Agropolo: Chapada alimenta o Nordeste do Brasil

Novas tecnologias permitem que área com baixo índice de chuva tenha produtividade compatível com a de lugares mais desenvolvidos do mundo

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 31 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

A inovação foi a saída encontrada pelos agricultores do Agropolo Mucugê-Ibicoara para transformar os 200 mil hectares de terra em que estão instalados em um dos mais produtivos do país. O baixo volume de chuvas e as condicionantes ambientais, por estarem ao lado do Parque Nacional da Chapada Diamantina, foram dificuldades superadas com investimentos em tecnologia, mas sobretudo com uma atuação sustentável. 

Cercado pelo bioma da caatinga, com baixo índice pluviométrico, emerge um oásis no centro da Bahia. Por lá se vê café, batata, tomates, morangos, mirtilos e uvas para a produção de vinhos. Tudo produzido com o que há de melhor em tecnologia e com padrões de qualidade e de produtividade compatíveis com as mais bem desenvolvidas lavouras do planeta. 

Lançando mão de um conceito darwiniano, o diretor-executivo do Agropolo, Evilásio Fraga, conta que houve um verdadeiro processo de seleção natural, não na fauna e na flora da região, mas entre os proprietários de terra. “Nós, produtores da Chapada Diamantina, entendemos que fomos desafiados a produzir alimentos para o Brasil e para o mundo com a responsabilidade social e ambiental que a sociedade tanto exige”.

A Chapada Diamantina tem grande parte de seu território caracterizado como caatinga. O Agropolo está em uma área que tem um microclima subtropical de altitude. A mais de mil metros acima do nível do mar, os produtores encontraram o solo ideal para a produção de culturas incomuns por aqui. “Este é um diferencial em relação ao resto da Bahia e ao resto do Nordeste”. 

Ao leste do polo idealizado para ser uma versão agrícola do Polo Industrial de Camaçari, estão o Parque Nacional e a Serra do Sincorá. Próximo dali estão ainda as nascentes dos  rios Paraguaçu e de Contas.  “O que hoje a gente olha como um projeto bem sucedido, dependeu de um processo de seleção natural”, conta Evilásio Fraga.

Muitos dos produtores que iniciaram o Agropolo deixaram a atividade. “O mercado age na atividade econômica como a natureza faz com os seres vivos. Só se perpetuam aqueles que se adaptam ao ambiente. No nosso caso, ao sistema produtivo”, destaca. 

Os produtores que tiveram perseverança, resiliência e que não desistiram com as dificuldades são os que conseguem colher os frutos após 30 anos. 

Inovação e tecnologia

A utilização de técnicas novas na agricultura sempre teve papel decisivo para o futuro da humanidade. Desde o uso de ferramentas mais rudimentares como a enxada, o arado a tração animal ou a clássica irrigação por alagamento, cujo mais expressivo exemplo é o Egito, novas técnicas ajudaram a fundar impérios. “A absorção de tecnologias que permitam o aumento da produção de alimentos é o que permite o aumento populacional”, destaca. 

Em um cenário onde a única certeza é a despesa, Evilásio Fraga destaca que o investimento constante em novas tecnologias é uma exigência para sobreviver. 

No início, a produção era de milho e café, mas hoje as lavouras dividem espaços com produtos de alto valor agregado.  “Já que a gente não tem uma área territorial extensa, como o Oeste, buscamos agregar valor à nossa produção, com produtos mais caros e verticalizando a produção”, diz.

Ele cita como exemplos as indústrias para o processamento de batatas, torrefação de café e o investimento na produção de vinhos. “Isso ocorre em todos os tamanhos de produtores, desde aqueles que possuem uma área maior, até entre os pequenos produtores”, diz. 

“Temos pequenos produtores de café que estão torrando o seu café, porque entenderam que esta é a maneira de agregar valor”, aponta. 

O resultado do trabalho é que atualmente 55% da batata consumida na região Nordeste brasileiro sai do Agropolo. Isso tudo em uma área correspondente a 5% da área de batata plantada no Brasil. 

 O I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade é uma realização do jornal CORREIO, Ibama e WWI, com o patrocínio da ABAPA, Fazenda Progresso e Suzano S.A, apoio da Fundação Baía Viva e apoio institucional da FIEB e FAEB/SENAR.

CAMINHOS A PERCORRER ATÉ A INOVAÇÃO

Para inovar e ser sustentável ao mesmo tempo é necessário construir  um ecossistema forte. Para o especialista em Desenvolvimento Industrial da Diretoria de Inovação da Confederação Nacional de Indústrias (CNI), Rafael Monaco, os caminhos para consolidar este processo passam por leis claras, desburocratização, infraestrutura e mão de obra qualificada.  Para Rafael Monaco, inovação precisa ser fruto do trabalho conjunto (Foto: Marina Silva/ CORREIO) “Inovação é um trabalho em conjunto: em conjunto com o setor privado, setor público com a academia e instituições de pesquisa. Essa é uma força tarefa que você precisa ter para construir um ecossistema forte”, afirma.

Experiência como drones nas lavouras, robôs que cuidam de hortas, maquinário autoprogramável e biotecnologia transformando produtos – como, por exemplo, um nugget com cheiro e sabor de frango sem, necessariamente, ser de frango - são mais que tendências, como acrescenta Monaco. “Todas as tecnologias contempladas pela indústria 4.0 podem ser aproveitadas para ganhos de competitividade diante deste mercado alinhado com a sustentabilidade”. 

A atitude sustentável precisa ser vista como um fator agregador. O conteúdo é uma das principais preocupações debatidas pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), coordenada pela CNI, que reúne universidades, governos e representantes das 300 maiores empresas do  país.

“A gente precisa ter as plantas de energia limpa e renovável, o que faz toda diferença para a produção, considerando o crescimento da nossa população e do mundo. Quanto mais sustentável a gente for, melhor para todo mundo e não só para o negócio, mas pensando também no futuro das próximas gerações", afirma Monaco.  "As empresas entenderam que  não dá para ser competitivo sem este investimento. Esta é uma agenda que deve se transformar em uma agenda de país“, complementa.