. E é muita gente", relatou.   Motorista disse que faltou freio no caminhão que despencou na ladeira (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) O caminhão invadiu a contramão, subiu a calçada, derrubou um muro de aproximadamente um metro de altura e despencou dentro da Terwal. "Atingiu parte do depósito das nossas três lojas. Ainda não temos a dimensão do prejuízo, mas não será pouco. O caminhão só está em pé porque está apoiado na viga do teto, que ficou com fissura por causa do acidente. Já chamamos um profissional para fazer uma avaliação. Provavelmente teremos que demolir a viga. Sem falar que alguns equipamentos do depósito foram atingidos pelo impacto. Vamos ter que também fazer um reparo no teto", contou um dos sócios da empresa, Barcino Esteve. 

Apesar de o motorista ter realizado uma manobra para evitar que o caminhão descesse desgovernado e atingisse as pessoas que estavam no início da ladeira, Esteve disse que se o acidente tivesse ocorrido por volta das 7h, a tragédia seria inevitável. "No fundo do depósito funciona uma fábrica de peças e  local onde o veículo parou é o trajeto que os empregados fazem diariamente. Ainda bem que isso aconteceu na madrugada. O estrago foi grande , mas isso é bem material, a gente refaz. Poderia ser pior", declarou.Carga Durante todo o dia, pelo menos 10 pessoas, incluindo o motorista, trabalhavam na retirada da carga. Onde havia pescado, eles iam catando e levando para os boxes do Mercado do Peixe, destino final do carregamento. Eles corriam contra o tempo, afinal peixes e moluscos estavam fora da câmera refrigeradora do caminhão. "Adianta, adianta, se demorar muito vai perder tudo. Chega de prejuízo. A cota já estourou", berrava uma das pessoas carregando duas arraias.  No entanto, o pescado está impróprio para o consumo, segundo o especialista de inspeção de produtos de origem animal, o auditor fiscal agropecuário do Ministério da Agricultura Francisco Mandarino Villas Bôas. “O acidente aconteceu 4h e às 08h a carga estava ainda no local. Ou seja, já havia mais de quatro horas em temperatura ambiente. A cadeia de frio foi interrompida e perdeu as características fisioquímicas e organolépticas do produto. Sem falar que muita gente pegando os peixes com as mãos, tudo fora de padrão. Aquilo ali é um cadáver. Se a gente não conservar bem, se não tiver condições boas de higiene, a contaminação vai aumentando. Aquela carga está imprópria para o consumo”, declarou Villas Bôas.    Carga está imprópria para consumo e pode trazer sérios riscos à saúde (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) O consumo desse pescado pode resultar em problemas seríssimos à saúde. “Um problema gastrointestinal em crianças e adultos. Uma pessoa de idade pode ter uma gastroenterite braba e pode morrer”, alertou. Ele falou sobre a ausência de medidas sanitárias. “No local teve a presença de vários órgãos, como a Transalvador e o Detran. Tinha tudo, mas você não viu um serviço de inspeção sanitária, seja do município ou do estado para interditar e destruir a carga”, disse o especialista.   Em relação ao caminhão, a Transalvador informou que a retirada vai ser feita por um guincho particular. “Nós autorizamos que este trabalho somente a partir das 21h. Porque é quando impactar menos no fluxo do trânsito da região”, diz nota enviada à reportagem.