Adolescentes lotam cemitério para despedida de vítima de chacina

Pablo dos Santos tinha 15 anos e foi morto próximo de casa, em Portão

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  • Gil Santos

Publicado em 21 de maio de 2019 às 21:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

Um problema burocrático quase impediu o sepultamento do corpo do estudante Pablo Ferreira dos Santos, 15 anos, ocorrido na tarde desta terça-feira (21), no Cemitério de Portão, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Ele foi uma das seis vítimas da Chacina de Portão, ocorrida no sábado (18).

A cerimônia estava marcada para às 16h, mas o corpo só chegou no cemitério depois das 17h, sob aplausos. A família estava preocupada porque o cemitério fechava às 17h30. O velório durou 15 minutos, mas foi marcado por forte emoção. 

O sepultamento chamou a atenção pela quantidade de adolescentes, colegas de escola e amigos de Pablo, e pela emoção dos familiares do jovem. Alguns ainda estavam vestidos com a camisa do Colégio Social de Portão, onde o jovem estudava. Pelo menos, oito pessoas precisaram ser amparadas, e outras duas passaram mal e desmaiaram. Algumas pessoas passaram mal (Foto: Betto Jr/ CORREIO) A mãe do estudante, Tamires Ferreira, vestiu uma camisa com a imagem do filho e levou flores amarelas para a despedida. Ela era uma das mais abaladas. “Meu bebê morreu. Mataram meu filho”, repetia constantemente.

Pablo era o mais velho de cinco filhos e foi assassinado quando conversava com uma amiga na rua Santo Antônio. Bandidos armados chegaram no local e abriram fogo contra os moradores. O estudante foi baleado na cabeça e morreu antes de receber os primeiros socorros.

Segundo a avó de Pablo, Vanja Nascimento, ele tinha o sonho de ser jogador de futebol e o esporte fazia parte da rotina do estudante. Muito emocionada, ela precisou ser amparada e não conseguiu acompanhar o cortejo até o local do sepultamento. Jovem é amparada depois da chegada do corpo (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Chacina Era início da noite de sábado quando homens armados entraram no bairro de Portão e, de dentro de um carro, dispararam tiros a esmo. Depois de Pablo, foram mortos Raimunda Jesus dos Santos, 35, e os dois sobrinhos dela: Raiane Freitas, 12, e Guilherme Gomes da Silva, 19 anos. O pintor Rogério Oliveira da Silva, 36, estava saindo de casa quando foi atingido e morreu.

Arthur Silva de Jesus Moreira, 23, foi a última das vítimas. Ele estava com o filho de 4 meses nos braços e foi baleado na cabeça enquanto protegia a criança. Arthur também era pintor e resistiu por dois dias na UTI do Hospital do Subúrbio, onde teve morte cerebral confirmada no final da tarde desta segunda-feira (20).

A família de resolveu doar os órgãos do pintor. O fígado, os dois rins e as duas córneas salvaram a vida de cinco pessoas que aguardavam na fila de transplantes da Bahia. Já as quatro válvulas do coração seguiram para pacientes de Curitiba, no estado do Paraná.

Segundo a polícia, os atiradores fazem parte de uma quadrilha que está disputando a região onde as vítimas foram mortas com traficantes de outro grupo. Essa rivalidade entre bandidos teria sido o motivo da chacina. Todas as vítimas estavam na porta de casa ou próximo da residência quando foram atingidas.

Três suspeitos de participação na chacina morreram no domingo (19), um dia depois da chacina, durante confronto com policiais militares, na Lagoa dos Patos, comunidade de Lauro de Freitas. Antes das mortes, os homens roubaram o carro de um motorista por aplicativo.

Confira quem foram as vítimas da chacina de Portão:

Guilherme Gomes da Silva, 19 anos – Trabalhava com o sogro em uma oficina de carros, mas, recentemente, havia passado numa seleção para ser atendente numa rede de fast-food. Seria pai em cinco meses. O corpo dele foi enterrado no domingo (19), no Cemitério de Portão. Ele estava na porta de casa quando foi baleado. Era sobrinho de Raimunda e primo de Raiane, mortas na chacina. Guilherme deixou esposa grávida (Foto: reprodução) Raiane Freitas, 12 anos – Estudante do 8º ano na Escola Municipal Pedro Paranhos, sonhava em ser bailarina. No momento do crime estava na porta de casa, em pé atrás da tia Raimunda e conversava com o primo Guilherme, também mortos na chacina, quando foi baleada. O corpo dela foi sepultado no domingo (19), no Cemitério de Portão. Raiane e Guilherme eram primos (Foto: reprodução) Raimunda Jesus dos Santos, 35 anos – Era doméstica. Estava sentada numa cadeira na porta de casa quando foi baleada. Era casada e deixa três filhos adolescentes, um menino de 16 anos e duas meninas com 14 e 11 anos. O corpo dela foi sepultado na segunda-feira (20), na cidade de Esplanada, no Nordeste da Bahia. Raimunda deixou marido e três filhos (Foto: reprodução) Rogério Oliveira da Silva, 36 anos - Pintor, ele era casado e tinha uma filha de 14 anos. Estava indo até o carro pegar um creme para cabelo que esqueceu no veículo quando foi baleado. O corpo dele foi sepultado no Piauí. Uma van com 15 amigos e familiares saiu de Salvador para a cerimônia. Rogério se mudou para a Bahia há 18 anos junto com quatro irmãos e, desde então, morava em Portão. Rogério deixou esposa e uma filha (Foto: reprodução) Pablo Ferreira dos Santos, 15 anos – Estudante do Colégio Estadual Social de Portão, ele tinha o sonho de ser jogador de futebol. Jogar bola era uma tarefa quase que diária. Pablo era o mais velho de quatro irmãos e morava com os pais. Ele estava com uma amiga na Rua Santo Antônio quando foi morto. O corpo dele será sepultado hoje, mas o local e horário ainda não foram definidos. Pablo sonhava em ser jogador de futebol (Foto: reprodução) Arthur Silva de Jesus Moreira, 23 anos – Foi baleado na cabeça e está internado no Hospital do Subúrbio. No momento do ataque, Arthur estava na frente de casa, com o filho de quatro meses nos braços. Ao ouvir os disparos, o pintor se jogou no chão com o bebê e conseguiu proteger a criança, que não teve ferimentos graves e passa bem. A morte cerebral foi confirmada, ontem, e a família resolveu fazer a doação de órgãos. O local e horário do sepultamento ainda não foram definidos. Arthur morreu protegendo o filho (Foto: reprodução)