Adolescente que atirou e matou Isabele é internada por determinação judicial

Para polícia, ela assumiu risco de matar amiga; defesa vai recorrer

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 10:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A adolescente de 15 anos que matou com um tiro Isabele Guimarães Ramos, 14 anos, se apresentou na noite da terça-feira (15) na Delegacia Especializada do Adolescente em Cuiabá, no Mato Grosso. Ela vai cumprir internação por conta do ato infracional. Isabele morreu atingida por um disparo no rosto em 12 de julho deste ano, em um condomínio de luxo de Cuiabá. A jovem que atirou alega que o tiro foi acidental, mas a polícia caracterizou como ato análogo ao homicídio doloso, afirmando que ela no mínimo assumiu o risco pela morte da amiga.

A internação terá prazo de 45 dias, determinada pela juíza Cristiane Padim, da Vara da Criança e da Juventude do Mato Grosso. O Ministério Público Estadual pediu pela reclusão, aceitando a conclusão da polícia. A defesa da adolescente diz que vai pedir um habeas corpus e tentar reverter a decisão.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que menores que cometem atos infracionais análogos a crimes hediondos – como estupro e homicídio qualificado – sejam internados.

Depois da morte de Isabele, a adolescente acusada contou sua versão. Ela diz que foi até o quarto para guardar a arma do namorado. Nesse momento, Isabele estava no banheiro da suíte. A jovem contou à polícia que as duas armas estavam em uma case, uma delas carregada. Ela diz que foi guardar o equipamento a pedido do pai.

Uma das armas caiu no chão. A adolescente diz que tentou pegar, mas se desequilibrou ao levantar essa arma, que acabou disparando quando ela estava no quarto, fora do banheiro. O tiro atingiu Isabele.

A versão foi contestada pela polícia, com base em laudos periciais. Para a polícia, as duas estavam dentro do banheiro. A conduta foi considerada dolosa porque, no mínimo, a adolescente assumiu o risco de matar Isabele com seu comportamento.

O namorado da adolescente, que tem 16 anos, foi indiciado foi indiciado por ato infracional análogo ao porte ilegal de arma de fogo, porque transitou armado sem autorização. Ele levou as armas para a casa da namorada. O pai dele, dono das armas, também foi indiicado por omissão de cautela na guarda de arma de fogo. A polícia afirma que ele não tinha conhecimento que o filho levou as armas, mas tinha obrigação de guardá-las em local seguro.

O empresário que é pai da adolescente que atirou foi indiciado por posse de arma de fogo, homicídio culposo, entrega de arma para adolescente e fraude processual. A polícia afirma que ele intencionalmente modificou a cena do crime, mesmo tendo sido alertado por um enfermeiro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

“Quando a equipe do Samu chegou (na casa), havia apetrechos de armas em cima da mesa e ele pediu para que a mulher guardasse. Isso não poderia ter sido alterado”, disse o delegado Wagner Bassi, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pelo caso.

A cápsula da bala que atingiu a adolescente na cabeça também foi movimentada depois do crime pelo filho dele, que é irmão gêmeo da adolescente que atirou, o que pode ter atrapalhado a investigação, diz a polícia. Em ligações para o Samu, o empresário afirmou que Isabele tinha caído no banheiro, não sido baleada.