Agronegócio é, ao mesmo tempo, vilão e herói na história do aquecimento global

Tecnologias a favor do planeta estão em debate na segunda edição do Agenda Bahia

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  • Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2011 às 07:52

- Atualizado há um ano

Parece pouco, mas os efeitos foram devastadores. Nos últimos 140 anos, a temperatura média do planeta aumentou 0,76° C, de acordo com o mais recente estudo divulgado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), entidade que reúne cerca de 2.500 cientistas e técnicos de vários países. Os resultados dessa variação climática são impressionantes, com milhares de mortes causadas por inundações, secas, tempestades e ondas de calor, além da redução na oferta da água potável, elevação do nível dos oceanos e mudanças na produção dos alimentos. “Além dos componentes naturais, como erupções vulcânicas e as tempestades, o desmatamento acentuado e o uso desordenado da terra também são responsáveis por essas catástrofes e pelo aquecimento global”, explica Thelma Krug, pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e ex-secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.Custo

Segundo Luís Gilvan Meira Filho, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), para sair da “zona de risco”, o mundo teria de diminuir as emissões de gás carbônico dos atuais 7,5 bilhões de toneladas por ano para 2,2 bilhões de toneladas. Seguindo esse cálculo, o custo para fazer a redução – e dar mais tranquilidade ao planeta – seria de US$ 50 a US$ 60 por cada tonelada de CO2 retirada da atmosfera. “Não faltam conhecimentos científicos para resolver os problemas relacionados, o que falta é vontade política”, disse Thelma Krug, que construiu a sua carreira acadêmica nos Estados Unidos. Segundo a especialista, combater o aquecimento global requer “enormes investimentos, que também podem se constituir em oportunidades”, mas, de forma geral, “os governantes pensam apenas em custos”. “O fato é que precisamos de empresas que evitem desperdícios e sejam conscientes do ponto de vista socioambiental. Somente com a conjunção destes e outros fatores, como o uso da energia limpa, por exemplo, é que vamos melhorar a qualidade de vida”, diz. Na opinião da pesquisadora, o aumento da fiscalização e as campanhas educativas lançadas pelo governo e entidades não-governamentais têm dado resultados. “O Brasil assumiu muito mais compromissos de forma voluntária do que outros países em desenvolvimento ou desenvolvidos. Temos problemas, é claro, e o desmatamento está entre eles, mas o fato concreto é que há mais consciência por parte dos empresários e a população”, disse. De acordo com Osvaldo Soliano, professor da Unifacs e diretor do Centro Brasileiro de Energia e Mudança do Clima, o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis ampliam a concentração de gases na atmosfera, principalmente o CO2 e o metano. “A responsabilidade histórica pelo aquecimento global é dos países desenvolvidos, mas a sociedade precisa se conscientizar e fazer a sua parte”, disse. Para Thelma Krug, os países desenvolvidos têm que adotar outras providências: “Se isto não acontecer, vamos enfrentar e conviver ainda com mais catástrofes”. Dentro deste contexto, Osvaldo Soliano disse que a economia de baixo carbono, uma expressão que ganhou força na comunidade internacional nos últimos anos, deve ser incentivada. “As empresas precisam investir em inovação e apresentar soluções tecnológicas para frear o aquecimento global”, diz.Agronegócio

Assim como um jogador que faz um gol contra e, depois, garante o título para a sua equipe no último minuto da partida, o setor do agronegócio é, ao mesmo tempo, o vilão e o herói na história do aquecimento global. “O aumento da temperatura é provocado principalmente pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento”, disse o professor Osvaldo Soliano, da Unifacs. “Embora tenha melhorado muito nos últimos anos, o desmatamento é uma prática muito utilizada pelas pessoas envolvidas na cadeia do agronegócio”, afirmou. A pecuária tem grande parcela nessa cadeia (confira gráfico). O Brasil está em 4º lugar no ranking dos países que mais emitem gases de efeito estufa na atmosfera — os EUA e a China são, respectivamente, o primeiro e o segundo colocados. Luís Gilvan Meira Filho faz um alerta: “A longo prazo, o problema é muito mais sério porque envolve o aquecimento global e vai afetar a agricultura, etc. É preciso diminuir emissões de gás carbônico”.CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO AGENDA BAHIA DA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA 9h-10h: Crise Mundial e seus Efeitos nos Mercados Agrícolas e na Industrialização Alexandre Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados10h-10h20: Um Novo Olhar sobre o Cacau: Chocolate Ganha a França com Processos Inovadores Diego Badaró, sócio da Amma Chocolates10h40-11h20: Efeito China: Oportunidades e Ameaças  Luiz Augusto de Castro Neves, ex-embaixador do Brasil na China e no Japão11h20-12h30: Debate: Estratégias para Industrialização Vitoriosa Moderador: vice-presidente da Fieb, Vicente Mattos Debatedores: -Eduardo Salles, secretário estadual de Agricultura -Luiz Augusto Castro Neves -Diego Badaró -Pedro Tassi, presidente do Ciob14h-14h50: Bahia: Mudanças Climáticas na Pauta Internacional das Florestas  Antonio Sérgio Alípio, diretor-presidente da Veracel e presidente da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf )14h50-15h20: Economia Verde: Novas Maneiras de Fazer Negócio Claudio Langone, diretor da Paradigma e coordenador da Câmara Temática de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Copa de 2014 no Ministério dos Esportes15h20-15h40: Desenvolvimento Sustentável Empresarial e o Meio Ambiente Marcelo Vianna, vice-presidente da Câmara de Comércio Internacional e presidente da Comissão de Desenvolvimento Sustentável e Energia da CCI16h-17h30: Debate: Bahia + 20: Por Uma Agenda Sustentável Moderador: Sergio Costa, diretor de redação do CORREIO Debatedores: -Leonardo Genofre, gerente de Relações Corporativas da Fibria -Claudio Langone -Marcelo Vianna -Carolina Dubeux, pesquisadora do Centro Clima da Coope e doutora em Planejamento Energético e Ambiental.

*Especial para o CORREIO