Advogado diz que foragido do caso Atakarejo é alvo de ameaças

Assistente da segurança levou tio e sobrinho mortos até sala do mercado

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  • Bruno Wendel

Publicado em 13 de maio de 2021 às 15:33

- Atualizado há um ano

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Considerado foragido, um assistente da segurança do supermercado Atakarejo de Amaralina teme pela vida: ele vem sendo ameaçado por traficantes e também por outros funcionários da loja. As intimidações são pelo fato de ele ter ajudado a conduzir tio e sobrinho para uma sala do supermercado e depois presenciado toda a dinâmica de entrega das vítimas ao tribunal do tráfico. 

“Ele ficava na porta da loja aferindo a temperatura das pessoas. Na hora da confusão, ele levou um dos rapazes, Bruno, para uma sala P2, onde os dois rapazes aparecem no vídeo. Ele só cumpriu ordens, mas assistiu tudo e por isso vem sendo ameaçado”, declarou ao CORREIO o advogado do rapaz, Thalis Bizerra, na manhã desta quinta-feira (13). O cliente dele foi um dos acusados que teve a prisão solicitada no inquérito que apura as mortes de Bruno e Yan Barros e segue procurado pela polícia.

Segundo Bizerra, as primeiras ameaças surgiram de traficantes da Fazenda Coutos, onde tio e sobrinho moravam. Apesar de o Secretário de Segurança Pública, Ricardo César Mandarino, ter dito que eles não eram bandidos, as vítimas moravam no bairro controlado pela facção Bonde do Maluco (BDM), principal rival da Comando da Paz (CP), que tem como reduto o complexo do Nordeste de Amaralina. 

“Logo no início do caso, ele ainda estava trabalhando quando um grupo de bandidos da Fazenda Coutos foi até o Atakarejo de Amaralina e ameaçou invadir local atrás dele e atear fogo na loja. Depois disso, passaram a ameaça-lo através de ligações no celular dele, dizendo: ‘você vai morrer’. Não satisfeito, descobriram telefone da família dele, que mora no Nordeste, que passou também a ser ameaçada”, contou Bizerra. 

Depois, as ameaças passaram a ser de funcionários do Atakarejo de Amaralina, quando um vídeo que circulava nas redes sociais mostrava tio e sobrinho momentos antes de terem sido entregues a traficantes do Nordeste. “As mensagens diziam: ‘Não fale nada, senão vamos matar você’. Ele está com medo. Teme pela vida e pela vida dos parentes”, declarou Bizerra. 

Ainda segundo ele, o acusado é inocente. “Ele apenas cumpriu o que lhe foi determinado, que foi a condução de Bruno para a tal sala. Estamos tentando com a Justiça reverter a situação do mandando de prisão, que ele passe de acusado para testemunha no caso”, acrescentou. 

Sobre as investigações do caso Atakarejo, o CORREIO perguntou à Polícia Civil quantas pessoas estavam previstas para serem ouvidas nesta quinta, se os celulares corporativos dos funcionários já foram analisados, quantas pessoas acusadas de participação estão foragidas e qual o prazo para a conclusão do inquérito. Em nota, a polícia respondeu: “Todas as informações pertinentes já foram passadas. Mais detalhes sobre o caso não podem ser divulgados no momento, para não interferir no andamento da apuração. O prazo inicial da conclusão do inquérito policial é de 30 dias, mas pode ser solicitada ampliação desse prazo”. 

Manifestação Ainda na manhã desta quinta, um protesto foi realizado na Praça da Piedade, em frente ao prédio-sede da Polícia Civil. O ato foi organizado pela Coalizão Negra por Direitos que teve como um dos objetivos justiça pelas mortes de Bruno e Yan Barros e das vítimas do massacre da Favela do Jacarezinho (RJ).  Houve ato também no Atakarejo de Pernambués. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) “A nossa luta é contra o genocídio de povo negro, algo que vem perpetuando no Brasil, quando o gatilho é acionado pela polícia, facções e grupos de extermínios”, declarou Wagner Moreira da IDEAS -Assessoria Popular Organização da Sociedade Civil, uma das 30 organizações que participaram do ato. A ação é nacional e conta com mais de 300 entidades. 

A Defensoria Pública acompanhou o ato. “Estamos aqui para escutar essa manifestação, para que essas vozes sejam disseminadas. Estamos aqui para ser um megafone do ato”, disse a defensora pública Eva Rodrigues.